O sábio rei menciona no livro escrito em seus últimos dias, Eclesiastes (pregador), de que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”. Há tempo de nascer e tempo de morrer, prosseguindo em várias oposições, finalizando de que, há tempo de amar e tempo de aborrecer, tempo de guerra e tempo de paz.
Em minha vida muitas coisas se dão quando penso que não vão acontecer. Uma dessas coisas eu abordo neste texto.

No início dos anos 60, quando eu estava com 8 anos e estudava a 3ª série do Curso Primário no então Grupo Escolar da Maracanã, atualmente Escola de Ensino Fundamental “Ezequiel Lisboa”, certo dia, eu chegando para assistir aula, no período intermediário, ao subir uma das duas escadas laterais de acesso às salas de aula e outros cômodos como, sala de professores, secretaria, salão, diretoria, encontrei, como era comum, alguns alunos de outra série superior a que eu cursava, já ao término da última aula, quando ocorrera uma prova de História ou Geografia. Eles estavam no patamar e outros nas extremidades dos degraus mais altos e comentavam sobre as questões da prova. Foi quando ouvi um dos alunos perguntar aos seus colegas ali presentes a resposta de uma questão: – qual o sistema de transporte que ligava (e continua ligando) a Cidade Baixa à Cidade Alta, em Salvador, a capital baiana? Imediatamente um deles assim se manifestou: – não sabias essa? Essa foi fácil fácil. Meu chapa (como se referia à época) é o Elevador Lacerda. E os demais colegas que ali estavam assentiram que assim tinham respondido tal questão da prova. E eu ouvi a pergunta e a respectiva resposta enquanto subia aquela escada de dez degraus. Nunca mais esqueci aquelas manifestações de alunos sobre a tal prova, ficando gravada em minha memória, tanto o conhecimento histórico-geográfico como o que falaram aqueles alunos. E o tempo passou! Dois anos depois eu vim à Belém para prosseguir na 5ª série e depois fazer os quatro anos do curso Ginasial. E o tempo continuou passando. Cheguei à adolescência, juventude, maioridade. Casei em meados da década de 70. Vieram meus dois primeiros filhos. E já neste século, no mês de abril de 2004, eu e vários colegas fizemos uma viagem de estudos de um curso de pós-graduação, para Salvador/BA e Curitiba/PR. Nos passeios que fiz na capital baiana após as palestras, conheci vários pontos históricos que não direi quais para deixar em destaque o Elevador Lacerda, construído no século XIX, quando em 1873 foi inaugurada a primeira torre de 63 metros, sendo o mais alto do mundo, e em 1930 com as duas torres, com a estrutura atual de 72 metros de altura. Depois de passar em outros pontos turísticos de Salvador, cheguei com alguns colegas aquele histórico elevador que tomei conhecimento de sua existência fazia 44 anos. Comprei o ingresso (uma tarifa de poucos centavos) e entrei no elevador com alguns de meus colegas e outras pessoas, com capacidade máxima de cerca de 30 pessoas em cada das 4 cabines. E quando o elevador desceu, em aproximadamente 30 segundos, eu fui tomado de intensa emoção, voltando às minhas doces recordações do tempo de criança e aluno de uma escola pública interiorana. Pus uma das mãos sobre meus olhos. Alguém ou alguns devem ter imaginado que fosse por tensão ou medo, mas, na verdade, foi para esconder as lágrimas de emoção por estar descendo no histórico Elevador Lacerda.
Texto: Roberto Pimentel
*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ
