O empreendedorismo está deixando de ser apenas uma iniciativa econômica para se tornar uma força transformadora especialmente quando nasce da intersecção entre criatividade, impacto social e liderança feminina. Mulheres negras moldam o futuro com criatividade, coragem e propósito no Brasil, na África e no Pará. Mais do que abrir negócios, essas mulheres estão redesenhando a lógica do mercado, rompendo barreiras históricas e mostrando que é possível empreender com identidade, propósito e impacto social.
Segundo pesquisa do Sebrae (2021), 47% das mulheres empreendedoras no Brasil são negras. Apesar de representarem quase metade desse universo, ainda enfrentam uma série de desigualdades estruturais: a renda média mensal de uma empreendedora preta gira em torno de R$ 1.539, enquanto a mulher branca recebe, em média, R$ 2.035. A diferença revela um cenário onde a representatividade cresce, mas o apoio e os recursos ainda não são distribuídos de forma justa.
Criatividade e ancestralidade como diferencial competitivo
A conexão Brasil-África tem impulsionado uma nova onda de protagonismo liderada por mulheres negras em áreas como moda, gastronomia, tecnologia, turismo e economia criativa. A empresária nigeriana Deola Art Alade, fundadora da Livespot360, é um exemplo desse movimento. Ela lidera projetos internacionais como Real Housewives of Lagos e The Voice Nigeria, e destaca o papel do empreendedorismo criativo como uma ferramenta de transformação:
“Estamos construindo uma infraestrutura criativa que respeita nossa identidade e nos coloca na disputa global.”
Esse modelo de negócios, que une inovação, cultura e impacto social, tem conquistado terreno também na Amazônia. No Pará, mulheres negras empreendem com base em suas raízes afroamazônicas, criando produtos e serviços que dialogam com o território e com a ancestralidade. Iniciativas da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh) vêm apoiando esses projetos por meio de políticas públicas voltadas à capacitação, empregabilidade e valorização cultural.
Desafios persistem, mas o movimento segue forte
Empreender, para essas mulheres, é também um ato de resistência. Além das dificuldades comuns a qualquer empresária, elas enfrentam desafios extras como o racismo, a falta de apoio institucional e familiar, o preconceito e o limitado acesso ao crédito e à educação formal. Muitas também precisam conciliar o trabalho com as responsabilidades da maternidade e da vida doméstica, o que torna sua jornada ainda mais desafiadora.
Apesar disso, diversos projetos têm surgido para apoiar esse público. O Potências Negras, fundado por Ana Minuto, promove autoestima e empregabilidade para pessoas negras. Já a Feira Preta, idealizada por Adriana Barbosa, é um dos maiores eventos de fomento ao empreendedorismo negro na América Latina. A AfroBusiness, associação sem fins lucrativos, e o programa Sebrae Delas, que oferece qualificação e networking, também têm sido fundamentais nesse processo de fortalecimento.
Casos que inspiram
Ana Minuto e Adriana Barbosa são exemplos de que é possível vencer obstáculos e abrir caminhos para outras mulheres. Ana, que lidera treinamentos em grandes empresas, começou sem apoio e hoje inspira milhares. Adriana, que fundou o Preta Hub após viver a exclusão social, transformou sua dor em potência coletiva.
No Pará, dezenas de mulheres empreendedoras seguem esse mesmo caminho, usando o território, a floresta e suas histórias como fonte de inovação. Do afroturismo ao artesanato, da moda à gastronomia, elas seguem ampliando o espaço da mulher preta amazônida no mercado.
Um modelo que valoriza cultura e gera impacto
O empreendedorismo criativo liderado por mulheres negras vai muito além de um modelo de negócios: representa a valorização da cultura negra, a reconstrução de narrativas históricas e a geração de oportunidades econômicas sustentáveis. No Brasil e na África, o movimento cresce rapidamente, evidenciando que investir na diversidade é investir em inovação.
Deola reforça que “o setor criativo na África Subsaariana contribui com cerca de US$ 58 bilhões para o PIB, mas empresas lideradas por mulheres recebem menos de 7% do financiamento de capital de risco. Por isso, é fundamental construir plataformas que mudem essa narrativa e abram caminhos reais para que esses talentos prosperem globalmente.”
O protagonismo do empreendedorismo feminino paraense
Na Amazônia, o Pará tem se destacado com a força das mulheres negras empreendedoras que, apesar dos desafios, têm inovado em diferentes setores, do artesanato ao afroturismo, da moda à gastronomia. O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh), apoia esses projetos com políticas públicas focadas em empregabilidade, acesso à educação e fortalecimento da cultura local.
Mulheres paraenses têm usado suas raízes e a identidade afroamazônica como diferencial competitivo, criando negócios que promovem impacto social e valorizam a cultura regional. Essa forma de empreender fortalece não apenas a economia, mas também o protagonismo feminino, inspirando gerações e ampliando a visibilidade das mulheres negras no cenário nacional e internacional.
Um futuro de inovação com raízes profundas
O legado afro-brasileiro e africano é uma das maiores vantagens competitivas desses empreendimentos. Como diz Deola Alade:
“A chave é inovar olhando para o futuro, mas sem esquecer nossas raízes.”
A nova geração de mulheres negras empreendedoras demonstra que é possível unir ancestralidade, criatividade e estratégia para construir negócios sustentáveis e transformadores. Elas estão moldando o presente e o futuro com coragem, identidade e propósito e com isso, movimentam a economia e inspiram as próximas gerações.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
Imagem: Arte Redação