Com previsão de entrega no primeiro semestre de 2026, o novo Olympia reúne arte e memória, com exposição de acervo raro de rolos de filmes e projetores com mais de um século de existência
A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), avança nas obras de restauração do cinema Olympia, no bairro de Campina. O trabalho revela alguns segredos escondidos entre as paredes de concreto, que somam 113 anos. O cine Olympia é um dos chamados cinemas de rua mais antigos em funcionamento na América Latina. Inaugurado em 24 de abril de 1912, o Cinema formava, à época, com o Theatro da Paz, Palacete Bolonha e o antigo Hotel Central, um quadrilátero pulsante da riqueza arquitetônica gerada pela Belle Époque, no período compreendido de 1871 a 1914.
As obras, iniciadas em 2023, são realizadas por meio de uma parceria entre a Prefeitura de Belém e o Instituto Pedra, mediante autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), considerando que o Cine Olympia é tombado como patrimônio cultural nas esferas municipal, estadual e federal. A previsão de entrega da obra é o primeiro semestre de 2026.
Segundo a secretária de Cultura e Turismo de Belém, Cilene Sabino, o calendário dos serviços está em dia, com as obras avançando e com previsão de entregar um ambiente renovado, moderno, luxuoso e com uso de tecnologia, mas também com pontos centrais de recortes e resgate da história real do Olympia.
“Essa obra é muito importante porque se resgata um patrimônio com mais de um século de existência, sendo o cinema mais antigo em funcionamento na América Latina, e a Prefeitura de Belém está trabalhando firme para entregar à sociedade paraense um ambiente de qualidade, com equipamentos modernos, por meio dos quais as pessoas poderão reviver suas memórias afetivas com o cine Olympia do passado, do presente e do futuro”, disse a secretária Cilene Sabino, que é arquiteta de formação acadêmica e faz questão de também analisar a leitura das plantas da restauração.
Ainda segundo a secretária, a Semcult está desenvolvendo um projeto de memorial do Olympia, com exposições do acervo de filmes antigos (ainda em rolos e fitas), e os últimos projetores da linha antiga. Vale ressaltar que o cinema soma 113 anos, e viveu momentos do primitivismo com filmes do cinema mudo, quando as músicas eram tocadas ao vivo por orquestras, até a chegada da tecnologia digital.
Nessa passagem de tempo, os projetores foram sendo substituídos, atravessando o início do século XX (1912) e a segunda metade do século XXI com máquinas dos anos de 1960 e 1970, que estão preservadas no interior da sala de projeção do cinema.
“Nós estamos programando uma curadoria com a ideia da universalização, inclusão e acessibilidade, com as pessoas podendo acompanhar a história do Cine Olympia e sua importância para cultura de Belém”, disse a secretária Cilene Sabino. “Nossa expectativa é a melhor possível para entregar essa obra no primeiro semestre de 2026, com toda a originalidade e resgate da memória deste cinema. Será um presente para quem viveu alguma história afetiva a partir de uma diversão no cinema”, completou Cilene Sabino, durante visita ao local, no início desta semana.
Surpresas em meio às obras
As obras de restauração no cinema Olympia estão revelando grandes surpresas, entre as quais fachadas originais em forma de arco na frente e nas laterais do prédio. A arquiteta Elisabete Almeida, coordenadora do projeto de restauração, revela que os operários estavam iniciando as obras no telhado, e, por sorte, notaram que havia algo mais sob as camadas de cimento.
“Eram as fachadas em forma de arco que haviam sido escondidas durante as reformas ao longo dos anos da sala de cinema. Para nós, da equipe de restauração, foi uma surpresa, pura sorte. Assim, precisamos refazer o projeto original e, por fim, também encontrar as fachadas laterais, o que nos deixou muito felizes”, revelou a arquiteta.
Outro momento de alegria na obra do Olympia foi a descoberta da pintura dourada de parte das colunas internas, as luminárias e alguns ladrilhos, que segundo a arquiteta, serão reutilizados como um tapete na entrada do prédio. “Todo esse material já foi para restauração e a pintura de detalhes nas colunas será dourado. Tudo muito lindo”, disse ela, sem esconder a alegria. “Cada dia aqui é uma surpresa agradável para quem ama Belém e seu rico patrimônio cultural”, completou.
Objetos inusitados entre os achados e perdidos
Testemunha entusiasmada das obras de restauração do Cine Olympia, o professor e pesquisador Marco Antônio Moreira destaca o setor de achados e perdidos do Olympia como ponto de curiosidades. Segundo ele, foram encontrados, por funcionários, muitos objetos pessoais esquecidos por seus donos ou donas, como óculos, perfumes, remédios, relógios, anéis, e até uma dentadura e, mais recentemente, aparelhos celulares.
“O que mais nos chama a atenção, por curiosidade, foi encontrar uma dentadura. Os demais objetos são comuns de esquecimento em ambientes públicos, agora uma dentadura já é completamente fora do padrão de alguém esquecer, pois trata-se de um acessório muito particular”, contou, acrescendo ainda que o dono ou dona da dentadura nunca foi buscar o acessório. “Celular todo mundo volta para buscar, mas a dentadura ficou por aqui por muitos anos”, brincou o professor.
Sobre a obra, especificamente, Marco Antônio Moreira não esconde a felicidade e a ansiedade em ter de volta um local tão importante para memória cultural de Belém.
“Já imaginou passar na Presidente Vargas e contemplar, novamente, o cine Olympia funcionando, e imaginar quais novas histórias ele vai contar daqui pra frente, além de proporcionar recordações incríveis para quem viveu seus romances, amores e amizades a partir da sala do Cinema? Eu estou muito orgulhoso! Como amante da sétima arte, pesquisador, professor, e cidadão de Belém”, destacou Marco Antônio.
Projeto de restauração entra na reta final
As obras de restauração do Cine Olympia entram na fase da chamada arquitetura fina ou acabamento, como são popularmente conhecidos os serviços de pintura e instalação de equipamentos sanitários e de cozinha.
O projeto do novo cine Olympia traz uma estrutura moderna, com pisos, paredes e forro acústicos.
As cadeiras, o projetor, e os aparelhos de ar-condicionado já foram comprados e devem chegar em breve. “Estamos aguardando esses equipamentos, mas eles serão instalados na última fase do projeto de restauração. Nós iremos entregar um cinema moderno, porém com todas suas características originas mantidas, e com muito conforto para o público”, pontuou a arquiteta Elisabete Almeida.
Com a restauração do Cine Olympia, a Prefeitura de Belém reforça o compromisso com a valorização de um patrimônio histórico e cultural de Belém e do Brasil (sendo o cinema mais antigo em atividade na América Latina), revitaliza o centro da cidade, e moderniza a estrutura para o audiovisual contemporâneo, além de garantir que este ícone continue a ser um ponto de encontro e memória viva por muitas gerações.
Texto: Selma Amaral
Crédito: Selma Amaral
