terça-feira, dezembro 3, 2024
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Estado garante educação a vítimas de escalpelamento e pacientes de longa permanência hospitalar

Garantir educação de qualidade na rede pública estadual é uma das prioridades do Governo do Pará, que por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) proporciona a continuidade do processo de ensino-aprendizagem a estudantes que passam por longos períodos de tratamento e internação em hospitais.

Com o Programa de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar (AEHD), vinculado à Coordenadoria de Educação Especial (COEES), a Seduc assegura que, mesmo com necessidades específicas, estudantes da rede pública estadual recebam acompanhamento pedagógico de qualidade.

“O Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar é um trabalho incrível. São alunos que vêm de diversas partes do Estado, inclusive de outros lugares, que por fazerem tratamentos médicos longos acabam não podendo frequentar a escola. Nós vamos até eles, para que a escola, a educação, possa ser continuada. Sempre que o aluno estiver hospitalizado, ou não puder frequentar a escola, a gente oferece isso”, explicou o secretário de Estado de Educação, Rossieli Soares.

O Programa de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar é desenvolvido em nove espaços, sendo um de atendimento domiciliar – Abrigo João Paulo II, Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia (Hemopa), Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Viana (FHCGV), Hospital Oncológico Infantil Otávio Lobo (Hoiol), Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) e Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém, na região Oeste.

Parceria – O Programa funciona por meio de convênio de cooperação técnica entre a Seduc e os hospitais, e atende 250 estudantes por mês em todo o Estado. O número de atendimentos da Classe Hospitalar muda de acordo com o tratamento de cada paciente, que ao receber alta médica pode retornar à classe regular em sua cidade.

Na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, o Programa funciona nas enfermarias pediátricas Santa Ludovina e São Francisco; setor de Terapia Renal Substitutiva Pediátrica e Espaço Acolher, onde são atendidas especificamente vítimas de escalpelamento (que têm o couro cabeludo arrancado bruscamente por eixo de embarcações).

A Classe Hospitalar na Santa Casa atende 50 estudantes da rede estadual, incluindo 18 vítimas de escalpelamento no Espaço Acolher. “Nós temos professores que fazem esse atendimento na Classe Hospitalar para esses alunos, matriculados na Escola Estadual Jarbas Passarinho. São crianças que possuem algum tipo de patologia e, dependendo da patologia, essa criança fica internada por algum tempo fazendo tratamento, que nós chamamos de tratamento permanente. E, pela lei, essa criança tem direito a esse atendimento do profissional educacional, que faz esse trabalho no hospital, seja no leito ou em uma sala específica, na enfermaria. Nós temos profissionais capacitados para fazer esse tipo de trabalho”, informou Sirlene Oliveira, coordenadora do Programa na Santa Casa.

Ainda segundo a coordenadora, a Seduc, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), também é garantido apoio pedagógico aos pacientes matriculados em outras redes, em um ambiente acolhedor e inclusivo.

“Desde 2003, com a implementação do Programa AEHD, são ofertadas aulas das matérias regulares dos ensinos Fundamental, Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) aos alunos pacientes, proporcionando um espaço acolhedor, que garante a escolarização dos alunos matriculados na rede estadual de ensino e o apoio pedagógico aos pacientes matriculados em escolas particulares e do município, e oferece uma educação de qualidade na perspectiva da inclusão e humanização, com fulcro em garantir o direito à educação, coadunado com o artigo 205 da Constituição Federal e a Lei 13.716, de 2018 – Lei  de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)”, explica Sirlene Oliveira.

A coordenadora acrescenta que, “nesse contexto, a Seduc promove formação aos docentes, como no Programa de Alfabetização na Idade Certa, o Alfabetiza Pará; oficinas relacionadas à prática pedagógica da educação especial inclusiva, assim como a participação em feiras e nas Usinas da Paz, com escopo de requalificar e formar os professores, além de contribuir com o conhecimento sobre a classe hospitalar e os profissionais que atuam neste Programa, que é muito mais sobre ter conhecimento técnico; é preciso a doação diária, acolhimento e o verdadeiro sentido da educação. É uma prática social que visa ao desenvolvimento do ser humano, de suas potencialidades, habilidades e competências. É ultrapassar os muros da escola, é fazer e construir em cada espaço uma sala de aula, seja no ambiente hospitalar e/ou domiciliar”.

Extremamente importante para a garantia da educação de quem não pode frequentar as aulas regulares, a Classe Hospitalar faz total diferença para os estudantes. Vítima de escalpelamento aos 11 anos, em São Sebastião da Boa Vista, município do Arquipélago do Marajó, Marcione Barbosa, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, está em tratamento há seis anos, e ressalta a importância da Classe Hospitalar em sua vida. “Aqui eu aprendi muita coisa, coisas que eu não aprendi na escola. Aqui eu fui me dedicando mais, comecei a ler. Foi aqui que aprendi de verdade”, garante.

Representatividade – A maioria das estudantes atendidas no Espaço Acolher é da região do Marajó. Por isso, visando melhorar o aprendizado e criar identificação, as professoras da Classe Hospitalar criaram um material pedagógico específico, usando palavras e imagens do cotidiano marajoara. A iniciativa deu muito certo e facilitou o processo de ensino-aprendizagem, informa a professora Denise Soares da Mota.

Segundo ela, que atua há 12 anos na Classe Hospitalar, “trabalhar com a Classe Hospitalar é uma experiência única. O Espaço Acolher é único. Aqui a gente trabalha com as pessoas da Amazônia, principalmente do Marajó, e a diversidade é muito grande. Você tem que olhar e fazer quase que uma aula personalizada, porque cada aluno que vem de uma região do Marajó, ou vem de lugares diferentes do Estado do Pará, tem um saber, uma cultura diferente. A gente tem que saber conciliar dentro do contexto. Por isso, criamos o caderno pedagógico, bem paraense, com a identidade delas, trazendo a cultura delas. As imagens foram cedidas por uma pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, e foi editado pela Imprensa Oficial do Estado do Pará. A gente trabalha com crianças de 1º ao 5º ano, com as meninas maiores, usando imagem, textos, poesia. A gente vê que faz diferença, acelera o aprendizado. E elas se sentem bem porque ficam olhando a imagem, lembram das suas casas, das suas cidades, até porque esse tratamento é muito longo, entre idas e vindas, várias cirurgias. Elas sentem saudade da região onde vivem”.

Inspiração – Para Marcione Barbosa, o material continua sendo um incentivo aos estudos. “Esse material inspira muito, e ajuda a pessoa a aprender. Eu gosto muito desse material porque me representa muita coisa, onde eu moro, as frutas, os animais, o local. Com ele, eu tive mais possibilidade de aprender a ler, escrever e conhecer as coisas. Foi através desse caderno que comecei a aprender a ler, descobrindo os nomes das frutas, coisas que eu não sabia. Se não tivesse isso aqui, eu acho que hoje eu estaria muito atrasada nos estudos. A equipe de professoras é muito boa. Eu agradeço por elas ensinarem a cada uma de nós que frequenta aqui, porque através delas nós aprendemos”, ressalta a estudante.

Filha mais velha entre quatro irmãos, Marcione Barbosa encontrou na educação uma maneira de mudar a realidade da família. Há seis anos em tratamento, entrando e saindo do hospital, a estudante afirma que vai continuar estudando para se tornar enfermeira. “Ser enfermeira é meu sonho. Acho que, por tudo que eu já passei, que eu vi, o sofrimento que as pessoas passam, eu também quero ajudar quem precisa”, acrescenta a estudante.

Cultura nos rios – Outro projeto realizado na Classe Hospitalar do Espaço Acolher é o “Letras que Flutuam”, que utiliza os letreiros coloridos dos barcos que navegam pelos rios da Amazônia como ferramenta de alfabetização.

“No ‘Letras que Flutuam’ a gente trabalha especificamente com a alfabetização das crianças. A gente usa as letras dos barcos, feitas pelos abridores de letra, e usamos para alfabetizar as crianças menores. E funciona porque elas sabem o nome do barco só de olhar para ele, e isso despertou em nós o interesse, porque quando a gente dava textos elas não conseguiam ler. Aí tivemos a ideia de usar essas letras dos abridores de letras dos barcos para alfabetizar. A gente notou que elas aprendem muito mais rápido. Claro que a gente tem que trabalhar a partir do contexto, mostrar o mundo, mas elas precisam se reconhecer. Por exemplo, a Marcione chegou aqui sem leitura, sem escrita, e a gente conseguiu avançar muito. Aqui, a gente tenta resgatar esse tempo perdido de hospital, de cirurgia, de UTI, de dor, e a gente vai avançando até chegar aonde a gente quer”, enfatiza a professora Denise da Mota.

Em novo espaço – O Espaço Acolher proporciona acolhimento e acompanhamento psicossocial às vítimas de escalpelamento, desde sua criação, em 2006. Desde agosto deste ano, voltou a funcionar dentro do prédio centenário da Santa Casa do Pará, em uma ala com quase 700 metros quadrados (m²), que foi totalmente restaurada e adaptada, disponibilizando uma estrutura confortável, que inclui dormitórios para 30 pessoas, sala de estar, cozinha, refeitório, sala de aula, consultório, brinquedoteca, lavanderia e uma área de vivência.

As vítimas de escalpelamento admitidas no Espaço Acolher são aquelas que recebem alta da área hospitalar da Santa Casa. O Espaço também recebe pacientes encaminhadas por meio da Central de Regulação Estadual e pelos serviços de saúde dos municípios com ocorrência desse tipo de acidente.

Texto: Fernanda Cavalcante/Seduc

Fonte: Agência Pará/Foto: Ascom/Seduc

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