Meus meninos são pródigos em aparecer com certas expressões. Provavelmente ouvem nos programas infantis que passam por nós despercebidos ou então, estimulados pela profusão de informações que recebem diariamente da TV, na escola, dos colegas, nossas e de outras pessoas no convívio.
Um dia desses, a mãe deles comentava que vira na rede social a fotografia de uns adolescentes empunhando umas espingardas, censurando tal tipo de exibição, parecendo natural para os pais que haviam tirado a fotografia e postado em seu link.
Meu filho Jordão, que ouvia a conversa, interessado se saiu com esta: “e quem são esses espingardeiros”?
Fiquei estático por alguns segundos, refletindo. Eu já ouvira o vocábulo carabineiro, que é o soldado usando carabina, tanto que no Chile seus policiais militares são conhecidos por tal expressão (“carabineros” em espanhol) – Carabineros del Chile.
Mas, voltando aos meus meninos Jordão e Israel, atualmente com 7 e 5 anos, respectivamente, disse a mãe deles que os encontrou ontem dialogando entre si e usando o verbo desavessar. Fui ao dicionário e não encontrei. Fui à rede e pesquisando encontrei tal expressão citada por algumas pessoas, com o mesmo sentido que usavam meus curumins. E o mais novo dissera: “desavessa minha camisa que eu não sei desavessar”. E o outro, então, apanhou a camisa e em seguida disse: “Pronto, desavessei”! Interessante, como bem observou a mãe, eles estavam flexionando o verbo (terminado em ar, portanto, da primeira conjugação) dentro de uma lógica formal. O que acontecera é que o menor, ao tirar sua camisa, deixara-a do avesso e queria desavessar, como bem fez seu irmão ensinando-o a colocar da forma normal. Espero que eles sejam sempre assim: desavessadores, agindo com retidão vida afora, nunca ficando ou deixando suas coisas do avesso.
Belém, 22/11/2012
Por Roberto Pimentel*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ