ONU alerta que a Faixa de Gaza enfrenta risco crítico de fome, com consequências graves e duradouras para a população civil, especialmente crianças.
A crise humanitária na Faixa de Gaza tem se agravado de forma alarmante. Quase uma em cada três pessoas na região passa dias sem se alimentar, segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU. A situação levou à morte de pelo menos 154 pessoas por desnutrição desde outubro de 2023, entre elas, 89 crianças.
Apesar da negação oficial do governo de Israel sobre a existência de fome no território, o cenário observado por agências humanitárias internacionais indica o contrário. Crianças desmaiando nas ruas, hospitais lotados de pacientes com exaustão severa e mortes diárias por fome extrema fazem parte da nova rotina na região.
O que é “fome”, segundo os critérios internacionais?
A Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (CIF) é o padrão utilizado para avaliar a gravidade da insegurança alimentar. Ela define cinco estágios:
Fase 1 – Mínima: População tem acesso adequado a alimentos e nutrição.
Fase 2 – Estresse: Há pressão sobre os meios de subsistência; famílias já não conseguem satisfazer todas as necessidades básicas.
Fase 3 – Crise: Pessoas enfrentam lacunas graves no consumo de alimentos; aumento de desnutrição aguda.
Fase 4 – Emergência: Grande perda de meios de vida, desnutrição severa generalizada e mortes evitáveis começam a ocorrer.
Fase 5 – Fome (Catástrofe):
Pelo menos 20% das famílias enfrentam falta extrema de alimentos.
30% das crianças sofrem de desnutrição aguda grave.
A taxa de mortalidade atinge pelo menos dois adultos ou quatro crianças por 10 mil pessoas ao dia.
Segundo relatório da CIF publicado em maio, toda a população de Gaza já vive em situação de crise alimentar (Fase 3 ou superior), e cerca de 469 mil pessoas correm risco de atingir Fase 5 (fome) entre maio e setembro de 2025.
O que acontece com o corpo durante a fome?
A fome é o resultado de uma privação calórica extrema. Inicialmente, o corpo consome suas reservas de glicogênio; depois, passa a usar gordura e, por fim, massa muscular para obter energia. A perda dessas reservas compromete os órgãos vitais, causando:
Alucinações, ansiedade e depressão;
Redução do volume dos pulmões e do estômago;
Supressão do sistema imunológico;
Morte por complicações infecciosas, como pneumonia e diarreia.
Cada pessoa reage de forma diferente, mas crianças são especialmente vulneráveis.
Desnutrição infantil: consequências para toda a vida
A desnutrição na infância pode comprometer permanentemente o crescimento físico e o desenvolvimento mental. De acordo com a OMS, o chamado nanismo crescimento abaixo do normal para a idade está relacionado à alimentação inadequada, infecções recorrentes e falta de estímulos emocionais e cognitivos.
Além disso:
Crianças desnutridas têm maior risco de mortalidade infantil;
Mães malnutridas podem sofrer complicações graves na gestação e não produzir leite suficiente;
A infertilidade pode ser consequência da desnutrição extrema em meninas;
Há risco elevado de osteoporose precoce e dificuldades permanentes de aprendizado.
Como tratar a desnutrição?
Segundo especialistas, combater a crise exige dois passos principais:
1. Fornecimento imediato de alimentos com prioridade para crianças e mães;
2. Distribuição de alimentos terapêuticos altamente calóricos e balanceados para reverter quadros graves.
Em casos extremos, o tratamento exige suporte hospitalar com nutrição especial, medicação para infecções e acompanhamento clínico. Alimentar uma pessoa gravemente desnutrida com os alimentos errados ou de forma rápida demais pode ser fatal.
A amamentação é apontada como a forma mais segura de alimentação infantil, mas só é eficaz se a mãe também estiver nutrida. A logística de entrega de alimentos precisa garantir que esses grupos prioritários recebam o necessário.
Conclusão
A situação em Gaza revela uma crise ética e humanitária de grandes proporções. A ausência de acesso à alimentação básica direito humano fundamental ameaça toda uma geração. Especialistas alertam que a fome, se não contida, deixa marcas profundas e irreversíveis.
Enquanto a ONU ainda não declarou oficialmente o estágio de fome (Fase 5) na Faixa de Gaza, o alerta é claro: o tempo está se esgotando.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
Imagem: AFP