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A história por trás da lendária foto que John Lennon jamais viu publicada
Neste 8 de dezembro (sábado passado) completam-se 38 anos da imagem mais inesquecível de Yoko Ono e do líder dos Beatles, tirada poucas horas antes de seu assassinato
CARLOS MEGÍA/EL PAÍS
Madrid , Espanha– Todo 8 de dezembro marca um novo aniversário do assassinato de John Lennon, ocorrido na noite de uma segunda-feira de 1980, na entrada do edifício nova-iorquino Dakota, onde ele residia, e depois foi atingido quatro vezes pelo revólver de Mark David Chapman. Sua morte é um dos acontecimentos seminais do século XX, sobre o qual mais se escreveu a respeito e se especulou, mas esse 8 de dezembro também representa o aniversário de uma história menos conhecida do grande público: a de sua lendária foto posando nu com Yoko Ono, que ele jamais chegou a ver –
Annie Leibovitz, a fotógrafa mais bem paga do mundo, que trabalhou para revistas como Vogue e Vanity Fair, trabalhava para a Rolling Stone em 1980. A revista tinha lhe encomendado uma reportagem com o casal para ser a capa de sua nova edição, em função do lançamento do disco Double Fantasy. Apesar de no início a ideia fosse retratar o Beatle sozinho, Lennon pediu que Yoko posasse ao lado dele e Leibovitz foi com uma Polaroid a seu apartamento no edifício Dakota. “Eu tinha visto a capa na qual estavam se beijando. Fiquei muito comovido com esse beijo. Era muito mais do que uma simples foto de um beijo. Então, para a foto que queria tirar, imaginei-os juntos de alguma forma. E não foi difícil para mim imaginá-los sem roupa, porque tiravam sempre. Mas o que aconteceu foi que no último momento Yoko Ono não quis tirar a roupa. Então seguimos em frente com a foto e é uma imagem muito forte ver Yoko vestida junto a Lennon nu”, explicou a fotógrafa em uma conferência realizada durante o Festival de Cannes de 2013.
O casal cumprimentou Leibovitz pelo trabalho realizado e ficaram de se encontrar novamente para ver o resultado. “É assim, essa é nossa relação”, lembra que o intérprete de Imagine afirmou. Infelizmente a reunião não pode acontecer, já que horas depois Lennon foi assassinado. A imagem foi a capa do número especial de janeiro de 1981 da Rolling Stone em comemoração por sua morte, sem outros ‘adornos visuais’ além do título da revista. Em 2005, a Sociedade Americana de Editores de Revistas qualificou-a como a melhor capa dos últimos 40 anos. Muitos se referiram à imagem como uma profecia do terrível acontecimento que estava para acontecer, pela posição fetal de Lennon e a roupa preta (de luto) de Yoko. Uma imagem histórica que, assim como na música criada por Lennon, merece ser homenageada em todo 8 de dezembro.
Quando Lennon acreditou que era Jesus Cristo
J. ADOLFO IGLESIAS*/EL PAÍS
Há 50 anos, o músico parodiou o Santo Sudário durante viagem à Espanha
Almería (Espanha) -“Cristo você sabe que não é fácil, você sabe como pode ser difícil. Do jeito que as coisas estão indo, vão é me crucificar”, afirmava John Lennon em sua canção The Ballad of John and Yoko. Quase três anos antes, em 29 de julho de 1966, tinha começado sua “crucificação” pela imprensa dos Estados Unidos. A revista Datebook publicou uma chamativa manchete com a frase do Beatle: “Somos mais populares que Jesus”. A afirmação não era nova, fora tirada de um artigo mais extenso publicado em março na Inglaterra. John tinha declarado: “O Cristianismo vai acabar, vai diminuir e sumir. Hoje nós somos mais populares que Jesus. (…) Não sei o que vai acabar antes, se o rock and roll ou o cristianismo”.
O jovem músico metido a intelectual, diagnosticava à sua maneira a secularização da sociedade e o desinteresse dos jovens pela religião. Sua declaração passou despercebida na Inglaterra, mas nos Estados Unidos foi tomada como blasfêmia e causou grande polêmica logo antes da terceira turnê dos Beatles pelo país. Houve fogueiras públicas de discos dos Beatles em cidades do cinturão bíblico e os quatro músicos receberam ameaças de morte da Ku Klux Klan. A tensão dominou aqueles shows no mês de agosto e suas entrevistas coletivas deixaram de ser festivas e hilariantes para se transformar em autos inquisitoriais do roqueiro provocador, que teve de pedir desculpas. Ao final da turnê, os Beatles decidiram deixar os shows para sempre.
Sua comparação com Jesus estava lhe custando caro, mas poucas semanas depois, Lennon teria sua vingança em Almería, na Espanha. Ali chegou em 19 de setembro de 1966 para participar como ator no filme Como Ganhei a Guerra, produção pacifista de Richard Lester. Em sua bagagem infiltrou-se a polêmica. Não conseguiu escapar dela porque os jornalistas a recordavam em cada entrevista no set de filmagem. “Não sou um canalha (…) Não me lembrem mais disso”, respondia John à pergunta “Estava bêbado quando disse aquilo?”, feita por Diego Segura para a revista Fans.
Foi nesse contexto e no deserto almeriense que Lennon, com a chaga do orgulho aberta, pegou um pedaço de lona e começou a exorcizar seu tormento. Não queriam blasfêmia? Pois iam ter. John desenhou a si mesmo, com uma caricatura frontal, parodiando o Santo Sudário. O Beatle levava consigo esse retalho de menos de um metro de comprimento e deve tê-lo usado nas longas esperas entre as tomadas. Ao terminar a filmagem, deu-o de presente a Ron Lacey, um jovem ator britânico com quem compartilhou confidências e alguma tragada furtiva. “Adeus Ronnie”, escreveu em espanhol sobre o tecido. Anos depois, o ator (popular por seu papel de nazista com óculos lennonianos em Os Caçadores da Arca Perdida) deu o pedaço de lona a um companheiro de farra, que o guardou até hoje.

A casa de leilões Cooper Owen assegura sua autenticidade. Tentou vendê-lo há dois anos, sem sucesso. Para a empresa de memorabilia musical mais importante do mundo, o santo sudário de John Lennon é uma inestimável peça de arte conceitual. Custa acreditar que seja verídico um pedaço de lona cáqui rabiscado com frases e traços confusos. Mas é.
Lennon se retratou como um Jesus de barba, óculos redondos e coroa de espinhos. Parecido com os bonecos que desenhava para zombar de seus professores na escola. Acrescentou a expressão Santo Batman, referência herética a seu personagem, junto ao anagrama do homem morcego, em um de seus inconfundíveis jogos de significados. Logo abaixo desenhou dois punhos com as inscrições amor e ódio. No lado do mal, John esboçou um calvário com três cruzes e um encapuzado da Ku Klux Klan. No lado oposto, outra cruz com a coroa e o nome de Elvis, que ele endeusava e que lhe abriu os olhos para o rock em 1956.
O Santo Sudário de Lennon não é só uma brincadeira raivosa de cuja ousadia o músico estava consciente. Expressa como um diário íntimo seu estado de ânimo mutável ao longo de seis semanas em uma terra que tantas vezes fez o papel de Galileia no cinema. Lennon lamentou o tratamento recebido, como voltaria a fazer no single de 1969. Em suas anotações, John mostrava nostalgia e dúvidas sobre sua a: Óculos, esposa, filho, amor, maconha e, ao lado, o desenho de um gato. O rastro de Jesus acompanhou John até o final da vida em músicas, declarações, atitude política e até em seu aspecto físico. Com a paródia do sudário feita em Almería, o músico vilipendiado se identificou com ele, e também com sua morte ao acrescentar uma frase de Gripweed, seu personagem, pronunciada diante da câmera enquanto morria na ficção: “Sabia que isto ia acontecer”. Anos depois, em dezembro de 1980, o mundo se deu conta disso e, sem necessidade de manto algum, elevou John Lennon ao altar como o primeiro messias do rock.
‘STRAWBERRY FIELDS FOREVER’,
UMA CANÇÃO ESSENCIAL
A lona é parte do quebra-cabeças arqueológico musical de Strawberry Fields Forever, a canção que John compôs há 50 anos e motivo de celebração em Almería, de 7 a 9 de outubro, com música, bate-papos e uma homenagem ao professor Juan Carrión. Esse retalho joga luz sobre a origem desta obra-prima. A frase “Ninguém vive em minha lua. Talvez esteja muito alta ou muito baixa, não me importo”, é uma variação da letra final da canção, em que John mudou a lua da paisagem almeriense por uma árvore. O músico levava a lona consigo e ia acrescentando ideias com os mesmos marcadores que usou para corrigir as folhas de Carrión, e mostrando, como na canção, sua dor, dúvidas e até ressentimentos. Finalmente, surge uma esperança quando John vai a Santa Isabel no dia de seu aniversário e evoca, em Almería, o Strawberry Field de sua infância. Mas nessa altura, não o registrou em seu paródico sudário.
J. Adolfo Iglesias é jornalista e autor do livro Juan and John (Círculo Rojo). adolfoiglesias1966@gmail.com
‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ vive: a mítica odisseia dos Beatles volta 50 anos depois
O álbum, considerado o melhor disco da música pop, ganha uma edição
George Harrison, Ringo Starr, John Lennon e Paul McCartney (da esq. para a dir.) em Londres, em maio de 1967. JOHN DOWNING GETTY IMAGES
FERNANDO NAVARRO
Redactor de EL PAÍS
Há 50 anos, Sgt. Pepper’s se transformou na grande odisseia do pop, um disco que mudou para sempre o panorama da música. O grupo tinha deixado de fazer turnês porque estava cansado da histeria coletiva. Motivados pela excelência conseguida em Pet Sounds pelos Beach Boys – especialmente pelo gênio de Brian Wilson – os rapazes de Liverpool se trancaram por quatro meses no estúdio da Abbey Road para fazer experimentos até conseguirem ampliar todos os limites sonoros possíveis. A ideia foi de McCartney, verdadeiro motor diante dos desvarios de Lennon com as drogas. E se livraram da pressão criando o personagem que dá título à obra. O sargento Pimenta e sua banda permitiam que eles tivessem mais liberdade criativa, sem pensar que eram os Beatles.
Depois de revisar todas as fitas originais, Martin destaca a fé neles mesmos. Ressalta que é uma qualidade que o disco transmite e relembra uma conversa que teve com seu pai, falecido em março do ano passado, quando estava envolvido no projeto de remixagem em estéreo: “Um dia perguntei a ele se acreditava que tinha sido bom na música. Fechou os olhos, pensou e disse: ‘Não, fui brilhante’. Aquilo não era arrogância. Não combinava com meu pai. Simplesmente todos foram brilhantes. Tinham essa virtude de ir atrás de algo e consegui-lo. Esse disco é o melhor exemplo de sua fé”.
Com seu ambiente carnavalesco e alegórico, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é um trabalho transbordante de nuances: os efeitos sonoros, como o vozerio longínquo que abrem o álbum ou os galos de Good Morning, Good Morning, e jogos de vozes, como o glorioso enfrentamento entre Lennon e McCartney na radiante Getting Better, convivem com uma instrumentação pletórica, cujo clímax chega com A Day in the Life fechando o disco com uma orquestra de 40 músicos suspendendo um mi maior até a estratosfera. É o que Martin, antes de colocar todo o álbum em estéreo, destaca como “som expansivo”, que, sob o efeito místico do estúdio onde foi concebido, sonha como se os Beatles rodeassem o ouvinte por todos os lados. “Ao final, parece que está mais perto de sua música”, sugere. Uma música que, meio século depois, continua soando humanamente imbatível.
57 PERSONAGENS PARA UMA CAPA MÍTICA

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Bandrompeu várias convenções na música. Foi um dos primeiros álbuns de capa dupla, com as letras das músicas impressas, bolso interno decorado e capa desenhada por um artista famoso, Peter Blake.
Das 57 personalidades escolhidas pelos Beatles para a capa, hoje um mito, 18 eram atores e 15 escritores. Entre os primeiros, Marlon Brando, Fred Astaire, Marilyn Monroe e Tony Curtis; entre os segundos, Poe, Dylan Thomas, H. G. Wells, Oscar Wilde, Lewis Carroll e Joyce. Também aparecem Bob Dylan, Marx e Einstein. O quarteto aproveitou para colocar o jogador de futebol do Liverpool Albert Stubbins, mas nada comparado com o que fez George Harrison ao incluir quatro iogues indianos.
DANÇA, ARTE, POESIA E TEATRO EM LIVERPOOL
Liverpool, berço do quarteto legendário, se preparou para comemorar o cinquentenário do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band com um festival de arte, dança, música, poesia e teatro em que participam numerosos artistas internacionais.
O Sgt. Pepper at 50: Heading for Home empregou cada uma das 13 canções que compõem o álbum como trampolim criativo para desenvolver eventos beatlemaníacos que começam amanhã, 1º de junho, data dos 50 anos do lançamento do álbum no Reino Unido. Nos Estados Unidos, chegou às prateleiras no dia seguinte.
Os eventos acontecerão em diferentes lugares de Liverpool, como a Hope Street, a Tate Gallery, a St. George’s Hall e as duas catedrais.