sexta-feira, novembro 21, 2025
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Dormir no escuro total ou manter uma luz acesa? Estudo diz o que é melhor

Trabalho analisou os impactos da luz artificial na saúde cardíaca

Gabriela Maraccini, da CNN Brasil

Na hora de dormir, há quem prefira descansar no escuro absoluto e há aqueles que preferem deixar alguma luz acesa, seja da televisão ou de um abajur. Mas a verdade é que apenas uma dessas opções é boa para a saúde. Um novo estudo sugere que a luz artificial à noite pode aumentar o risco de doenças cardíacas.

O trabalho foi apresentado nas Sessões Científicas de 2025 da Associação Americana do Coração, que aconteceu entre 7 e 10 de novembro em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, que ainda não foi publicada em revista científica, níveis elevados de luz artificial à noite foram associados ao aumento da atividade cerebral relacionada ao estresse, inflamação das artérias e maior risco de doenças cardíacas.

Para chegar a essa conclusão, o estudo analisou exames cerebrais e imagens de satélite para mostrar uma via biológica que liga a exposição à luz noturna a doenças cardíacas.

“Sabemos que fatores ambientais, como a poluição do ar e sonora, podem levar a doenças cardíacas, afetando nossos nervos e vasos sanguíneos por meio do estresse. A poluição luminosa é muito comum; no entanto, não sabemos muito sobre como ela afeta o coração”, afirma Shady Abohashem, autor sênior do estudo, em comunicado.

O trabalho avaliou 450 indivíduos sem doença cardíaca e sem câncer ativo. Os participantes passaram por um exame combinado de Tomografia por Emissão de Pósitrons/Tomografia Computadorizada (PET/CT). A quantidade de luz noturna na casa de cada pessoa foi medida, assim como os sinais de estresse no cérebro e os sinais de inflamação arterial em exames de imagem.

“A parte da tomografia computadorizada fornece detalhes da anatomia, enquanto a parte da PET revela a atividade metabólica nos tecidos. O uso conjunto das duas técnicas de imagem permite a medição da atividade de estresse cerebral e da inflamação arterial em um único exame”, explica Abohashem.

Segundo a análise, pessoas expostas a níveis elevados de luz artificial à noite apresentaram maior atividade cerebral relacionada ao estresse, inflamação dos vasos sanguíneos e maior risco de eventos cardíacos graves. Essas informações foram coletadas de prontuários médicos e avaliadas por dois cardiologistas que desconheciam os dados clínicos dos pacientes.

De acordo com o estudo, cada aumento de um desvio padrão na exposição à luz foi associado a um aumento de cerca de 35% e 22% no risco de doenças cardíacas durante períodos de acompanhamento de cinco e dez anos, respectivamente.

Durante um período de acompanhamento de 10 anos, 17% dos participantes apresentaram problemas cardíacos graves.

Além disso, esses riscos cardíacos foram maiores entre os participantes que viviam em áreas com estresse social ou ambiental adicional, como alto nível de ruído do tráfego ou menor renda no bairro.

“Descobrimos uma relação quase linear entre a luz noturna e doenças cardíacas: quanto maior a exposição à luz noturna, maior o risco. Mesmo aumentos modestos na exposição à luz noturna foram associados a maior estresse cerebral e arterial”, afirma Abohashem.

“Quando o cérebro percebe o estresse, ele ativa sinais que podem desencadear uma resposta imunológica e inflamar os vasos sanguíneos. Com o tempo, esse processo pode contribuir para o endurecimento das artérias e aumentar o risco de ataque cardíaco e derrame”, completa.

Como reduzir o risco?

Os pesquisadores sugerem que, para reduzir o impacto da luz artificial à noite, as pessoas podem manter os quartos escuros e evitar telas como TVs e dispositivos eletrônicos antes de dormir. Essa, inclusive, é uma maneira de realizar a higiene do sono e garantir uma boa noite de descanso, segundo especialistas.

A nível urbano, os autores do estudo sugerem que cidades poderiam reduzir a iluminação externa desnecessária, proteger os postes de luz ou usar luzes com sensor de movimento.

“Essas descobertas são inéditas e reforçam as evidências que sugerem que reduzir a exposição excessiva à luz artificial à noite é uma questão de saúde pública”, afirma Julio Fernandez-Mendonza, professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA. Ele não participou do estudo.

Apesar dos achados, o estudo apresenta limitações: trata-se de um estudo observacional e, portanto, não pode comprovar uma relação direta de causa e efeito entre quaisquer das variáveis analisadas. Além disso, o estudo incluiu participantes que receberam atendimento em apenas um sistema hospitalar, o que significa que o grupo de participantes pode não representar um grupo diversificado de pessoas.

O trabalho ainda será revisado por pares para ser publicado. Mais estudos podem ser necessários para confirmar os achados.

PonyWang/GettyImages

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