Vice-campeã olímpica em Paris, a surfista brasileira decidiu fazer uma pausa no circuito mundial deste ano para evitar burnout
A vice-campeã olímpica e uma das maiores atletas do surf mundial, Tatiana Weston-Webb, comunicou no fim de março sua decisão de fazer uma pausa no circuito mundial deste ano para focar em sua saúde emocional.
Após ter identificado, em acompanhamento com a sua psicóloga, sinais indicativos de um desgaste emocional e físico que poderiam progredir para um diagnóstico de burnout, a atleta decidiu priorizar seu bem-estar e dar um passo importante em direção ao equilíbrio pessoal e profissional.
A surfista compete há mais de 10 anos no Circuito Mundial ininterruptamente, além de ter passado por dois ciclos olímpicos e uma final de mundial em 2024.
Durante o período de pausa, Tatiana continuará trabalhando com sua equipe multidisciplinar para focar em sua recuperação e equilíbrio, além de ter um tempo para estar com a família e o marido. A surfista também pretende dedicar um tempo para inspirar outras pessoas a cuidarem de si mesmas.
A brasileira não foi a primeira atleta a anunciar uma pausa no auge da carreira para cuidar da saúde mental. Só para citar outros exemplos, em 2020, a ginasta norte-americana Simone Biles também comunicou um intervalo nas atividades pelo mesmo motivo. Em 2021, foi a vez da tenista japonesa Naomi Osaka, que também parou temporariamente de jogar profissionalmente em prol de sua saúde mental.
Essencial para o bom desempenho
Segundo especialistas, a saúde mental é um fator crucial para o desempenho e a longevidade da carreira de atletas de alto rendimento. Quanto mais cuidado com o bem-estar emocional, menores são os riscos de afastamento, queda de performance e sofrimento psicológico. Um equilíbrio emocional favorece não só melhores resultados, mas também uma trajetória mais saudável e sustentável no esporte.
Muitos atletas iniciam no esporte por prazer, mas, com o tempo, a atividade torna-se fonte de pressão intensa. A cobrança interna, associada às expectativas de técnicos, familiares e torcedores, transforma o que muitas vezes começou como um lazer ou hobby na infância do atleta em estresse constante ao melhorar seu desempenho ao longo do tempo.
“Aquele esporte que muitas vezes acabava sendo um prazer passa a ser um objeto de intenso estresse e sofrimento por pressão externa e cobrança interna por sempre ter que entregar um resultado cada vez melhor. Mas nos esportes nem sempre temos resultado positivo e é importante lidar com a frustração de perder”, diz Gabriel Okuda, psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Por isso a importância de desenvolver estratégias para lidar com essas adversidades.
Burnout em atletas
O burnout é uma das consequências mais graves desse cenário. Classificado pelo CID-11 como uma exaustão física e emocional vinculada ao trabalho, ele se manifesta por sintomas como:
- cansaço extremo,
- distanciamento social,
- insônia,
- perda de desempenho,
- desmotivação.
Nos atletas, pode ser percebido por queda no rendimento, falta de foco e dificuldade em manter a rotina de treinos. Técnicos e profissionais da saúde são peças-chave para identificar esses sinais precocemente.
Por Jamille Niero