O ministro é o relator no STF do caso do banco Master, que teve a liquidação extrajudicial determinada pelo BC em 18 de novembro.
Por Redação g1 — São Paulo
O ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli marcou para a próxima terça-feira, dia 30 de dezembro, uma acareação entre o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BrB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, informou a assessoria de imprensa do STF nesta quarta-feira (24).
Toffoli é o relator no STF do caso do banco Master, que teve a liquidação extrajudicial determinada pelo BC em 18 de novembro.
No mesmo dia, a Polícia Federal deflagrou uma operação por suspeita de fraude bilionária no banco, que levou à prisão de Vorcaro e ao afastamento de Costa do BrB. Vorcaro obteve um habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 28 de novembro.
Ao justificar a liquidação do Master, o BC citou “graves violações” às normas e problemas de liquidez da instituição.
Decisão do BC e STF
A decisão do BC, no entanto, está no centro de uma controvérsia que envolve inclusive outros órgãos em Brasília. Na sexta-feira passada, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jonathan de Jesus pediu esclarecimentos do BC sobre a fundamentação e motivação da decretação da liquidação.
Na última segunda-feira, a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, noticiou que o ministro do STF Alexandre de Moraes teria procurado o presidente do BC, Gabriel Galípolo, pelo menos quatro vezes para fazer pressão em favor do Master. A esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, tem um contrato de prestação de serviços advocatícios com o Master.
Na terça-feira, o Banco Central e Moraes informaram, em notas separadas, que as reuniões ocorreram para discutir efeitos da aplicação da Lei Magnitsky sobre o magistrado.
Em nova nota divulgada na noite de terça-feira, Moraes deu mais detalhes sobre as reuniões.
“Em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente a aquisição do BRB pelo Banco Master”, disse.
De acordo com o BC, o grupo Master representava 0,57% do ativo total e 0,55% das captações totais do sistema financeiro nacional. Com a liquidação decretada, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) estimou que pagará R$41 bilhões aos credores da instituição.
Caso Master
Fundado em 1974 como Máxima Corretora de Valores, o Banco Master passou por diversas reorganizações societárias ao longo de quase cinco décadas. O movimento ganhou novo impulso em 2019, quando Daniel Vorcaro assumiu o controle da instituição e implementou uma estratégia de crescimento acelerado.
A partir de 2022, no entanto, esse ritmo mais intenso começou a levantar questionamentos no mercado, e analistas e investidores passaram a identificar sinais de fragilidade no modelo adotado.
Isso porque a instituição passou a captar dinheiro a custos cada vez mais altos e a direcionar esses recursos para investimentos considerados mais arriscados — uma combinação que levantou dúvidas sobre a capacidade do banco de manter suas finanças equilibradas no longo prazo.
- 👉 Em termos simples, o banco pagava juros elevados para captar dinheiro e precisava assumir riscos ainda maiores para tentar sustentar esses pagamentos.
- ⚠️ Esse tipo de estratégia costuma funcionar apenas no curto prazo e aumenta o risco de desequilíbrio financeiro.
O sinal de alerta ficou ainda mais evidente com os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) oferecidos pelo Banco Master.
🔎 O que são os CDBs? São títulos de renda fixa nos quais o investidor “empresta dinheiro” ao banco e recebe juros em troca. No caso do Master, esses papéis passaram a oferecer remunerações de até 140% do CDI — um nível muito acima do normalmente praticado por instituições com situação financeira considerada sólida.
Para especialistas, ofertas tão elevadas funcionavam como um sinal de alerta. A leitura é que, sem conseguir captar dinheiro a custos menores no mercado financeiro tradicional ou junto a grandes bancos, o Master passou a recorrer de forma crescente ao investidor pessoa física para reforçar seu caixa.
E as preocupações não eram infundadas: segundo investigações da Polícia Federal, parte do dinheiro captado teria sido usada para tapar déficits operacionais e honrar compromissos antigos — um modelo que só se sustenta enquanto há entrada constante de recursos novos e mais robustos.
Paralelamente, o banco passou a buscar uma saída por meio da venda de participação societária. A principal investida ocorreu em março deste ano, quando avançaram as negociações para a venda de 58% do capital ao Banco de Brasília (BRB), em uma operação estimada em cerca de R$ 2 bilhões.
O acordo, porém, rapidamente entrou no radar de órgãos de controle: o Ministério Público do Distrito Federal e o Ministério Público de Contas levantaram questionamentos sobre a falta de transparência da operação e os potenciais riscos para os acionistas do banco público.
Mas foi antes mesmo dessa tentativa de venda que a Polícia Federal deu início às investigações sobre o banco. Desde 2024, a PF passou a acompanhar de perto a instituição e identificou indícios de que o Master teria criado artificialmente carteiras de crédito e registrado ativos de baixa — ou até inexistente — qualidade como se fossem sólidos, o que acabaria distorcendo a real situação financeira do banco.
Nesse contexto, parte das irregularidades envolvia a emissão de cerca de R$ 50 bilhões em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) sem que houvesse recursos líquidos suficientes para garantir o pagamento desses títulos no futuro.
As apurações também indicam operações suspeitas com créditos supostamente adquiridos da empresa Tirreno. Esses ativos teriam sido revendidos ao Banco de Brasília (BRB) por R$ 12,2 bilhões, sem a documentação necessária, justamente no período em que se negociava a compra do próprio Banco Master.
Diante disso, o Banco Central decidiu decretar a liquidação extrajudicial do Master em novembro. Com a medida, as atividades foram interrompidas de forma imediata, a diretoria foi afastada e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) foi acionado para indenizar correntistas e investidores, respeitando o limite legal de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Paralelamente, a Justiça determinou o bloqueio dos bens dos controladores e de ex-executivos da instituição. As investigações continuam em andamento para apurar eventuais responsabilidades nas esferas civil e criminal.
Foto: Banco Master









