Eleita para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, Míriam Leitão já construiu uma obra vasta, que vai muito além do jornalismo econômico. Com uma escrita acessível, crítica e sensível, ela aborda temas como democracia, memória, meio ambiente e identidade brasileira em livros que transitam entre o ensaio, a ficção histórica e a literatura infantil.
Entre os títulos mais marcantes, um deles merece atenção especial: Amazônia na Encruzilhada (2023). Nele, Míriam investiga os caminhos e riscos que cercam a maior floresta tropical do mundo. Com firmeza, ela denuncia o avanço do desmatamento, questiona o papel do agronegócio e aponta as escolhas políticas que ameaçam o futuro da região. O livro é um alerta urgente, mas também um convite à esperança, com propostas para um novo modelo de desenvolvimento. A obra rendeu à autora o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano em 2024.
Para quem vive na Amazônia, como nós, essa leitura ganha ainda mais força é uma forma de entender e defender o lugar que chamamos de lar.
Outros livros igualmente fundamentais mostram a versatilidade de Míriam como escritora. Em Saga Brasileira (2011), ela reconstrói os anos da hiperinflação e revela os bastidores do Plano Real com clareza e precisão histórica a obra lhe rendeu dois prêmios Jabuti. Já em História do Futuro (2015), ela propõe cenários possíveis para o país, explorando temas como tecnologia, economia e educação com base em dados, entrevistas e análise profunda.
A Verdade é Teimosa (2017) e A Democracia na Armadilha (2021) reúnem colunas jornalísticas escritas em períodos turbulentos da política brasileira. São livros que funcionam como registros de tempo, oferecendo uma leitura crítica sobre decisões que marcaram o país entre os governos Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Já Convém Sonhar (2010) propõe uma reflexão mais íntima e filosófica, evocando a ditadura e o exílio com olhar poético.
No campo da ficção, Míriam surpreende com Tempos Extremos (2014), romance que conecta a escravidão do século XIX à ditadura militar do século XX. A história acompanha Ana Terra, que tenta desvendar os segredos do passado de sua família. Em Refúgio no Sábado (2018), ela apresenta uma narrativa mais contemplativa sobre recomeço, isolamento e pertencimento no interior de Minas Gerais.
E na literatura infantil, Míriam mostra leveza e lirismo. Em A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos (2013), ela trata da destruição ambiental sob a ótica das aves, enquanto A Menina de Nome Enfeitado (2014) é uma homenagem ao poder das palavras e da linguagem. Já em Flávia e o Bolo de Chocolate (2015), temas como adoção e identidade racial são abordados com delicadeza, celebrando as múltiplas formas de família.
Cada um desses livros oferece uma janela para entender o Brasil suas dores, esperanças e contradições. Para leitores da Amazônia e de todo o país, mergulhar na obra de Míriam Leitão é também uma forma de pensar no futuro que queremos construir.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
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