Projeto une ancestralidade, agroecologia e protagonismo feminino em diálogo com os debates da COP30
Na semana da Amazônia, a Ilha de Cotijuba, em Belém (PA), é palco de um encontro que une ancestralidade, ecologia e política. Nesta quarta-feira (10), o Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) realiza o encerramento do projeto Semeadeiras, que ao longo de um ano mobilizou cerca de 30 mulheres negras do território em torno da agroecologia, da soberania alimentar e da valorização de saberes ancestrais.
O evento marca o fim de uma etapa formativa e o início de uma agenda de incidência política. Durante a programação, serão lançados:
o livro Semeadeiras, com relatos e depoimentos das participantes;
um manifesto político, elaborado coletivamente, com reivindicações sobre segurança alimentar, financiamento e políticas públicas;
o minidocumentário Semeadeiras, que dá voz às histórias das mulheres do território;
e um mapa cartográfico de Cotijuba, produzido a partir da visão das próprias moradoras, com a identificação de quintais produtivos.

Segundo Andréia Coutinho, diretora executiva do CBJC, o projeto representa muito mais do que formação técnica:
“A justiça climática não se faz sem soberania alimentar, sem escuta dos territórios e sem o protagonismo de mulheres negras. O Semeadeiras é isso: formação, mas também afeto, incidência e política de verdade.”
Conquista e incidência política
O projeto já gerou impactos concretos. Ao menos seis mulheres de Cotijuba conseguiram regularizar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Cadastro da Agricultura Familiar, instrumentos importantes para o fortalecimento da produção agroecológica.
Além disso, o Manifesto das Semeadeiras será apresentado publicamente a representantes da Emater-PA, da Superintendência do Patrimônio da União (SPU) e a parlamentares como a deputada estadual Lívia Duarte e a vereadora Vivi Reis.
Para Anne Heloise, coordenadora de educação climática do CBJC, esse é um marco de fortalecimento comunitário:
“Suas vivências agora estão registradas em materiais como o livro, o mapa e o minidocumentário. Mas, mais do que isso, conseguimos conectar essas mulheres ao poder público. É um passo essencial para que suas demandas se transformem em políticas públicas.”
Amazônia e protagonismo feminino

Em Belém, uma das capitais com cesta básica mais cara do Brasil, mais de 60% dos domicílios enfrentam algum nível de insegurança alimentar, segundo o VIGISAN. Nesse contexto, a formação em agroecologia e soberania alimentar ganha força, especialmente pela liderança de mulheres negras amazônidas.
O evento ocorre em um momento simbólico: a Semana da Amazônia, quando a região volta ao centro dos debates nacionais e internacionais, também em razão da COP 30, que será realizada em Belém em 2025.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
Imagem: Divulgação