terça-feira, julho 29, 2025
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Abscesso cerebral: entenda a condição que levou à morte da atriz mirim Millena Brandão

Infecção grave no cérebro pode se formar a partir de problemas comuns em crianças, como sinusite e mastoidites mal resolvidas, explicam especialistas entrevistados pelo g1.

Por Nayara Fernandes

Dois meses após a morte da atriz mirim Millena Brandão, de 11 anos, um laudo pericial revelou a causa: um abscesso cerebral, infecção grave no cérebro que pode se formar a partir de problemas comuns em crianças, como sinusite e mastoidites (inflamação do osso localizado atrás da orelha).

Médicos ouvidos pelo g1 explicam como esse tipo de infecção acontece, por que é tão perigosa e quais sinais merecem atenção.

O que é um abscesso cerebral?

“É uma infecção causada por bactérias ou fungos que, por uma falha no sistema de defesa do organismo, conseguem entrar no tecido cerebral e se proliferar ali”, explica Lorenza Pereira, neurocirurgiã especializada pelo Instituto Sírio Libanês.

Segundo ela, o abscesso passa por fases de desenvolvimento: pode começar com uma inflamação (chamada cerebrite), ou evoluir até formar nódulos de pus que “têm o mesmo comportamento de um tumor cerebral maligno.”

O risco aumenta porque, ao crescer, o abscesso comprime estruturas do cérebro e pode causar sintomas graves ou mesmo a morte.

Como a infecção chega ao cérebro?

O documento da perícia da Polícia Técnico-Científica a que o g1 teve acesso não esclarece, no entanto, o que causou o abscesso cerebral em Millena.

De acordo com a neurocirurgiã Lorenza Pereira, existem quatro formas mais comuns de uma infecção chegar ao cérebro.

  • Má formação cardíaca, que permite que fungos e bactérias cheguem ao cérebro através da corrente sanguínea;
  • cirurgias no crânio, em que há risco de contaminação pela ferida;
  • baixa imunidade;
  • ou por contiguidade, quando há uma infecção em região próxima ao cérebro, como é o caso de sinusites e mastoidites mal resolvidas, mais comuns em crianças e adolescentes.

Quais os sintomas e como é feito o diagnóstico?

Os sintomas mais comuns podem variar de dores de cabeça a crises convulsivas, explica Lorenza. Entre os sinais de alerta estão: sonolência, vômitos em jato, febre e confusão mental.

“O diagnóstico é feito por meio de tomografia computadorizada e exames de sangue para mostrar que a criança está com infecção.”

À época, Millena sentiu fortes dores de cabeça e passou por três unidades médicas em São Paulo, onde teve 13 paradas cardíacas. Depois, teve a morte cerebral confirmada.

“Pela imagem da tomografia, sugere mesmo uma infecção que tenha vindo por continuidade”, avalia Lorenza. “Infelizmente, no nosso sistema público de saúde, tomografia não é disponível em todos os hospitais.”

Segundo o relato da mãe da atriz mirim, Millena foi transferida da UPA Maria Antonieta para o Hospital Geral do Grajaú, onde foi submetida a uma tomografia que identificou uma massa de cinco centímetros no cérebro.

A tomografia e a ressonância magnética são os exames mais usados, mas em muitos casos só a cirurgia confirma o diagnóstico, e precisa ser feita com urgência para aliviar a pressão no cérebro.

“Lembrando que infecção não se cura com cirurgia. A cirurgia é para aliviar o cérebro da compressão que o abscesso está provocando. Após a cirurgia, o paciente deve ser submetido a antibióticos intravenosos múltiplos por um longo período, e ainda assim há risco de óbito ou de sequelas importantes.”

O papel da sinusite e mastoidites

Richard Voegels, diretor de rinologia do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo e presidente da Fundação Otorrinolaringologia, explicou, em entrevista ao g1, como infecções como sinusites frontais ou etmoidais (localizadas entre os olhos e atrás da testa) podem levar a um abscesso cerebral.

“Essas cavidades ficam muito próximas dos olhos e, obviamente, do cérebro. Então, quando existe uma sinusite bacteriana, o catarro parado infecta com as bactérias do nariz”, afirma.

Na grande maioria dos casos, a infecção fica restrita aos seios nasais. No entanto, o médico alerta que “há o risco de uma infecção no etmoide (cavidade entre os olhos) afetar os olhos ou o cérebro por disseminação retrógrada.”

Já no caso da mastoidite — inflamação do osso localizado atrás da orelha —, o caminho da infecção até o cérebro costuma ser mais direto.

“Há pacientes que têm o osso muito delgado, ou nem têm o osso que separa a mastoide da meninge do cérebro”, diz Voegels. Nesses casos, a infecção chega ao cérebro por disseminação direta, sem barreiras de proteção eficazes.

Tanto na sinusite quanto na mastoidite, o alerta é o mesmo: quando não tratadas corretamente, essas infecções podem ultrapassar os limites do rosto e atingir o sistema nervoso central, exigindo intervenções urgentes para salvar a vida do paciente.

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