quarta-feira, dezembro 17, 2025
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    Raio-X revela fios de ouro no joelho de idosa e acende alerta sobre terapias sem evidência científica

    Caso foi descrito em periódico médico e expõe os riscos de terapias alternativas que prometem aliviar dor, mas podem agravar doenças como a osteoartrite.

    Por Poliana Casemiro, g1

    Uma mulher de 65 anos buscou atendimento relatando dores fortes nos joelhos depois de um diagnóstico de osteoartrite. O médico pediu um raio-X para avaliar a região e levou um susto com a imagem: havia vários pontos brilhantes no tecido ao redor da articulação. Segundo o especialista, eram “fios de ouro” deixados por um tratamento alternativo ao qual ela havia recorrido (veja a imagem acima).

    O caso foi relatado no jornal New England Journal of Medicine, em que os autores fazem um alerta sobre a busca por terapias sem evidência científica — prática que pode piorar quadros como o da osteoartrite e atrasar tratamentos eficazes.

    Segundo o ortopedista, o corpo da paciente reagiu ao material, o que agravou ainda mais a dor. E não há forma segura de remover esses fios.

    É um corpo estranho dentro do organismo. Isso infelizmente não tem como ser removido. Como é um corpo estranho, pode gerar um quadro de infecção. A paciente foi atrás de um tratamento alternativo para uma doença que tem tratamento eficaz e arrumou um problema que vai acompanhá-la para o resto da vida.

    — Alexandre Pena, ortopedista da Beneficência Portuguesa

    O que aconteceu?

    A mulher havia recebido naquele ano um diagnóstico de osteoartrite e iniciado um tratamento com analgésicos e anti-inflamatórios para controlar a dor, sintoma da doença.

    ➡️ A osteoartrite é uma doença da cartilagem articular e faz parte das doenças degenerativas. Com o passar do tempo, a cartilagem — que recobre as articulações e permite movimentos sem atrito — perde espessura e função, de forma semelhante ao envelhecimento da pele.

    Na maioria dos casos, isso ocorre pelo desgaste natural da idade. Em outros, pode surgir após traumas, como fraturas que machucam a cartilagem.

    Os tratamentos variam conforme o estágio da doença e podem incluir fisioterapia fortalecimento muscular para proteger a articulação, ou, nos casos mais avançados, intervenções cirúrgicas.

    No entanto, no caso da idosa, ela decidiu recorrer a um procedimento apresentado como alternativo: sessões de acupuntura com ditas partículas de ouro.

    ➡️ Como isso é feito? Durante a terapia, pequenas partículas — ditas de ouro — são colocadas na ponta da agulha e acabam sendo inseridas no corpo. Há dezenas de posts em redes sociais oferecendo esse tipo de serviço como “tratamento para dor”.

    ➡️ Essas partículas não conseguem ser absorvidas pelo corpo e acabaram ficando acumuladas na região já doente e ampliando a dor.

    Os médicos decidiram relatar o caso como alerta sobre terapias que prometem resultados, mas não têm qualquer evidência científica.

    “Ela tinha um quadro de artrose de joelho, e essa doença tem diversos tratamentos, até cirúrgicos, com excelentes resultados. Não faz sentido buscar alternativas se existe um tratamento consagrado e eficaz. A paciente, infelizmente, foi enganada por quem fez a ela essa promessa e piorou o quadro”, explica Pena.

    Acupuntura funciona nesse caso?

    O ortopedista explica que há evidências de que a acupuntura pode ajudar como tratamento paliativo para dor, mas não é capaz de reverter quadros de osteoartrite — nem qualquer outra doença degenerativa.

    “A terapia trata localmente, mas não é capaz de fazer regenerar qualquer tecido ou de ajustar qualquer área com disfunções no corpo”, afirma.

    Pena alerta ainda para o apelo de terapias “alternativas”, principalmente nas redes sociais.

    “Provavelmente essa paciente não queria passar por uma cirurgia, mas não é porque ela não queria que uma coisa ‘alternativa’ iria funcionar. É preciso cuidado com buscar aquilo que a gente quer ouvir”, diz.

    O Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece a acupuntura como especialidade médica e orienta que os pacientes busquem profissionais capacitados para o procedimento.

     Foto: New England Journal of Medicine

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