UMA EMBARCAÇÃO ELÉTRICA, QUE FAZ PARTE DO SISTEMA, DEVE SER USADA PELO GOVERNO DO PARÁ DURANTE A COP 30
Mais de 47 cientistas, pesquisadores e estudantes das faculdades de Engenharia Naval e de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Pará (UFPA) participaram de um projeto inovador que deu origem ao primeiro corredor verde de transporte da Amazônia. Iniciado em 2019, ele é composto de dois ônibus e uma embarcação elétricos, um aplicativo de geolocalização, painéis fotovoltaicos, estações de recarga e um software de gestão de infraestrutura.
Implantado em Belém, cidade que vai receber a COP 30 em novembro, o sistema já foi tema de cinco teses de doutorado, dez dissertações de mestrado e 14 trabalhos de conclusão de graduação, além de ter sido publicado em 18 artigos de congressos e seminários nacionais e internacionais e em dez textos de revistas especializadas.
Financiado pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Sima – Sistema Inteligente Multimodal da Amazônia – nasceu da observação do território onde ele seria implantado. Um dos produtos dele, o catamarã Poraquê, deve ser, inclusive, utilizado pelo Governo do Pará, durante a conferência, para transporte de participantes.
O CORREDOR
No sistema, um ônibus elétrico faz o trajeto entre os campi da UFPA Castanhal e Belém. Antes, os 75 quilômetros eram percorridos em um modelo convencional, movido a diesel. Outro coletivo faz o transporte dos estudantes dentro da cidade universitária, assim como a embarcação, que tem capacidade para 23 passageiros e dois tripulantes. Ambos os modais utilizam energia solar e baterias de armazenamento para se locomover.
O barco foi projetado para navegar por 750 metros do Rio Guamá, em um trajeto com três paradas: no edifício Mirante do Rio, nos restaurantes universitários e no setor de saúde da UFPA. A travessia dura 15 minutos e, ao final do dia, o barco pode percorrer até 40km, a uma velocidade média de 13km/h.
Um aplicativo de geolocalização, que recebeu o nome de Norte Rotas, foi disponibilizado aos funcionários e estudantes da universidade para que planejassem suas viagens. Além disso, um software foi desenvolvido para armazenar e processar dados em nuvem, via plataforma Dojot, integrando diferentes tecnologias para gestão dos dados de infraestrutura.
O projeto contemplou ainda a implantação de um sistema fotovoltaico no edifício Mirante do Rio, também dentro do campus, que possui 64 salas e tem capacidade para atender mais de 2500 alunos dos cursos de graduação simultaneamente. O sistema supre a demanda de energia do prédio em um modelo “Zero Energy”, ou seja, que consome a mesma energia que consegue produzir ao longo de um ano.
O Sima tem capacidade para atender até duas mil pessoas por dia. Enquanto o uso dos ônibus elétricos tem potencial para evitar a emissão de até 61 toneladas de CO₂ por ano, no caso da embarcação, esse número pode chegar a 100 toneladas de CO₂ no mesmo período. Com isso, o sistema tem potencial de evitar a emissão de até 161 toneladas de gases causadores do efeito estufa, o equivalente ao emitido por 30 carros populares em 12 meses.
“Para a Universidade Federal do Pará, para a cidade de Belém e para o estado do Pará, foram muitos ganhos. Principalmente, com relação a ter criado o primeiro corredor verde de transporte de toda a região Norte. Nós, do Centro de Excelência e Eficiência Energética da Amazônia, precisávamos formar recursos humanos, tanto na área de energias renováveis, quanto na área de mobilidade elétrica. A produção foi muito grande, não só em termos de artigos e dissertações publicados, como também o registro de softwares e patentes”, analisa a professora Maria Emília Tostes, da UFPA.
Para além do legado científico, o Sima promove a descarbonização dos meios de transporte na Amazônia ao substituir os combustíveis fósseis por uma fonte de energia limpa e renovável. “Ao financiar o projeto, fomentamos o desenvolvimento científico na região e colocamos à disposição de toda a população alternativas de eficiência e gestão energética. Além disso, esse trabalho que tanto nos orgulha, conversa diretamente com os objetivos da COP 30”, avalia Andréia Antloga, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Norte Energia.

O CATAMARÃ PORAQUÊ
Um dos destaques do projeto, o catamarã Poraquê – batizado em alusão ao peixe elétrico da Amazônia – utiliza dois motores elétricos de 12 KW cada, que correspondem a um motor a combustão de 20hp, três conjuntos de baterias com capacidade para armazenar 47 kW e 22 placas fotovoltaicas instaladas na cobertura. O catamarã tem 12 metros de comprimento, seis metros de largura e 72 centímetros de calado – parte que fica na linha d’água. A autonomia chega a oito horas. Um posto de recarga foi instalado no píer do campus, utilizando a energia elétrica produzida pelos painéis instalados na universidade.
O projeto estrutural do casco, em alumínio naval, precisou considerar o peso adicional do sistema de baterias e motores elétricos, além de sua aplicabilidade nos rios amazônicos. Isso porque o barco pesa sete toneladas, sendo uma tonelada somente de baterias.
“Este barco é o resultado de uma parceria da UFPA com a Norte Energia, e para nós, enquanto universidade, ele é também um laboratório, já que é o primeiro barco elétrico do nosso estado. Para uma instituição que produz ciência, com a UFPA, esses equipamentos são uma conquista para a sociedade. Nossa expectativa é que esse projeto estimule o desenvolvimento de novos veículos, e que, em pouco tempo, de 10% a 20% dos barcos da nossa região passem a ser movidos por energia limpa”, afirma o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva.
Responsável por liderar o projeto pela instituição, o professor Emannuel Loureiro, pesquisador e Diretor da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA, ressalta os desafios de construir o Poraquê. “O maior desafio foi encontrar tecnologias disponíveis no mercado que conversassem entre si e atendessem a algumas premissas, como o peso da embarcação, autonomia, velocidade e capacidade de transporte. O barco conta também com centro de comando para o gerenciamento da energia fornecida pelas baterias e pelo sistema fotovoltaico aos motores elétricos, conforme a potência demandada para a locomoção da embarcação”, explica.
Além dos benefícios ao meio ambiente, o sistema traz mais conforto aos usuários já que os veículos são mais silenciosos, têm menos vibração e não provocam cheiro de fumaça.
Por Jessica Santana/Imagens: Divulgação
