terça-feira, julho 29, 2025
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Vai limpar a casa? Nunca misture água sanitária e álcool; professores explicam por quê

A mistura indevida de produtos com ativos incompatíveis pode gerar reações químicas que formam gases tóxicos danosos e até letais. Conheça os cuidados para manipular os produtos com segurança.

Por Emily Santos, g1

No Brasil, é cultural: uma casa não está limpa se um único produto foi usado na limpeza. Mas, além de usar produtos diversos individualmente, os brasileiros tampém são adeptos das “misturinhas caseiras”.

Uma pesquisa de 2023 realizada pela Opinion Box a pedido da Flora, dona de marcas como Assim, Francis e Neutrox, revelou que pelo menos 10% dos brasileiros usam misturas caseiras de produtos durante a limpeza.

O hábito, no entanto, é perigoso e oferece riscos à saúde e à vida, já que muitos dos produtos de limpeza industrializados possuem ativos que são incompatíveis quando misturados.

O mau uso e a mistura indevida de produtos químicos podem resultar em gases tóxicos e mortais.

Na semana passada, um homem morreu após lavar o banheiro com água sanitária e o produto reagir com o vapor do ambiente, causando gases tóxicos. A vítima de Divinópolis, em Minas Gerais, tinha 31 anos.

Nesta série de reportagens, o g1 explica a química por trás dos produtos de limpeza e alerta sobre os riscos das misturas caseiras.

Água sanitária x álcool

A água sanitária é um dos produtos mais utilizados pelos brasileiros graças à sua versatilidade. A solução de hipoclorito de sódio (NaClO) pode ser utilizada em:

  • 👚 Roupas e tecidos: ação alvejante, removendo manchas e promovendo limpeza.
  • 🪣 Superfícies em geral: desinfetante que elimina germes, bactérias e vírus de superfícies, e cria uma barreira protetora contra os microrganismos.
  • 🍎 Frutas e legumes: ação desinfectante, que higieniza alimentos eliminando ou reduzindo a presença de bactérias, vírus, fungos.
  • 🚫 Combate à infestação de mosquitos: combate à início de infestação, eliminando e impedindo a proliferação das larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

A água sanitária tradicional é uma solução diluída de hipoclorito de sódio em água. Por sua vez, o hipoclorito de sódio é produzido a partir do gás cloro (Cl) e do hidróxido de sódio (NaOH).

Existe ainda uma versão sem cloro, que é publicizada como uma alternativa que não causa manchas nos tecidos. Neste caso, o produto não tem o hipoclorito de sódio como ativo. Em geral, o peróxido de hidrogênio (água oxigenada) é utilizado como alternativa para a promoçao da ação alvejante.

Ainda assim, a versão tradicional é mais utilizada, especialmente nas limpezas de ambiente e de superfícies em geral.

Mas, mesmo com toda essa versatilidade, o produto não deve ser misturado álcool etílico, outro curinga da limpeza, que limpa, desinfeta e perfuma.

Leandro Camacho, professor de química do Colégio Leonardo da Vinci, explica o motivo:

Ao misturar a água sanitária com o álcool que usamos em casa, pode-se formar ácido clorídrico (componente do áciodo muriático, que é um corrosivo) e clorofórmio, aquele produto muito mostrado nos filmes que faz as pessoas desmaiarem. Então, há o risco de desmaio, síncope e até de parada cardiorrespiratória.

— Leandro Camacho.

Durante um desmaio, a pessoa pode bater a cabeça, sofrer traumatismos e hemorragias. Sem um atendimento devido, há o risco de morte. Além disso, os gases causados pelas misturas podem causar internos, prejudicando o fígado e os rins.

Uso adequado

Michel Arthaud, que leciona química na Plataforma Professor Ferretto, reforça que cada produto industrializado vem com orientações de uso indicados pelo fabricante, e que devem ser seguidos à risca.

As indicações de uso estão ali por uma razão, e há motivos para que aquele seja o modo recomendado. Afinal, esses produtos possuem ativos que podem ser perigosos se não forem manipulados na maneira correta. Seguir o rótulo é uma precaução com a saúde.

— Michel Arthaud.

Por isso, ele recomenda:

  • Ler sempre o rótulo do produto
  • Utilizar o produto da maneira indicada pelo fabricante
  • Manter portas e janelas abertas durante o manuseio e uso dos produtos
  • Fazer o enxágue com água da maneira adequada quando recomendado
  • Utilizar luvas e máscaras quando indicado pelo fabricante
  • Em caso de tosse, coceira na pele, irritação na pele e nos olhos, suspenda o uso
  • Se os sintomas persistirem, procure um médico

O professor lembra ainda que outro cuidado muito ignorado é a quantidade indicada de cada produto.

“O fabricante indica a quantidade de água sanitária que deve ser utilizada na lavagem de roupas, que é diferente da medida usada para higienizar uma salada. Usar produto em excesso pode danificar o tecido ou comprometer o alimento”, completa.

No mais, os docentes dizem que os produtos podem, sim, ser usados durante a limpeza, mas separadamente.

Se for usar a água sanitária para uma limpeza profunda, dilua adequadamente na água e faça o enxágue. Depois disso, o álcool pode ser utilizado, desde que os resquícios do produto anterior tenha sido removido.

— Leandro Camacho.

 Foto: Walterson Rosa/CFQ

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