Segundo Talíria Petrone (PSOL/RJ), a decisão foi tomada sem aviso prévio, apesar de ameaças sob investigação, e ocorreu após a parlamentar intensificar críticas ao presidente da Câmara no plenário.
Por Andréia Sadi, Micaela Santos
A líder do PSOL na Câmara, deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), teve a escolta da Polícia Legislativa Federal retirada por decisão do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), em um episódio que a parlamentar classifica como retaliação política.
A medida foi adotada sem aviso prévio, apesar de ameaças de morte contra a deputada seguirem sob investigação e de inquéritos ainda abertos na Polícia Federal e na Polícia Civil.
Segundo Talíria, não houve comunicação direta do presidente da Câmara nem apresentação de informações que indicassem o fim das ameaças que motivaram a concessão da proteção.
A retirada da escolta ocorreu após a deputada intensificar críticas à condução de Motta no plenário e atuar, como líder de bancada, contra pautas defendidas pelo presidente da Câmara.
Talíria foi uma das articuladoras para evitar a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), votada em plenário, e também se posicionou contra o projeto de lei que reduz as penas de condenados por atos golpistas, conhecido como PL da Dosimetria, aprovado pela Casa.
Procurada pelo g1, a assessoria do presidente da Câmara, Hugo Motta, informou que a decisão foi baseada em parecer técnico, que está em contato com a deputada e afirmou que o tema será reavaliado. Veja íntegra da nota no final da reportagem.
‘Soa como retaliação’
Para a parlamentar, o fim da escolta, ocorrido no dia seguinte a um discurso crítico feito por ela no plenário, configura retaliação política.
“Eu gostaria de dizer que não, mas, para mim, isso soa como retaliação. Minha opinião política não pode ser motivo para a minha desproteção. Eu espero verdadeiramente que isso seja revertido.”
Sem a proteção oficial, Talíria precisou contratar, com recursos próprios, uma escolta privada para retornar ao Rio de Janeiro e participar de um ato político-cultural convocado para denunciar medidas que ela classifica como ataques ao Congresso e à democracia.

Segundo a deputada, a decisão subestimou os riscos à sua integridade física e à de seus dois filhos.
Talíria afirma que foi informada de que a suspensão da escolta se baseou em um documento que apontaria supostos problemas de conduta pessoal.
“Alegaram que eu usei Uber, frequentei lugares com aglomeração, fui ao samba e saí de madrugada. Dizem que isso coloca minha vida em risco. É uma justificativa absurda”, disse. “Tenho escolta há sete anos e meio. Eventualmente faço coisas comuns da vida cotidiana. Isso faz parte da minha humanidade.”
Para ela, há contradição na justificativa apresentada. “Ao mesmo tempo em que dizem que meu comportamento representa risco, afirmam que não há mais necessidade de escolta”, afirmou.
A parlamentar diz que a decisão teria se apoiado em uma resposta da Polícia Federal indicando que o principal suspeito de ameaças, conhecido como “Macaquinho”, está preso e que não haveria novos elementos novos.
O histórico de ameaças contra Talíria remonta ao primeiro ano de seu mandato. Em 2020, após denúncias feitas ao Disque-Denúncia indicarem que grupos milicianos planejavam sua execução, foi aberto um inquérito, e a deputada precisou deixar o Rio de Janeiro com os filhos.
“Quando surgiram essas denúncias relacionadas à milícia, fui orientada a sair do Rio de Janeiro e fiquei cerca de um ano em Brasília”, disse. “Eu estava com minha filha com menos de três meses de idade, em plena pandemia, amamentando e em licença-maternidade.”
Desde então, segundo ela, as ameaças se intensificaram, incluindo ataques racistas, misoginia política e ameaças virtuais recorrentes, muitas delas com referências à rotina da parlamentar e de seus filhos.
Talíria também questiona por que outras autoridades continuam com escolta em situações semelhantes. “Qual critério foi utilizado para retirar a minha proteção, com inquérito de ameaça pela milícia em aberto, e manter a proteção de outras pessoas, como Nikolas Ferreira e Rosângela Moro?”
Posicionamentos
De acordo com a parlamentar, o presidente da Câmara entrou em contato na tarde deste sábado (13), após a suspensão já ter sido adotada.
“Eu disse: presidente, sou líder de bancada, convivemos quase diariamente, e tenho escolta há sete anos e meio. Vou pousar no Rio de Janeiro sem proteção. Isso é muito grave”, afirmou a deputada.
Segundo ela, Motta negou explicitamente que a medida seja uma retaliação e afirmou que conversaria com a polícia, mas não se comprometeu a reverter a medida.
O que diz a decisão
A retirada da escolta da deputada Talíria Petrone foi formalizada por meio de um despacho assinado na última segubda-feira (8) por Hugo Motta, que determinou a suspensão do serviço de proteção concedido anteriormente à parlamentar.
No documento, a Presidência da Casa afirma que a decisão tem como base o Ato da Mesa nº 213/2025, que previa um prazo para a escolta, com término estimado em 10 de dezembro de 2025, e estabelecia que a proteção só deveria ser mantida se os motivos que a justificaram continuassem válidos.
Segundo o despacho, análises técnicas e informações repassadas pela Polícia Federal no Rio de Janeiro e pelo Ministério Público estadual indicaram a “insubsistência dos motivos que justificaram a concessão da proteção pessoal”.
Com isso, o texto determina que “o serviço de escolta concedido à Deputada Talíria Petrone está suspenso, a partir de 11/12/2025”.
O documento ressalta, no entanto, que a medida não é definitiva. De acordo com o despacho, há a possibilidade de uma nova autorização de escolta, desde que sejam cumpridos os “procedimentos e requisitos previstos”.
O que diz Hugo Motta
“O presidente Hugo está em contato com a deputada Taliria e acompanha a situação. A decisão foi baseada em parecer técnico do DEPOL, anterior a outras deliberações. Diante do pedido de reconsideração, o tema será reavaliado, à luz dos precedentes da Câmara, que preza, acima de tudo, pela segurança de seus parlamentares”, afirmou a assessoria de imprensa do presidente da Câmara.
Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados











