Na vila de Fernandes Belo, em Viseu (PA), vive Murtinha, parteira com mais de 2.500 partos em cinco décadas de atuação. Ao lado dela, Cheiro de Jirau (61 anos) e Barbatimão (56) estão entre as narradoras principais do estudo “Dom e experiência: o saber-fazer das parteiras”, realizado pelo pesquisador Neidivaldo Santana Cruz, do Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes da Amazônia da UFPA .
As parteiras amazônicas desempenham um papel essencial em comunidades isoladas, onde o parto domiciliar ainda é a norma. Os saberes são transmitidos por gerações e baseados na experiência prática com técnicas desenvolvidas em casas, redes e pisos de palha criados para acolher mulheres em trabalho de parto, independentemente das condições clínicas .
Em regiões de difícil acesso como áreas ribeirinhas e quilombolas o trabalho das parteiras se intensifica diante da baixa acessibilidade a hospitais, especialmente em períodos como a seca prolongada, que dificulta a locomoção fluvial . O estudo resgata também a força cultural dessas mulheres, muitas vezes marginalizadas pelas políticas públicas de saúde, mas fundamentais para a saúde coletiva .
O levantamento também reforça que os domínios culturais dessas parteiras incluindo ritos, escuta corporal e presença ritual são vistos não apenas como práticas tradicionais, mas como dispositivos de fortalecimento comunitário e cuidado humanizado, reconhecidos como “missões” passadas de mãe para filha.
Imagem: Ascom UFPA