A malformação arteriovenosa (MAV), no cérebro, é uma patologia delicada que pode provocar um AVC hemorrágico grave e outros danos neurológicos
Em 2024, o Dia Mundial das Doenças Raras será nesta quinta-feira, 29, data importante para lembrar que milhões de pessoas convivem com esse tipo de doença no mundo.
São cerca de 6 mil a 8 mil doenças raras registradas, segundo a European Medicines Agency (EMA). Entre elas, destaca-se a MAV, sigla para malformação arteriovenosa, doença grave que atinge principalmente o cérebro. São aproximadamente 150 mil casos ao ano no Brasil.
De acordo com o neurocirurgião Carlos Lisboa Neto, a MAV cerebral se caracteriza por uma rede de vasos malformados no interior do cérebro, que se assemelha a um novelo, só que de vasos sanguíneos, que podem se romper e gerar um AVC hemorrágico e outros problemas neurológicos.
Segundo o médico, que é especialista no tratamento de doenças vasculares do sistema nervoso central, a doença é congênita e está relacionada a fatores genéticos ainda pouco esclarecidos. Na maioria dos casos, é um mal silencioso que apresenta poucos sintomas. Contudo, a dor de cabeça intensa e demorada pode ser um dos sinais.
“De um modo geral, a doença se apresenta por meio de crise convulsiva ou hemorragia cerebral, mediante a sua ruptura, causando dor de cabeça súbita e intensa, tontura, alterações neurológicas, como perda de força e sensibilidade nos membros, alterações da fala, podendo levar ao coma e à morte.”, detalha o neurocirurgião.
Ele orienta que, no caso de qualquer sintoma neurológico persistente, é necessário procurar atendimento médico especializado para investigação e diagnóstico precoce. “É uma doença de alto risco! O seu diagnóstico é feito através de exames de imagem, como tomografia computadorizada, ressonância magnética e angiografia cerebral.”, explica.
Rafaelly descobriu a doença depois de ter enxaqueca e náuseas
Em 2020, quando tinha 34 anos, Rafaelly Cardoso estava em um passeio de férias com a família, quando sentiu uma forte enxaqueca e náuseas, a ponto de precisar de atendimento médico imediato.
Foi medicada, mas as dores sempre voltavam. Ficou nesse tormento por cerca de 30 dias. Começou a desconfiar que poderia ser algo mais delicado.
“Foi então que procurei um neurocirurgião. Fiz uma bateria de exames e fui diagnosticada com a MAV. Tive que me afastar do trabalho para iniciar os preparativos para o procedimento, visto que era considerado de risco.”, conta.
Rafaelly passou por uma embolização, procedimento realizado por via endovascular (cateterismo), que atua para reduzir o fluxo e fechar zonas de fragilidade, como aneurismas e conexões arteriovenosas diretas, chamadas de fístulas. O resultado foi positivo. “Hoje, estou bem e recuperada. Vivendo normalmente.”, comemora.
Tratamentos
Além da embolização, o tratamento pode ser feito por meio de cirurgia aberta, para ressecção da malformação, e por radiocirurgia, uma técnica de tratamento por radiação direcionada para a malformação.
Segundo o neurocirurgião Carlos Lisboa Neto, a indicação do tratamento baseia-se nas características da malformação, como tamanho, localização, drenagem venosa, sangramento prévio, presença de fístulas e aneurismas.
Ele observa que o objetivo do tratamento é a cura da doença, porém, há casos de MAVs volumosas e complexas que são desafiadores. Neste contexto, a prioridade é estabilizar a doença por meio do fechamento de zonas de maior risco de sangramento.
“A MAV cerebral é única e deve ser estudada através de exame de angiografia cerebral, no qual é feito um cateterismo dos vasos do pescoço para estudo da circulação cerebral. Objetiva-se identificar os vasos relacionados à malformação, assim como características de alto risco para ruptura. Isso permite o estabelecimento de uma programação de tratamento adequada a cada paciente.”, explica o neurocirurgião.
Quando a doença é considerada rara?
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma doença é considerada rara quando atinge 65 pessoas num universo de 100 mil indivíduos.
Apesar da raridade, é importante destacar essas doenças porque um grande número delas se apresentam de forma grave, levando a pessoa a ter uma vida com muitas limitações e até mesmo à morte.
Fotos divulgação da MAV no cérebro
Foto divulgação de Rafaelly Cardoso, diagnosticada com MAV em 2020
Foto divulgação: neurocirurgião Carlos Lisboa Neto