quinta-feira, dezembro 12, 2024
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Projeto da Classe Hospitalar da Seduc usa letras de barcos da região amazônica como ferramenta de alfabetização

Para fortalecer o ensino-aprendizagem e melhorar os resultados na alfabetização de estudantes vítimas de escalpelamento (que têm o couro cabeludo arrancado bruscamente por eixo de embarcações), atendidas no Espaço Acolher, da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, em Belém, as professoras do programa de Atendimento Hospitalar e Domiciliar (AEHD) da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), fizeram dos letreiros coloridos dos barcos que navegam pelos rios da Amazônia uma ferramenta poderosa com o projeto “Navegando na Alfabetização com as Letras que Flutuam” que, por meio de atividades lúdicas e inclusivas, tem alcançado resultados expressivos no aprendizado da leitura e escrita das crianças dentro da Classe Hospitalar.

“A maioria das estudantes atendidas no Espaço Acolher é da região do Marajó. Por isso, para melhorar o aprendizado e criar identificação, idealizamos esse projeto onde a gente trabalha especificamente com a alfabetização das crianças. A gente usa as letras dos barcos, feitas pelos abridores de letra, e usamos para alfabetizar as crianças menores. E funciona porque elas sabem o nome do barco só de olhar para ele, e isso despertou em nós o interesse, porque quando a gente dava textos elas não conseguiam ler. Aí tivemos a ideia de usar essas letras dos abridores de letras dos barcos para alfabetizar. A gente notou que elas aprendem muito mais rápido”, explicou a professora da Classe Hospitalar, Denise Soares da Mota.

Na quarta-feira (11), as estudantes estaduais da Classe Hospilatar do Espaço Acolher participaram de uma oficina prática e criativa com a participação dos abridores de letras profissionais, Regiane Ferreira e José Augusto Amorim, do município de Ponta de Pedras. A iniciativa é realizada em parceria com o Instituto Letras que Flutuam. “O projeto ‘Navegando na Alfabetização com as Letras que Flutuam’ tem o objetivo de desenvolver o processo de alfabetização e letramento das meninas que ficam durante o período letivo aqui em internadas em tratamento. E essa oficina de hoje só vem fechar todas as atividades que nós já fizemos durante o primeiro semestre letivo com alfabetização porque, na verdade, elas são alfabetizadas utilizando essas letras de barco. Os resultados do projeto são notórios porque elas aprendem primeiro o nome, começam a escrever os nomes dos familiares, dos pais, das mães, dos irmãos, de todos os membros da família e depois as coisas do dia a dia, banho, rabeta, açaí, todas as coisas relacionadas à cultura delas e aí desenvolvem a alfabetização”, afirmou Gilda Saldanha, também professora da Classe Hospitalar.

A estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, Marcione Barbosa, frequenta a Classe Hospilatar. Vítima do acidente de escalpelamento por motor de embarcação aos 11 anos de idade, em São Sebastião da Boa Vista, no Marajó, ela conta que se sente representada com o projeto e fica feliz pela valorização da cultura. “Participo do projeto e me sinto muito feliz porque é algo que antigamente as pessoas não davam maior importância e hoje é algo que está sendo muito conhecido em todo lugar, e aqui está tendo esse reconhecimento das letras e é algo emocionante porque a gente vê a nossa cultura alcançando outros lugares, sinto orgulho. O que eu não sabia, eu aprendi aqui, então acho que a pessoa aprende muito e o ensino é excelente. Eu nunca vou desistir de estudar e aprender”, contou.

Para Sirlene Oliveira, coordenadora do Programa na Santa Casa, projetos como esses são fundamentais para o aprendizado e desenvolvimento dos estudantes. “A Seduc sempre marca a sua presença na educação, como um todo no ensino-aprendizagem e aqui na Santa Casa não seria diferente porque nós temos a Classe Hospitalar aqui e o Espaço Acolher que faz parte também com esse lindo projeto das letras que flutuam. E tudo isso aqui é de uma importância tão grande porque a maioria das crianças que recebe o Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar aqui dentro vêm de cidades onde essa linguagem, que é a escrita do barco, é muito forte, faz parte da identidade”, frisou.

Segundo a coordenadora do Espaço Acolher, Luzia Matos, além da educação, a iniciativa fortalece a cultura regional e é um diferencial na vida das pacientes. “Quando você desenha, você grava na sua mente que aquele é um ‘L’, por exemplo, e vai montando as suas palavras. E o projeto é muito importante porque é dessa forma que ele é trabalhando aqui, ele dá esse movimento do que significam as letras nos barcos do Pará e reforça também uma arte nossa, uma arte daqui, do Marajó, dessas pessoas que estão invisibilizadas, mas que trabalham tão bem. Eu também estou participando da oficina e adoro, sou uma amante das artes de uma maneira geral, em todas as suas linguagens, e tudo que é feito aqui junto com as meninas eu gosto de participar até por esse movimento de valorização do que elas estão fazendo”, comentou.

AEHD – O programa de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar (AEHD), da Coordenadoria de Educação Especial (COEES), funciona por meio de convênio de cooperação técnica entre a Seduc e os hospitais, e atende 250 estudantes por mês em todo o Estado. O número de atendimentos da Classe Hospitalar muda de acordo com o tratamento de cada paciente, que ao receber alta médica pode retornar à classe regular em sua cidade.

Atualmente, o programa é desenvolvido em nove espaços, sendo um de atendimento domiciliar – Abrigo João Paulo II, Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia (Hemopa), Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Viana (FHCGV), Hospital Oncológico Infantil Otávio Lobo (Hoiol), Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) e Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém, na região Oeste.

Na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, o Programa funciona nas enfermarias pediátricas Santa Ludovina e São Francisco; setor de Terapia Renal Substitutiva Pediátrica e Espaço Acolher, onde são atendidas especificamente vítimas de escalpelamento. Hoje, a Classe Hospitalar na Santa Casa atende 50 estudantes da rede estadual, incluindo 18 vítimas de escalpelamento no Espaço Acolher.

Fonte: Agência Pará/Foto: Eliseu Dias/Ascom Seduc

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