Ivanilde de Nazaré Barroso de Oliveira, conhecida como Maria, que vive em situação de rua há mais de 40 anos em Mosqueiro, foi resgatada pela Prefeitura de Belém e encaminhada ao Hospital Geral de Mosqueiro para acompanhamento médico.
A ação foi feita por uma equipe do Consultório na Rua, vinculada à Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), que acolheu a senhora e a conduziu para o hospital, por apresentar saúde mental e física fragilizadas.
Para atender Maria, nesta segunda-feira, 25, a equipe do Consultório na Rua contou com a cooperação do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) e Centro de Atenção Psicossocial – CAPS I (Casa Saúde Mental de Mosqueiro), que há anos acompanham a rotina dela, seja por meio de tratamento clínico, seja para investigar sua origem familiar.
Segundo a coordenadora do Consultório na Rua, a psicóloga Rita Rodrigues, o caso da Maria é delicado. Acionado pelo Creas Marialva Casanova, em Mosqueiro, e pela agente distrital Vanessa Egla, o consultório passou a tratar a paciente desde o início deste mês de abril.
“Começamos o tratamento de Maria com muita conversa para ganhar a sua confiança, já que ela se recusava a ir para o hospital, depois fizemos a medicação para ela se organizar emocionalmente e mentalmente e hoje voltamos para resgatá-la”, explicou Rita.
Atenção primária – O Consultório na Rua desenvolve ações de atendimentos na atenção primária da saúde a pessoas em situação de rua e estão vinculadas ao Deas/Sesma, preconizadas no Sistema Único de Saúde (SUS).
O município de Belém possui três equipes do consultório com ações no centro da capital paraense. “Estamos avaliando a possibilidade do serviço se estender para Mosqueiro, considerando que a população de pessoas em situação de rua também vem crescendo aqui no distrito”, informou a psicóloga.
A dimensão do trabalho do consultório pode ser medida pelos números de atendimentos. Em Belém, 1.500 pessoas são atendidas pelas equipes do Consultório na Rua, com verificação de pressão arterial, testes rápidos de doenças sexualmente transmissíveis. Os casos mais graves são encaminhados aos hospitais de urgência e emergência.
Mosqueiro – Durante a pandemia muitas pessoas passaram a viver em situação de rua: são desempregados, flanelinhas e ambulantes que perderam a renda diária do aluguel e da alimentação. A coordenadora do Creas Marialva Casanova de Mosqueiro, Cláudia Cezar, comentou que esses grupos também estão migrando para ilha.
Ela contou que o papel do Creas é buscar a identificação dessas pessoas e monitorar o cumprimento do acesso delas aos serviços sociais, de saúde, de cidadania, de vínculo familiar e, na medida do possível, retirá-las das ruas.
No caso da Maria, foi o Creas que acionou a rede protetiva da Secretaria Municipal de Saúde. “Estamos investigando o caso da Maria, junto ao cartório de registros de nascimentos, Defensoria Pública do Estado e de pessoas, que conviveram com ela antes da doença”.
No momento, “sabemos que a Maria tem um filho, nascido em 1995, mas não tem contato com o rapaz e nem com a família que assumiu a criação dele”, completou ela, que trabalha com ajuda da educadora Rosalina Mouta na pesquisa de identificação familiar da Maria.
Transtornos mentais – O transtorno mental está associado diretamente a várias situações de perdas (luto), questões financeiras (desemprego), físicas e clínicas e genética.
Em Mosqueiro, a Casa Mental de Mosqueiro faz o atendimento. A demanda, disse a gerente do local, Neliza Trindade, é espontânea, ou seja, o paciente chega, faz seu registro e passa a ser acompanhado. Atualmente, 985 pessoas estão com cadastro ativo com consulta, uso de medicamentos e participação nas atividades físicas e de terapia ocupacional.
A casa existe desde 2002, com atendimento de psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, educador físico e técnico de enfermagem. Nesse período, o cadastro soma 2.637 pessoas.
Terapia – No Caps, os pacientes fazem terapia ocupacional com trabalhos manuais e de educação física. Na sala da enfermeira Beatriz Lima, um das pioneiras da instalação da Casa, os pacientes fazem trabalhos de tapeçaria, artigos em EVA e tecelagem. A maioria dos pacientes enfrenta as dores da depressão e o trabalho manual ajuda no controle do tempo e da ansiedade.
Dona Jorgina Silva, de 65 anos, é a paciente mais velha. Ela contou que ficou depressiva depois que o marido dela morreu. O mesmo caso de perda familiar levou a dona de casa Rosário das Graças, de 60 anos, ao tratamento para superar a depressão. “Eu perdi minha mãe há quatro anos e estou aqui, buscando tratamento”, contou.
Outros pacientes contam que a terapia ajuda. O morador do bairro do Aeroporto, Jorge Pereira, de 50 anos, faz artesanato com material reciclável. “É muito bom, tenho melhorado bastante com esse tratamento”. A dona de casa Adelaide Costa, 69, enfrenta a depressão há mais de dez anos. “Mas estou aqui, procurando melhorar e esse tratamento me ajuda muito”.
“Eu também gosto de estar aqui porque me ajuda a controlar minha doença”, disse Raimundo Ferreira do Rosário, de 56 anos, morador do bairro de Carananduba.
A orientação para quem apresenta sintomas de qualquer transtorno é busca ajuda. “Estamos de portas abertas todos os dias e ainda fazemos visitas nas casas de pacientes acamados e que não podem se locomover. Caso, você precise de ajude pode nos procurar”, enfatizou a gerente do Caps Mosqueiro, Neliza Trindade.
Serviço
Creas Marialva Casanova – Mosqueiro
Rua Comandante Ernesto Dias – Vila
Fone – 91 – 3771-5982
creasmosqueiro@gmail.com;
Caps Mosqueiro
Rua Francisco Xavier (6ª rua) – 1077 – Maracajá
Fone – 91 – 3771-5755
mentalmosqueiro@yahoo.com.brTexto: