“Todo mundo nesta redação tá cansado de saber que “via de regra” é babaca”, gritou um dos redatores em tom de galhofa. Além de copidescar textos de pelo menos seis focas, ele também tentava salvar matérias de repórteres que nunca iriam apreender a escrever um texto claro, objetivo e criativo como é o sonho de todo editor.
Eu também editava e reescrevia dezenas dos textos que caíam em minhas mãos todas as noites. Tinha que produzir pelo menos cinco páginas diariamente. Geralmente, muito mais. Aborrecido, decidi dar minha contribuição ao coleguinha e falei: “e ‘por outro lado’ é no bumbum”.
Uma vez contei 15 “por outro lado” em um texto relativamente curto de um repórter veterano.
O “que” também era um problema. O festival de “que” na mesma frase ou período me azucrinava. Jogava dezenas de “ques” fora transformando frases extensas e de difícil compreensão em frases curtas. Enchia as lixeiras da redação de “ques” todas as noites. Quatro ou cinco palavras e um ponto. Técnica infalível para tornar o texto jornalístico mais claro e elegante, cumprindo seu papel de transmitir informações sem dar espaço ou deixar dúvidas na cabeça do leitor.
Me lembro perfeitamente o quanto era desgastante física e mentalmente traduzir textos mal escritos, muitos sem nexo. A quantidade de matérias de má qualidade produzidas diariamente naqueles tempos desesperava os profissionais sérios da área de edição.
A interferência de editores/redatores nos textos produzidos pelos repórteres locais era generalizada.
Em compensação, matérias produzidas por agências de notícias podiam ser publicadas quase que na íntegra.
Não entendia por que profissionais muitas vezes formados pela UFPA ou cursos de comunicação de faculdades particulares tinha tanta dificuldade em apurar e redigir.
Hoje, atribuo essas falhas todas à falta de leitura.
*O Autor é jornalista, integrante da equipe de articulistas de A PROVÍNCIA DO PARÁ e escreve todo sábado neste espaço
