Produzido na Bahia, o grão orgânico da Fazenda Aranquan abasteceu o menor país do mundo e chegou à xícara do Papa Francisco
A história do café é cheia de giros surpreendentes. Da Etiópia às arábias, da suspeita à consagração, a bebida que hoje movimenta milhões de xícaras pelo planeta já foi chamada de “elixir satânico”. E foi justamente o papa Clemente VIII quem ajudou a mudar essa imagem, ainda no século 17, quando provou o café pela primeira vez e declarou: “É bom demais para deixar só com os infiéis. Vamos batizá-lo!”.
A partir dali, o café ganhou não só o coração da Europa, mas também um espaço especial dentro dos muros do Vaticano. Papas, cardeais e bispos tornaram-se amantes do espresso João Paulo II, inclusive, fazia questão de uma xícara antes de suas longas jornadas de fé. O café, ali, virou gesto de hospitalidade, pausa estratégica e símbolo de sofisticação.
Sabor do Brasil nas mãos do Papa
O que poucos sabem é que, a partir de 2009, foi um café brasileiro que passou a abastecer as máquinas e prateleiras do Vaticano: direto da Fazenda Aranquan, localizada em Ibicoara, na Chapada Diamantina (Bahia). Orgânico e biodinâmico exigência do Vaticano o grão da Aranquan venceu uma concorrência internacional e foi o escolhido para adoçar o cotidiano da Santa Sé até 2013.
Não demorou para que ganhasse o apelido carinhoso de “Santo Café”, um trocadilho com o local de embarque pelo Porto de Santos e sua chegada ao território mais sagrado do catolicismo. O aroma baiano tomou os corredores do Vaticano e foi servido até ao papa Francisco, assim que assumiu o pontificado.
A mente por trás da torra perfeita
Por trás desse sucesso está o engenheiro civil e mestre em sustentabilidade Caio Tucunduva. Apaixonado por hospitalidade e pelo universo do café, ele iniciou sua trajetória com cursos no Senac, se tornando barista, degustador, classificador e mestre de torra.
Com passagens pela Austrália e um repertório técnico afiado, Caio desenvolveu métodos próprios, como a blendagem de café verde e a maturação de grãos em madeiras e destilados. Hoje, com a marca Latitude 13, leva o café da Aranquan para países como Dinamarca provando que café especial brasileiro tem sim lugar de destaque no mercado internacional.
De bebida proibida a símbolo de fé e sofisticação
A jornada do café da condenação ao reconhecimento papal é mais do que histórica: é poética. E quando esse café tem sotaque brasileiro, raízes na Bahia e um aroma que agrada até o Vaticano, ele vira lenda viva. Um “santo gole” que transcende paladares e une mundos do sertão ao altar.
Imagem: Reproodução Internet