Em 2000, quando eu trabalhei em Castanhal, sede da Superintendência Regional da Zona do Guamá (à época Zona do Salgado), recebi a nobre incumbência de fazer no auditório daquela regional, no dia 21 de julho daquele ano, a saudação de boas-vindas aos novos policiais civis – delegados, escrivães e investigadores – recém-empossados nos respectivos cargos e designados para atuar em delegacias instaladas em municípios que compunham aquela regional, e que ali estavam para receber as instruções e recomendações para o exercício de seus respectivos cargos.
Eis o conteúdo da saudação de boas-vindas que fiz aos novos policiais e recém-lotados para iniciar a carreira policial. Após a peculiar saudação, assim me manifestei:
Valiosos e valentes colegas, desejo boas-vindas e muita sorte na carreira que agora abraçais. Não sei se dou parabéns ou lamento vossa escolha. Mas, é certo que tendes, mesmo diminuta, alguma afinidade para com esta grandiosa e mirabolante profissão. Não creio que seja somente o interesse pelo emprego ou outro qualquer. A atividade policial antes de tudo é uma arte, porque seu exercício não se limita a fórmulas ou receitas imutáveis, mas de intensa e constante criatividade com dedicação e coragem.
Depende, portanto, de cada componente no exercício de seu nobre mister, diante do fato concreto que irá se deparar cotidianamente, a se tornar um artífice, um inovador em prol da segurança pública, enfim, um artista no melhor desempenho.
Não se aprende a fazer polícia, se aprende fazendo polícia. Logo é preciso muito cuidado para que o aprendizado não seja errado, equivocado, distorcido da realidade e dos propósitos legais e humanísticos.
A profissão é uma das mais perigosas, mas uma das mais importantes. Uma das mais censuradas, mas uma das mais invejadas. Uma das mais criticadas, mas uma das mais admiradas e elogiadas. Uma das mais sacrificadas, mas uma das mais gratificantes. Uma das mais incompreendidas, mas das mais respeitadas. Não tenhais vergonha de ser ou de desempenhar um papel coadjuvante na Polícia. Lembrai que uma orquestra, que tem o trompete, mas não parece completa sem a tuba. Tem o violino, mas estará incompleta sem o violoncelo. Que tem a flauta, mas precisa do oboé. Os instrumentos que parecem os menos expressivos, como os pratos e bombos, são aqueles indispensáveis na marcação, no ritmo, por conseguinte à perfeita condução de uma sinfonia. Destarte, sois todos importantes, e muito! Lembrai sempre disto, de vossas importâncias à instituição policial e, por conseguinte, à sociedade que mesmo tendo muitos que não valorizam o que é feito às vezes com sacrifício, recebe sem se importar, da necessária segurança. E é preciso que façais que essa importância seja sentida e disponibilizada. Muitos de vós estais aqui de passagem. Alçarão voo para outras paragens, sendo isto aqui apenas um ciclo, uma etapa. Mas, mesmo de passagem, sejais dignos, dedicados, agindo com sinceridade e amor para com esta atividade, dedicando parte do melhor de vós. Por mais rápida que seja a passagem por esta atividade sejais solícitos às pessoas que procuram a prestação deste serviço, a vossos colegas e para consigo mesmos. E ao saírem daqui, seja porque decidiram ingressar em outra atividade ou pela aposentadoria, façam-na com a sensação e a convicção do dever cumprido, e parafraseando o apóstolo Paulo dizer: – Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a dignidade. Sejam bem-vindos e sede felizes, com a ajuda de Deus. Assim seja!
Castanhal, 21 de julho de 2000
Por: Roberto Pimentel (pimentelrm@yahoo.com.br)
*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, especializado em meio ambiente, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ
