Prestes a completar 409 anos, a cidade de Belém tem muitos motivos para celebrar. Em alguns meses, a capital paraense, também conhecida como ‘Portal da Amazônia’, vai sediar o evento mais importante de mudança climática do mundo: a reunião da cúpula climática da Organização das Nações Unidas (ONU), a Cop 30, “Conference of the Parties”. Neste edição, o evento ganhou dos paraenses o codinome de ‘Cop da Floresta’. Belém será a primeira cidade do Brasil a receber a COP.
Em paralelo, o Plano Estadual de Bioeconomia, que tem como objetivo investir, principalmente, na sociobiodiversidade e na valorização do conhecimento tradicional, visando ao desenvolvimento socioeconômico baseado em baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE), já implementou mais 55% das 114 ações previstas em seu planejamento, impactando diretamente a realidade de mais de 200 mil pessoas e estimulando a renda de aproximadamente 1.800 famílias, através de fomento das cadeias da sociobiodiversidade, rodadas de negócios, feiras da bioeconomia, entre outros.
O Plano, enquanto instrumento de política pública do Estado do Pará, já injetou mais de R$ 77 milhões em mais de 1.000 negócios que promovem a valorização do conhecimento tradicional, soluções baseadas na natureza e economia de baixas emissões de carbono.
Lançado pelo Governo do Pará oficialmente durante a COP 27, realizada no Egito, no final de 2022, o Plano é coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente (Semas) e ancorado na Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), sendo também um dos componentes do eixo desenvolvimento socioeconômico de baixo carbono do Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA).
DESENVOLVIMENTO
O Plano prevê a promoção de soluções baseadas na natureza consolidando três eixos estratégicos:
– Fomento a cadeias produtivas, que conciliam desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, produção de bioprodutos, manejo florestal sustentável e agricultura familiar;
– Reconhecimento e valorização da cultura e do conhecimento tradicionais das comunidades locais, com proteção da biodiversidade e do patrimônio genético do Estado;
– Apoio à pesquisa científica e tecnológica voltada ao desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para os desafios da bioeconomia.
“Este plano permite que os conhecimentos ancestrais dos indígenas, dos quilombolas, possam impulsionar uma indústria de biomateriais. Hoje, o plano de bioeconomia do Pará já aponta e subsidia o plano nacional de bioeconomia que está sendo confeccionado pelo governo federal. Cresceremos ainda mais com a construção do Parque de Bioeconomia da Amazônia, que entregaremos para a COP 30”, destaca o secretário de meio ambiente do Pará, Raul Protázio Romão.
INVESTIMENTOS
Dentre os eixos de sustentação do Planbio estão a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, de responsabilidade da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), que priorizam projetos que aliam inovação, sustentabilidade e inclusão social para o desenvolvimento econômico da Amazônia.
Somente em 2023, a Fapespa investiu mais de R$ 11,3 milhões em projetos alinhados à bioeconomia e voltados para a valorização do conhecimento tradicional amazônida.
Já em 2024, mais R$ 10,5 milhões foram investidos para novos projetos de ciência, tecnologia e inovação. Um montante que até 2026, deve chegar a R$ 17.645.152,25 para o complemento de projetos já contratados. Esse trabalho prevê ainda novos editais e parcerias que estão em andamento e com a previsão de que em 2025, possamos contar com um aporte de mais R$ 15 milhões.
Apenas na região do Guajará, que inclui a cidade de Belém, atualmente, são fomentados 33 projetos pela Fapespa. Desses, sete projetos são diretamente ligados a pesquisas com novos alimentos que podem ser extraídos da bioeconomia. Há também oito projetos de startups que são fomentadas por meio do programa Centelha, realizado em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
São projetos na área do desenvolvimento econômico de base social do chocolate, de conexão do campo e da cidade para uma agricultura mais sustentável, beneficiamento de sementes de açaí, negócios de bioeconomia que têm um potencial muito grande de geração de emprego e renda, geração de energia limpa e sustentável; novos bioativos para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos; validação acadêmica dos conhecimentos ancestrais, entre outros.
“De uma forma geral a Fapespa garante com pesquisas e estudos o desenvolvimento de novos setores ligados à bioeconomia. São novas indústrias verdes na área de biotecnologia, bioenergia, biorrefinarias, que vão certamente impulsionar este mercado. Além disso, a formação e a capacitação de mão de obra altamente especializada, através de quatro programas de pós-graduação incentivados pela Fapespa fomentados com bolsas de estudos no nível de mestrado, doutorado formarão os novos pesquisadores nessa área da bioeconomia”, destaca o presidente da Fundação, Marcel Botelho.
BIOTECNOLOGIA
Entre esses projetos está o “Soluções Biotecnológicas para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Um projeto inovador que busca promover soluções biotecnológicas para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. A iniciativa aposta no aproveitamento de bioinsumos, como óleos e manteigas vegetais, e na valorização de resíduos agroindustriais, integrando o conceito de biorrefinaria.
Na Amazônia, onde a economia ainda é fortemente baseada no extrativismo, a pesquisa explora a valorização de resíduos lignocelulósicos e lipídicos para a geração de produtos como gás de síntese, polímeros e catalisadores avançados. Além disso, o uso de cianobactérias e rejeitos de mineradoras está sendo investigado para a produção de novos materiais e processos.
“A valorização dos resíduos é algo que pode gerar um novo produto, um lixo, que após os estudos de tecnologias, poderemos utilizar para gerar novos produtos. Tudo pode fazer com que essa cadeia seja ainda mais circular, favorecendo um ambiente de reutilização, de sustentabilidade e acima de tudo gerando renda e emprego para as pessoas da nossa cidade e mais qualidade de vida”, explica o professor Luis Adriano, Doutor em Físico-Química e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da UFPA.
A iniciativa também fortalece a bioeconomia local ao capacitar cooperativas e comunidades na extração e beneficiamento de óleos vegetais, como o de andiroba. Resíduos de cadeias produtivas, como a do açaí, são transformados em novos produtos, ampliando a economia circular e gerando empregos na cidade.
Botelho explica que com essas ações cria-se ambiente para atrair mais investimentos com empresas mundo afora e a redução dos impactos ambientais, o uso sustentável dos recursos naturais e o desenvolvimento de produtos novos.
“Observamos que é possível fazer a utilização mais eficiente dos recursos locais como os resíduos que podem agregar valor e incentivar a economia circular na nossa cidade. Também conseguimos a redução de importações a partir do uso de produtos locais da bioeconomia. Assim, garantimos que a economia circular retorne às populações tradicionais, a partir do seu trabalho com a floresta viva, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população do Pará como um todo, mas especialmente a população de Belém, que tem muito a ganhar com a criação de novos produtos, desenvolvimento de novas estratégias de bionegocios e o estabelecimento de uma indústria baseada na floresta viva, na bioeconomia.”, avalia Botelho.
Imagens: Agência Pará de Notícias