Com nova tarifa prestes a entrar em vigor nos EUA, presidente brasileiro critica postura americana e defende soberania nacional
A dois dias da entrada em vigor das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a falta de diálogo com o governo americano e afirmou que o Brasil não aceitará ser tratado como um país de segunda categoria. A declaração foi feita em entrevista ao jornal The New York Times, publicada nesta quarta-feira (30).
“Todos sabem que pedi para fazer contato. O que está impedindo é que ninguém quer conversar”, afirmou Lula, em tom de indignação. Apesar das tentativas diplomáticas, o presidente norte-americano Donald Trump ainda não respondeu diretamente. Segundo o governo brasileiro, as tratativas têm sido conduzidas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad e pelo chanceler Mauro Vieira.
“Seriedade não exige subserviência”
No centro da polêmica está a nova tarifa imposta por Trump no início de julho, em resposta às investigações no Brasil envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe. Para o líder americano, as acusações são “uma caça às bruxas”. Lula rebateu, lembrando que no Brasil o Judiciário é independente e que a medida desrespeita a soberania do país.
“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”, declarou. E completou: “Conhecemos o poder econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos assusta. Nos preocupa.”
A postura firme de Lula diante do governo americano chamou atenção da imprensa internacional. O jornalista Jack Nicas, que assina a matéria no New York Times, escreveu que “talvez não haja líder mundial desafiando o presidente Trump com tanta veemência quanto Lula”.
Brasil prepara resposta
O governo brasileiro já sinalizou que estuda medidas de retaliação e lançou a campanha “O Brasil é dos brasileiros”, reforçando o posicionamento nacionalista diante da crise diplomática. Ainda assim, Lula acredita que a sobretaxa traz prejuízos para ambos os lados.
“Nem o povo americano, nem o povo brasileiro merecem isso. Vamos passar de uma relação de 201 anos de ganha-ganha para uma relação de perde-perde”, afirmou.
Nos bastidores, o governo tenta, pelo menos, adiar a entrada em vigor da tarifa. O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse que produtos que não são fabricados em território americano, como cacau, café e manga, podem ser isentos da cobrança mas não mencionou o Brasil diretamente.
Negociação difícil e prazo apertado
Uma comitiva de senadores brasileiros está em Washington desde o início da semana tentando abrir canais de negociação. Mas, segundo o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, a resolução antes do prazo é improvável.
“Não vamos resolver isso até o dia 1º. O encontro de dois presidentes da República não se prepara da noite para o dia”, declarou. Wagner também questionou o curto prazo dado ao Brasil para se adaptar às novas regras: “Todos os países tiveram 60, 90 dias; em 20 dias, como é que os empresários se organizam?”
Redução possível?
Enquanto isso, Alckmin lidera conversas com empresários e autoridades americanas, buscando diminuir o impacto da medida. Ele lembrou que a União Europeia também enfrentou tarifa semelhante, mas conseguiu reduzir a alíquota para 15% após negociações.
“Não tem justificativa você ter uma alíquota de 50% para um país que é um grande comprador. O Brasil tem uma balança comercial superavitária. Estamos trabalhando para reduzir isso para todos”, declarou.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
Imagem: Arte Redação