Artista deixa discografia regida pela difusão de obras de compositores brasileiros de música erudita.
Pianista brasileiro de reconhecimento internacional no campo da música erudita, Miguel Proença costumava dizer que sentiu paixão à primeira vista pelo piano, ainda criança, ao ouvir o som do instrumento vindo de um casarão na interiorana cidade gaúcha de Quaraí (RS), onde nasceu e onde começou a ter aulas de piano, ainda na infância.
Se assim foi, pode-se dizer que, no campo musical, essa paixão repentina foi tão sólida e duradoura que norteou a vida e a obra do pianista ao longo de 86 anos. Vítima de falência múltipla dos órgãos, Miguel Proença (27 de março de 1939 – 22 de agosto de 2025) morreu na noite de ontem, no Hospital São Vicente, no Rio de Janeiro (RJ), cidade onde se radicou enquanto rodou o mundo como pianista de fraseado próprio.
A morte do pianista foi noticiada em rede social e confirmada ao colunista do g1 pelo cantor Márcio Gomes, amigo próximo de Miguel Proença. “Miguel respirava Arte”, sintetizou Gomes no post em que comunicou a morte do pianista.
Ao sair de cena, após mais de 60 anos de atividade profissional, Proença deixa também expressivo legado como educador musical e difusor de obras de artistas brasileiros.
Antes de chegar às salas de concerto mais prestigiadas do Brasil e do mundo, Miguel Proença pôs os pés na profissão de músico tocando em bares, clubes e festas do sul do Brasil. O pianista depurou o estilo na adolescência e juventude em estudos em Hamburgo e Hannover, cidades da Alemanha, país onde fez concertos antes de voltar ao Brasil e se fixar no Rio de Janeiro (RJ).
Como pianista, Proença deixa expressiva discografia pautada por abordagens de obras de compositores brasileiros como Alberto Nepomuceno (1864 – 1920), César Guerra-Peixe (1914 – 1993), Edino Krieger (1928 – 2022), Ernesto Nazareth (1863 – 1934), Oscar Lorenzo Fernández (1897 – 1948) e Radamés Gnattali (1906 – 1988), além, claro, do compositor e maestro carioca Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), de cuja obra o pianista registrou cirandas e serestas, entre outros temas.
Há 20 anos, a discografia do músico foi sintetizada na coletânea Piano brasileiro, editada em 2005 com dez CDs que ofereceram bela amostra da técnica e da sensibilidade do pianista.
Miguel Proença admirava o estilo nacionalista e alta qualidade das obras para piano criadas por esses compositores. Como educador e gestor na área de cultura na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o artista se tornou diretor da Sala Cecília Meireles em 1987, voltando a ocupar o cargo entre abril de 2017 e dezembro de 2018. Também dirigiu a Escola de Música Villa-Lobos e foi Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro entre 1983 e 1988, período em que fundou a Orquestra de Câmara da Cidade do Rio de Janeiro.
Dono de sonoridade singular no toque do piano, Miguel Proença difundiu a música clássica em todo o país através do projeto Piano Brasil, criado com o objetivo de promover masterclass e recitais em cidades e ambientes onde o acesso à música erudita é mais restrito.
Ao sair de cena aos 86 anos, Miguel Proença deixa legado que extrapola a própria obra, abarcando a difusão do piano brasileiro em todo o solo nacional. Esse trabalho como músico e educador regeu a vida de Miguel Proença, vivida com fidelidade e dedicação ao cultivo da paixão à primeira vista que teve pelo som do piano quando andava com a mãe pelas ruas da cidade natal de Quaraí (RS) em rota que definiu o caminho do artista.
Foto: Reprodução / Site oficial Miguel Proença