sábado, outubro 18, 2025
Desde 1876

LITERATURA – Cartão-flor

Ele viajara a trabalho a um lugar distante de onde morava sua então namorada. Estava havendo entre eles um ardente romance que mais tarde, anos depois, esfriaria, até apagar. Mas, por enquanto a relação estava quente, as palavras carinhosas, os abraços, beijos eram constantes parecendo intermináveis. Pegando carona do poeta: infinito enquanto durava.

Diante de tal relação vinham presentes e buquês de rosas e de outras flores das mais variadas cores. E naquela relação romântica, adicionados aos buquês vinham os cartões com mensagens amorosas nos encontros envoltos de emoções. Nesses contatos pessoais e à distância prevaleciam saudações com palavras e expressões poéticas através das mensagens. E esta foi uma das respostas dele a uma mensagem dela.

Ele escreveu que recebeu o cartão dela que muito o emocionou. E que gostaria de retribuir na mesma moeda, mas tinha pouco tempo para procurar um no mesmo nível, até porque, achava que por ali, naquele lugar não havia esse tipo de mercadoria. Destarte, se limitaria àquilo que tinha à mão, vindo do coração: palavras. E procurou transformá-las não propriamente em um cartão, mas em outra coisa romântica: em flores, ou melhor, em um cartão-flor.

Com ajuda da imaginação dela, ele enviou através de um rápido escrito, uma porção de flores. Flores azuis, vermelhas, amarelas, brancas, negras, lilases, furta-cores, transparentes, douradas, prateadas, brilhantes, perfumadas, musicais, doces, orvalhadas, grandes, pequenas, microscópicas.

Uma grande flor perolada a lhe servir de chapéu: uma flor-chapéu. Uma guirlanda de flores multicores. Um vestido de flores copo-de-leite. Um sapato de crisântemos. Um colar de flores de madrepérolas. Outro vestido de tulipas negras para a noite. Uma passarela de girassóis e uma escada atapetada de pétalas de rosas. Um balanço de flores, para ela subir e descer lentamente. Ir até às nuvens de lírios, jasmins, miosótis. Uma cama de camélias brancas, campânulas, crisântemos, dálias, estrelas-de-belém, gardênias, hortênsias, variados lírios, com travesseiros de petúnias, magnólias, orquídeas. Flores, flores, flores. E se ainda lhe restava imaginação e ela pudesse sintonizar aquele sonho, sobrava uma flor para colocar em seus cabelos. Outra para acariciar seu rosto levando o saudoso beijo dele para a mais bela flor entre todas as flores.

Setembro/2000

Texto: Roberto Pimentel

*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ

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