REFERÊNCIA NO MERCADO VER-O-PESO, EM BELÉM, CLOTILDE MELO DE SOUZA CONSTRUIU UMA TRAJETÓRIA MARCADA PELO CUIDADO, PELA TRADIÇÃO E PELO ACOLHIMENTO, TORNANDO-SE UMA DAS MAIORES REPRESENTANTES DA MEDICINA POPULAR AMAZÔNICA
Belém perdeu, ontem, terça-feira, 30, uma de suas figuras mais emblemáticas da cultura popular. Faleceu aos 73 anos Clotilde Melo de Souza, a Dona Coló, erveira mais conhecida do Mercado Ver-o-Peso e símbolo vivo dos saberes tradicionais da Amazônia. Reconhecida por gerações de clientes e admiradores, ela transformou o ofício herdado dos antepassados em um verdadeiro ato de cuidado e escuta.
Por décadas, Dona Coló manteve seu ponto no Ver-o-Peso como espaço de orientação, fé e acolhimento. Entre garrafadas, banhos de ervas, chás e rezas, ela atendia pessoas vindas de todas as partes do Pará e de outros estados, sempre com palavras de conforto e profundo conhecimento das plantas medicinais da região.
Mais do que comerciante, Dona Coló era considerada uma guardiã da tradição amazônica, responsável por preservar e transmitir saberes ancestrais ligados à cura natural, à espiritualidade e à relação respeitosa com a floresta. Seu trabalho ajudou a manter viva uma prática cultural fundamental para a identidade de Belém e do povo amazônico.
Ao longo da vida, tornou-se personagem constante em reportagens, documentários e estudos acadêmicos, sendo reconhecida como patrimônio imaterial da cidade, ainda que informalmente, pela população que a via como referência de sabedoria e humanidade.
A morte de Dona Coló gera comoção entre feirantes, clientes, pesquisadores e moradores da capital paraense. Nas redes sociais, mensagens de despedida destacam sua simplicidade, generosidade e a importância de seu legado para a cultura popular.
Com sua partida, o Ver-o-Peso perde uma de suas figuras mais autênticas. No entanto, o ensinamento deixado por Dona Coló — de respeito à natureza, cuidado com o próximo e valorização dos saberes tradicionais — permanece como herança viva da Amazônia.
Dona Coló deixa nove filhos, netos e uma geração inteira de admiradores. Ela será sepultada na tarde desta quarta-feira, 31, em um cemitério particular da Grande Belém.
Da Redação do Jornal A PROVÍNCIA DO PARÁ









