O Nepal atravessa uma crise política de grandes proporções: manifestações lideradas por jovens da chamada Geração Z culminaram na renúncia do primeiro-ministro Khadga Prasad Sharma Oli, após episódios de violência, repressão policial e insatisfação social acumulada. A explosão de protestos começou por causa de uma proibição do governo sobre várias redes sociais como WhatsApp, Facebook e Instagram mas logo revelou descontentamento muito mais amplo.
A suspensão das plataformas digitais foi justificada pelo governo como forma de combater notícias falsas, discurso de ódio e fraudes, mas críticos apontam que era também uma tentativa de silenciar vozes dissidentes no momento em que cresciam denúncias de corrupção e desigualdade extrema.
A hashtag #NepoKids ou #NepoBaby ganhou força entre os manifestantes: uma expressão de revolta contra filhos de políticos que exibem riqueza e privilégios enquanto a maioria da população sofre com falta de oportunidades, desemprego elevado e uma elite que parece distante da realidade cotidiana de muitos cidadãos.
Quando a tensão chegou ao seu ápice, protestos pacíficos se tornaram violentos: prédios públicos foram incendiados (inclusive o parlamento e sede do primeiro-ministro), casas de políticos foram invadidas e vandalizadas. Houve confrontos com a polícia, que teriam usado munição real em alguns casos. O número de mortes subiu para pelo menos 30 pessoas, com mais de 1.000 feridos em apenas dois dias. Entre as vítimas da onda de violência policiais, e entre os casos mais graves está o de Ravilaxmi Chitrakar, esposa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal, que sofreu queimaduras severas após sua casa ser incendiada e segue internada em estado crítico, episódio que reforça a gravidade dos ataques contra lideranças políticas.
Em meio à crise, o primeiro-ministro Oli renunciou no dia 9 de setembro de 2025. Poucos ministros também deixaram seus cargos, inclusive o ministro da segurança interna, que assumiu a responsabilidade pelas mortes ocorridas nos protestos.
Horas antes da renúncia, o governo já havia revogado a proibição das redes sociais, provavelmente na tentativa de acalmar os protestos. Mas isso não foi suficiente para manter Oli no poder.
Com a renúncia, surge a pergunta: quem assumirá o país nesse momento de transição? Dois nomes têm sido fortemente cogitados para um governo interino: Sushila Karki, ex-juíza da Suprema Corte reconhecida por sua postura contra a corrupção, e Kulman Ghising, ex-chefe da Autoridade de Eletricidade do Nepal, famoso por resolver crises de fornecimento de energia. Ambos têm apoio popular, especialmente entre os ativistas jovens.
O exército nepalês foi mobilizado nas ruas de Katmandu, com toque de recolher instaurado em vários distritos. O presidente Ram Chandra Poudel também teve papel importante: embora seja uma figura constitucional, muitos manifestantes não o veem como uma liderança que represente mudança, por considerá-lo ligado ao sistema político tradicional.
Os protestos revelam feridas profundas no Nepal: desigualdade econômica significativa (com altos índices de pobreza), desemprego jovem, sistemas políticos percebidos como corruptos ou distantes da população. A pandemia também agravou dificuldades, com fragilidades nos serviços públicos, saúde e escolas.
Apesar de ainda haver tensão prédios queimados, prisões, medo de repressão há um sentimento de que algo mudou. A Geração Z é vista como mais politizada, com maior capacidade de mobilização pelas redes sociais, exigindo responsabilidade, transparência e dignidade no poder. Muitos acreditam que este movimento poderá redefinir o sistema político nepalês, preparar eleições antecipadas ou reformulações importantes.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
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