Vão-se os nossos bichinhos e ficam a saudade e lições imorredouras. Millie se vai em época festiva, de balões, foguetes, fogueiras e de crianças vestidas de caipiras dançando alegres, antecipando as férias escolares. Segundo minha filha Robina, Millie chegou a este mundo em outubro de meu aniversário. Veio logo após a partida do gato “Chinho”. Não preencheu a lacuna deste e nenhum outro preencherá a sua, pois cada um teve sua importância em nossas vidas.
Quando a Bina comemorar no mês de junho seus aniversários, lembrará da Pepetinha (uma variação de pretinha, como eu a chamava). Foram dez anos de fiel companhia, humildade e amor, mesmo a seu modo, às vezes rosnando feio.
Meu filho Hermom, seu “pai”, dizia que essa era a marca de sua personalidade forte. Penso que os animais têm vida breve para que não se tornem chatos e nem inoportunos em nossas constantes mudanças de ciclos. Quando chegam em nossa infância, ao nos tornarmos adultos lá se vão eles, nos tornando mais unidos a chorar suas partidas. Parecem se contentar com o tão pouco que lhes damos: rápidos passeios e apressados segundos de afagos, ficando em casa enquanto saímos para trabalhar, passear e nos divertir, enquanto eles nos aguardam para as boas vinda, latindo e abanando a cauda. Imagino Millie chegando ao céu, sendo recepcionada por todos seus filhos que já se foram. “Papudinho” e “Sahuri” dirão: – “Ooooiii mamaaaãe, estávamos lhe esperando para brincar”.
E os outros que partiram mais cedo completarão: – “Puxa mamãe, quanta saudade, a senhora está tão bonita”. Seguem-se beijos (lambidas) no rosto. Penso também que eles não poderiam esperar tanto a sua mamãe. E não poderíamos ser egoístas em querê-la tanto tempo conosco. Os cães, gatos e outros animais de estimação, têm um ciclo entre nós. Millie, vaidosa, não quis envelhecer e resolveu partir para reencontrar-se com seus filhotes, recebendo durante os seus últimos dias de vida terrena a atenção e o carinho que lhe faltaram. Ela deve ter até rido intimamente do “Tyson”, companheiro e pai de vários filhos dela, por ter ficado no canto nos últimos dias. Foi sua doce vingança. Mas, até se divertiu, mesmo doente, deu a última canja pro “doente” Tyson. Seus restos materiais ficarão guardados no quintal, próximo daqueles que tanto a amaram. Mas sua imagem se multiplicará em nossos corações onde morará até nossos últimos dias. Até um dia querida, todos dizemos!
Belém, 07/06/2004
Texto: Roberto Pimentel
*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor. Escreve sempre neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ