domingo, março 16, 2025
Desde 1876

Por que Trump deportou centenas de venezuelanos apesar de Justiça ter proibido

Um avião transportando mais de 200 venezuelanos deportados pelos Estados Unidos pousou em El Salvador horas depois de um juiz americano ter ordenado que a gestão Donald Trump não o fizesse.

presidente de El Salvador, Nayib Bukele, postou nas redes sociais que 238 homens supostamente membros do grupo criminoso venezuelano Tren de Aragua haviam chegado na manhã de domingo (16/3) ao país, junto com outros 23 supostos membros da gangue Mara Salvatrucha (MS-13).

O desembarque ocorreu apesar de um juiz federal ter barrado deportações com base na lei do século 18 que o governo vinha usando como respaldo, algo que Bukele ridicularizou em outra postagem.

“Ops!… tarde demais”, escreveu o presidente salvadorenho.

Ele informou que os detidos tinham sido direcionados para o Centro de Confinamento de Terroristas de El Salvador (Cecot) “por um ano”, período que pode ser renovável, o que sugere que eles poderiam permanecer presos por mais tempo.

“Os EUA pagarão uma tarifa muito baixa por eles, mas alta para nós”, acrescentou.

Segundo a Associated Press, El Salvador teria concordado em abrigar cerca de 300 migrantes em suas prisões por um ano a um custo de US$ 6 milhões.

Deportações invocam lei do século 18

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, confirmou a chegada dos supostos membros de grupos criminosos ao país centro-americano e agradeceu a Bukele, chamando-o de “o líder em segurança mais forte em nossa região”.

Na noite de sábado (15/3), o juiz do Distrito de Columbia James Boasberg havia ordenado a suspensão por 14 dias das deportações determinadas pelo governo Trump a partir da invocação da Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798.

A lei autoriza o governo a deter e expulsar, em tempos de guerra, indivíduos que ameacem a segurança do país, sem a necessidade de garantia do devido processo legal aos afetados.

A última vez em que ela havia sido aplicada foi durante a Segunda Guerra Mundial, contra cidadãos americanos de ascendência japonesa.

No sábado, Trump declarou que o Tren de Aragua estava “perpetrando e ameaçando realizar uma invasão predatória ou incursão contra o território dos Estados Unidos”.

Ato contínuo, ordenou que todos os cidadãos venezuelanos no país que tenham pelo menos 14 anos de idade, que sejam membros do Tren de Aragua e que “não sejam naturalizados ou residentes permanentes legais” sejam “detidos, presos e expulsos por serem estrangeiros inimigos”.

A decisão presidencial foi suspensa pelo juiz Boasberg, que considerou que a lei não é aplicável neste caso, já que os Estados Unidos não estão em guerra.

Conforme o jornal The Washington Post, depois de saber que os aviões transportando os deportados haviam decolado o magistrado chegou a ordenar que as aeronaves retornassem.

No domingo, Rubio confirmou que as deportações foram realizadas sob a Lei de Inimigos Estrangeiros, sem mencionar a decisão do tribunal.

“Estamos enviando mais de 250 estrangeiros inimigos do Tren de Aragua, que El Salvador concordou em manter em suas excelentes prisões, a um preço justo que também economizará o dinheiro dos nossos contribuintes”, declarou.

Em comunicado, o governo venezuelano, por sua vez, rechaçou a decisão de Trump, considerando que ela evoca “os episódios mais sombrios da história da humanidade, da escravidão ao horror dos campos de concentração nazistas”, informou a AP.

Direto à megaprisão

Um vídeo postado por Bukele nas redes sociais mostra fileiras de homens algemados sendo escoltados para fora do avião por agentes armados.

Alguns detidos sendo colocados na parte de trás de veículos blindados, enquanto outros, com a cabeça abaixada por policiais, são forçados a entrar em ônibus.

As imagens também exibem uma tomada aérea de uma longa e sinuosa escolta policial conduzindo os ônibus em direção à temida megaprisão de El Cecot.

A prisão de segurança máxima é um marco para Bukele e parte de seus esforços para combater o crime organizado.

Com capacidade para 40.000 pessoas, o presídio tem sido alvo de críticas de grupos de direitos humanos, que alegam que os presos são maltratados e que seus direitos não são garantidos.

O acordo entre os EUA e El Salvador é um sinal do fortalecimento das relações diplomáticas entre os dois países.

“Obrigado pelo seu apoio e amizade”, disse Rubio a Bukele no domingo.

El Salvador foi o segundo país que o Secretário de Estado dos EUA visitou após sua posse, algumas semanas atrás.

Durante a visita, Bukele inicialmente ofereceu seu país para receber pessoas deportadas, alegando que isso ajudaria a financiar a enorme instalação de Cecot.

Promessa de deportações em massa

O governo dos EUA não identificou quem são os homens enviados a El Salvador nem forneceu evidências de que eles eram de fato membros do Tren de Aragua ou que cometeram crimes nos EUA.

As deportações fazem parte da campanha contra a imigração ilegal, que tem sido uma das bandeiras do segundo mandato do presidente americano.

Em janeiro, ele havia assinado uma ordem executiva declarando o Tren de Aragua e a MS-13 “organizações terroristas estrangeiras”.

Durante a campanha pela Casa Branca, Trump prometeu lançar a maior operação de deportação da história do país.

Até agora, o cronograma ficou aquém das expectativas, já que os agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) não cumpriram a cota diária de prisões definida por Trump.

Um relatório recente revelou que os agentes do ICE deportaram menos imigrantes em fevereiro do que no mesmo mês do ano anterior durante o governo do democrata Joe Biden: 11 mil em fevereiro de 2025, em comparação com 12 mil em fevereiro de 2024.

*Com reportagem de Lisa Lambert e Brandon Drenon

Reprodução: bbc.com

Foto:  Nayib Bukele/X

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