No Pará, a cirurgia é realizada há mais de 10 anos, tanto pelo SUS como no segmento particular
Nesta terça-feira, 4, é o Dia Mundial de Combate ao Câncer. Entre os vários tipos da doença, o câncer cerebral causa grande apreensão por conta, pois, além de se localizar numa área delicada, ainda é muito letal, principalmente se for muito agressivo ou descoberto em estágio avançado.
Ao longo do tempo, contudo, surgiram vários tratamentos cirúrgicos que dão chance ao paciente de se livrar do tumor e com menos danos possíveis ao cérebro. Dentre esses tratamentos, há a awake surgery, como é chamada a técnica em que o paciente é mantido acordado e consciente, enquanto é submetido a uma cirurgia no cérebro. Apesar de não ser uma técnica nova (já é utilizada há cerca de 30 anos pela medicina), ainda pouco se fala sobre ela.
A metodologia é impressionante, não só pelo fato do paciente ficar acordado, mas também porque ele pode realizar algumas ações para orientar o médico durante o procedimento cirúrgico, como falar, ler, pintar, cantar, realizar cálculos e até mesmo tocar um instrumento.
Os gestos ajudam o médico a preservar a função da área do cérebro onde a doença está localizada. Por exemplo: se for em uma área ligada à função motora, o paciente realizará movimentos durante a cirurgia. A vantagem da awake surgery é que ela possibilita que haja menos danos às funções cerebrais, pois os médicos são guiados pelas reações do paciente durante a cirurgia.
O neurocirurgião José Cláudio M. Rodrigues, especialista em neurocirurgia oncológica, foi o primeiro médico a realizar esse tipo de cirurgia no Norte/Nordeste do país, há cerca de 10 anos. Ele conta que o paciente atendido era músico e que precisou tocar violão durante o procedimento.
“Quando a gente tocava em determinada área do cérebro dele, o paciente errava alguma nota, então, sabíamos que ali não poderíamos mexer.”, relembra.
Atualmente, ele realiza a cirurgia em diversos hospitais de Belém, inclusive pelo SUS. Ele assegura que a maioria dos pacientes são elegíveis para esse tipo de cirurgia.
“Antes do procedimento, nós conversamos com o paciente, explicamos como será a cirurgia, o acalmamos e, assim, é possível realizar a cirurgia, até porque ele não sentirá dor.”, destaca.
A preparação do paciente é da seguinte forma: ele é sedado e fica inconsciente. Neste momento, o neurocirurgião faz a abertura do crânio e em seguida, para realizar a cirurgia, acorda o paciente, e realiza os testes para saber quais as áreas mais sensíveis onde está localizado o tumor ou outra lesão.
É importante ressaltar que o paciente fica acordado mas não pode movimentar a cabeça, por isso, ela fica presa na mesa cirúrgica para evitar qualquer prejuízo à operação.
Vale destacar que, nesse tipo de cirurgia, o neurocirurgião e sua equipe precisarão contar ainda com a presença de outros especialistas, como um neurofisiologista para monitorar as funções cerebrais do paciente, e um neuropsicólogo que vai interagir com o paciente durante o procedimento.
Além disso, o anestesista tem papel crucial, por isso precisa ser muito bem treinado para agir com habilidade nas intervenções que sejam necessárias.
Por que o paciente não sente dor?
O neurocirurgião explica que, apesar do cérebro informar dor em outras partes do corpo, o tecido cerebral não possui receptores de dor. É por isso que, durante a cirurgia, o paciente pode sentir um pouco de pressão ou vibração, mas não dor.
A anestesia, no caso, é utilizada no músculo, pele e ossos, estruturas que são cortadas pelo neurocirurgião para poder realizar a cirurgia no cérebro.