sexta-feira, junho 6, 2025
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Literatura – Mulato, o doce poldinho

Contava minha mãe que quando criança houve um cavalo que ela e seu mano Wenceslau apelidaram de Mulato porque, ao nascer, tinha pelos escuros e crespos.

Quando ainda mamava, o poldinho ficou sem sua mãe que teve que ser entregue por exigência a um irmão de meu avô para pagar uma dívida.

Minha avó não deixou que levassem o poldinho.

Foi então firmado um pacto de alimentação ao pequeno órfão, passando minha mãe e seu então único irmão a se revezarem naquela tarefa excitante.

Mulato tinha uma pinta branca na testa, parecendo uma estrela de cinco pontas e deu muitas alegrias ao casal de irmãos e muitas são as histórias do pequeno equino que não cresceu muito. E criou-se dentro de casa e nos primeiros meses de vida, aos primeiros raios de sol, acordava o pessoal fazendo barulho na cozinha.

Quando ouviam barulho de louça caindo era o poldinho puxando a toalha da mesa.

Ele transitava pelo quintal entre patos, galinhas, gatos e cães.

Certo dia, como bem lembrava minha mãe, quando meu avô regressava de uma viagem, ela, seu irmão e minha avó correram para reencontrá-lo em frente à casa.

A comissão de recepção de boas vindas ao regressante foi engrossada pelos cães e também por Mulato.

Assim, enquanto os filhos agarravam-se esfuziantes às pernas do pai, os cães disputavam espaço lambendo seu pescoço.

Provavelmente contagiado com essa recepção, Mulato não perdeu oportunidade também saltando para cima de meu avô, tendo uma de suas pequenas mas cascudas patas, acertado a região labial de meu avô, causando-lhe um pequeno corte que passou imediatamente a sangrar.

Minha avó gritou censurando o pequeno animal que ficou espantado.

O menino indignado rapidamente quebrou um galho de mato para dar umas lambadas no poldinho.

A menina ficou estática sem saber o que fazer, mas o bom homem rapidamente solucionou aquele impasse abraçando-se ao pequeno “órfão” ponderando que ele não fizera aquilo por maldade.

Ele vira os cães e quisera imitá-los na saudação ao dono da casa que chegava, recebendo o abraço e afagos de meu avô que dali em diante ficou alerta para aquelas manifestações festivas do pequeno equino com comportamento canino.

20/01/2002

Texto: Roberto Pimentel

*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ

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