

POLÍTICA
Réu preso por terrorismo diz que trabalhava como espião para a Abin
Preso em operação da PF que ligou 11 pessoas a ações terroristas no Brasil usa em sua defesa relatórios sobre muçulmanos e e-mails com alertas sobre possíveis extremistas; dados eram destinados à Agência Brasileira de Inteligência, que evita comentar caso

ARQUIVO 13/10/2018 INTERNACIONAL Welington Moreira de Carvalho FOTO ARQUIVO PESSOAL
Tulio Kruse/O Estado de S.Paulo
Único réu mantido em prisão preventiva após a Operação Átila, que resultou na acusação contra 11 pessoas de promover o terrorismo no Brasil, Welington Moreira de Carvalho diz em cartas e depoimentos às autoridades, em sua defesa, que era colaborador da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele mantinha relatórios em que descrevia atividades, reuniões e opiniões políticas de muçulmanos que frequentavam uma sala de oração no centro do Rio de Janeiro.
No dia de sua prisão, 8 de dezembro do ano passado, Welington enviou mensagens a um e-mail institucional da Abin pedindo ajuda. Também mandava informações a um homem identificado em seu depoimento como agente secreto brasileiro.

Em cartas à família e ao juiz federal Alderico Rocha Santos, da 5.ª Vara Federal de Goiânia, Welington diz que passou a colaborar com a Abin em 2014. Ele cita um encontro com dois agentes federais, no qual foram acertados pagamentos mensais por informações sobre a comunidade muçulmana no Rio. Por meio do acordo, ele viajaria duas vezes de Ubá, em Minas Gerais, onde morava, até o Rio de Janeiro. Essa colaboração com a Abin, segundo o réu, ocorreu de 2014 até maio de 2017. Em depoimento à Polícia Federal, Welington também disse que recebeu R$ 3 mil para abrir uma sala de oração no centro da capital fluminense.
“Eu fui fundamental para a segurança da Copa bem como também dos Jogos Olímpicos. Não sou muçulmano desde 2014, mas fingia ser para colaborar com a Abin”, escreve Welington numa das cartas ao juiz. Seu trabalho consistiria, de acordo com ele, em monitorar possíveis extremistas, especialmente estrangeiros, tanto na internet quanto entre quem frequentava a sala de oração no Rio.
Consultada, a Abin disse que não comentará o caso. A reportagem tentou localizar a pessoa identificada por Welington como seu contato na agência, por meio do mesmo e-mail ao qual o réu enviava informações, mas não obteve resposta. A Procuradoria Regional de Goiás (PRGO), que acusa Welington de promover terrorismo, disse que o procurador responsável pelo caso está de licença e não falará sobre o assunto.
A reportagem do Estado leu relatórios guardados por Welington com a descrição de reuniões na sala de oração. Os textos ficaram gravados na lixeira de um e-mail pessoal do réu. Esses relatos foram escritos entre agosto de 2015 e julho de 2016. Os relatos registram dia, horários, lugares e nomes de quem estava nas reuniões. Welington descreve a opinião política dos muçulmanos, incluindo rixas entre entidades de diferentes segmentos da religião – como xiitas, sunitas e sufistas. Telefones e endereços de e-mail dos envolvidos também são registrados.