O butequinho de madeira com apenas dois banquinhos fincados no chão ficava em Itapuã. Numa das ruas que dá acesso à via que leva a Arembepe. Eu ocupava um dos bancos bebericando a cerveja bem gelada.
O estranho chegou devagar, mas parecia preocupado. Não dei muita atenção até ele dizer rindo:
_ Na tonga da milonga do cabureté.
Não falava comigo apesar de ser a única pessoa no bar.
Continuei a beber sem puxar assunto. Ele repetiu a frase, mas dessa vez olhava pra mim.
_ Na tonga da milonga do cabureté.
E emendou:
_ Foi a Gesse que me ensinou.
Pedi um copo vazio e enchi de cerveja. Sem nada perguntar, estiquei o braço segurando o copo na direção do homem.
Ele pegou o copo e deu um longo gole.
_ É nagô, disse.
_ Não sei onde deixei meu carro, mudou de assunto, revelando em seguida:
_ É um Jipe.
_ Significa o cabelo do cu.
Esvaziou o copo e foi embora sem agradecer.
Não parecia estar muito bêbado.
Demorei um pouco para descobrir que o cabelo do cu era a tradução de na tonga da milonga.
Texto: Raimundo Souza
*O autor é jornalista e escritor