Obra organizada por Antônio Carlos Pimentel Jr. e ilustrada por Mandy Modesto foi apresentada na abertura da Feira, neste sábado (16), no Hangar, em Belém
Por Amanda Engelke (SECULT)
Mestre Damasceno, um dos homenageados da 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, terá sua trajetória registrada no livro “Mestre Damasceno e as Cantorias do Marajó”. A obra, organizada pelo jornalista Antônio Carlos Pimentel Jr. e ilustrada por Mandy Modesto, foi lançada neste sábado (16), às 9h, na abertura do evento, o qual acontece até 22 de agosto no Hangar, em Belém. A feira é promovida pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), e funciona diariamente das 9h às 22h, com entrada até as 21h.
O projeto integra a série de homenagens realizadas pela Secult aos homenageados desta edição. Segundo Antônio Carlos Pimentel Jr., a proposta foi contar a história de vida do quilombola de Salvaterra, no Marajó, desde a infância, passando pela criação do Búfalo-Bumbá, a participação em desfiles no carnaval do Rio de Janeiro e a carreira como compositor e mestre do carimbó e da cultura amazônica. “Texto e imagens se completam. São um retrato da simplicidade e da beleza que caracterizam o personagem”, afirmou o organizador.
Nesta gestão, desde 2019, a Secult lançou 18 publicações incluindo os livros dos homenageados da 28ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes.
Produção da obra
O processo de produção durou cerca de seis meses e teve como ponto de partida o trabalho do produtor cultural, fotógrafo e cineasta Guto Nunes, autor de uma dissertação de mestrado sobre o homenageado. Entre os relatos destacados por Pimentel, estão a perda da visão do mestre aos 19 anos e o período de esquecimento nos anos 1990, além da repercussão de suas composições no Sambódromo carioca.
Muito mais do que ilustrações
Para ilustrar o livro, Mandy Modesto buscou uma imersão completa na vida do Mestre, por meio das músicas e dos relatos da vida dele. A utilização das cores e texturas foram usadas para representar a alegria das canções dele. “O foco foi representar como o imaginário brinca com as músicas do Mestre Damasceno. As cores se misturam, as saias dançam e as fitas são como vários arco-íris, entre as estampas e as flores e o brilho da festa”, explicou a ilustradora. A escolha não foi por acaso: “As ilustrações “não estão presas à representação da realidade, porque se misturam com a imaginação e os sentimentos. Os tons fortes são inspirados na nossa diversidade afroamazônica”, concluiu a artista.
Preservação do legado
Mestre Damasceno afirmou que considera a obra uma forma de preservar sua história e apresentá-la às novas gerações. “É uma honra poder ter a oralidade materializada em um livro ilustrado, para um público muito importante: as crianças e os jovens. Assim, as que ainda vão nascer também poderão conhecer um pouco da minha trajetória”, disse. Ele acrescentou que espera que os leitores valorizem e conheçam mais sobre mestres e mestras da cultura popular. “Coloque-os sempre em evidência nas escolas, comunidades, universidades e em todos os lugares que possam ser sempre valorizados por seus saberes e fazeres com a cultura popular”, finalizou.
Com mais de 400 composições, quatro álbuns lançados e dois documentários, o mestre afirmou que sua arte é também um meio de ensino. “Eu ensino por meio das minhas músicas e do teatro popular do Búfalo-Bumbá, de forma leve. Quem tiver acesso a esse conhecimento poderá se interessar, seja ouvindo, vendo ou lendo”, declarou.
Neto de indígena e descendente de homem negro escravizado, Mestre Damasceno recentemente foi reconhecido com a Ordem do Mérito Cultural (OMC), no Rio de Janeiro. Essa que é a maior honraria pública concedida pelo Ministério da Cultura. Com mais de 50 anos de carreira, ele continua sendo uma das personalidades mais emblemáticas da cultura amazônica.
Texto: Painah Silva – Ascom Secult