domingo, dezembro 8, 2024
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Morre Dom José Luís Azcona, Bispo Emérito que enfrentou o crime para denunciar a violência contra as crianças do Marajó

A Prelazia do Marajó está de luto nesta quarta-feira, 20, feriado do Dia da Consciência Negra. Morreu na manhã de hoje, no Hospital Porto Dias, o Bispo Emérito do Arquipélago do Marajó, o espanhol Dom José Luís Azcona Hermoso, que estava com 84 anos e lutava contra um câncer terminal, fazendo tratamentos paliativos na unidade hospitalar. A Prelazia do Marajó comunicou o falecimento do prelado em suas redes sociais, rogando a Nosso Senhor Bom Pastor que acolha o espírito de Dom Azcona entre os resplendores da luz perpétua.

Dom Azcona já estava desenganado. Três anos atrás, o bispo foi praticamente o responsável pela condução do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, tendo em vista que o Arcebispo Metropolitano, Dom Alberto Taveira Corrêa, e seu auxiliar, Dom Antônio de Assis, haviam sido convocados pelo Papa Francisco para uma semana de compromissos em Roma por ocasião da quinzena da Festa de Nazaré.

O corpo de Dom Azcona será levado para a cidade de Soure, onde irá ocorrer o velório e demais cerimônias fúnebres.

A ENFERMIDADE

Em 16 de junho deste ano, Dom Azcona baixou hospital. Inicialmente ele foi internado devido a um distúrbio metabólico do sódio. No dia 16 de junho, o prelado foi internado novamente em Belém, para o tratamento médico. A 19 de junho, foi constatada uma lesão no pâncreas que necessitava de melhor investigação.

A informação sobre o diagnóstico do câncer no pâncreas foi divulgada no dia 27 de junho. Tratava-se de neoplasia maligna, quando há a proliferação anormal de células com estrutura diferente do tecido original e possibilidade de metástase.

Dia 6 de agosto, Dom Azcona iniciou o primeiro ciclo de quimioterapia e chegou a mostrar melhora no quadro de saúde. A informação foi confirmada pelo Chanceler da Prelazia do Marajó, padre Rafael Guedes, que mantinha os fiéis católicos do Marajó informados por meio das redes sociais.

Em 28 de agosto, Dom Azcona recebeu alta do hospital e retornou para casa. Sete dias depois, já em 4 de setembro, ele retornou para o ambulatório de oncologia, para realizar um novo ciclo de quimioterapia. Após o retorno ao hospital, o bispo permaneceu internado sob cuidados paliativos relativos à doença. Assim, sua a saúde estava estável.

O último boletim médico divulgado pela Prelazia do Marajó foi a 13 de novembro, quando informaram que Dom Azcona estava “conversando e consciente da realidade”. O comunicado foi assinado pelo Bispo Diocesano do Marajó, Dom José Ionilton de Oliveira e pelo Chanceler, Padre Raimundo Rafael de Souza Guedes.

REPERCUSSÕES

O governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, usou sua rede social no ‘X’ para manifestar pesar e decretou luto oficial pelo falecimento do prelado:

“Lamento profundamente a morte de Dom José Luís Azcona Hermoso, bispo emérito da Prelazia do Marajó. Meus sentimentos aos amigos e familiares. Decreto, portanto, luto oficial em todo o Estado”.

DAMARES ALVES

“Hoje nos despedimos de um amigo, um líder que ultrapassou todas as barreiras, que enfrentou com todas as forças os poderosos e me inspirou na luta pelo fim da violência sexual contra crianças e adolescentes no arquipélago do Marajó”.

Ela também cita o começo do relacionamento com Azcona e a luta contra o abuso sexual infantil no Marajó: “Conheci Dom Ascona ainda no início dos anos 2000. Eu era uma assessora e ativista em defesa das crianças. Ele, uma liderança religiosa do Pará, de voz grave e corajosa, com firmeza para denunciar, em uma CPI da Câmara dos Deputados, todas as barbaridades cometidas contra tantos pequeninos ao longo das últimas décadas na terra onde ele exercia o sacerdócio”.

“Sem Dom Ascona jamais existiria Abrace o Marajó. Sem a determinação dele, talvez o Brasil não conhecesse aquela terra e as necessidades daquele povo sofrido e trabalhador”, afirma enfaticamente Damares Alves e se despede: “Vá em paz, meu amigo. Aqui nessa terra continuaremos sua luta. Não vamos esquecer as crianças pelas quais o senhor tanto lutou”.

LUTA NO MARAJÓ

Destacando o legado de Azcona na luta contra a exploração sexual infantil no Marajó, a secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, publicou:

“Partiu hoje deste plano uma das mais ativas vozes no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes no arquipélago do Marajó. Dom José Azcona estava internado em Belém se tratando de um câncer no pâncreas, mas não resistiu, falecendo aos 84 anos de idade. O religioso – homem corajoso e firme em sua luta na Prelazia do Marajó – chegou a ser ameaçado de morte em 2008. Que descanse na paz dos justos e valentes”.

A prefeita de Ponta de Pedras, no Marajó, foi mais uma das autoridades a lamentar a morte de Azcona. Ela enfatizou o impacto da vida do religioso na região:

“É com profundo pesar que lamentamos o falecimento de Dom José Luis Azcona, Bispo Emérito do Marajó. Sua dedicação incansável à fé, à justiça e à luta pelos mais necessitados marcou profundamente nossa região e deixou um legado de amor e coragem. Que Deus o acolha em Sua glória eterna e que seu exemplo continue a inspirar a todos nós. Nossas orações e sentimentos aos familiares, amigos e à Diocese do Marajó”.

ALEPA

“Lamentamos profundamente o falecimento do Bispo Emérito do Marajó, Dom José Luís Azcona. O líder religioso tinha 84 anos e tratava um câncer no pâncreas diagnosticado este ano. Dom José Luís Azcona era um religioso espanhol da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Foi bispo da prelazia do Marajó de 1987 a 2016 e, mesmo após sua renúncia, continuava vivendo na ilha. Nossos sentimentos a parentes, amigos e a todos que admiravam o trabalho de Dom José Luís Azcona”, escreveu em uma publicação nas redes sociais. 

O advogado Jarbas Vasconcelos do Carmo, membro honorário vitalício da OAB e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará também se manifestou nas redes sociais após a morte de Dom Azcona.

“Lamento, profundamente, a morte de Dom José LuÍs Azcona, bispo emérito da Prelazia do Marajó, ocorrida hoje (20). Dom Azcona foi um baluarte na defesa dos direitos humanos das populações mais vulnerabilizadas do nosso arquipélago do Marajó, sobretudo das crianças. Suas denúncias fizeram com que sua vida fosse ameaçada inúmeras vezes, mas ele nunca se calou. Nos deixa um belo exemplo de fé, dignidade, caridade e amor ao próximo. Que siga em paz e que o seu legado continue nos guiando”, escreveu.

Imagem: Prelazia do Marajó/Reprodução

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