quinta-feira, setembro 4, 2025
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Arte da Amazônia, arte do Brasil: III Encontro de Abridores de Letras prepara mestres ribeirinhos para itinerância nacional

Vindos de diferentes rios e portos do Pará, mais de 20 mestres ribeirinhos se reúnem em Belém no III Encontro de Abridores de Letras do Pará, no próximo dia 6 de setembro, na Casa da Redação. A programação fortalece os vínculos de uma comunidade que transforma barcos em telas flutuantes e resiste como guardiã de uma das expressões gráficas mais singulares da Amazônia — ofício que, em 2025, celebra cem anos de história.

Nesta edição, o encontro assume um propósito especial: torna-se etapa preparatória para um salto inédito. Os abridores de letras irão ministrar uma série de oficinas fora de suas comunidades, patrocinado pela CAIXA e viabilizado pela CAIXA Cultural Belém, que levará,em um inédito circuito nacional que percorrerá unidades da Caixa Cultural em Belém, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza, a partir de outubro. O projeto, batizado de “Letras que Navegam – Oficinas de Letras Amazônicas pelo Brasil”, leva o ofício amazônico para diálogo direto com novos públicos, sobretudo estudantes da rede pública.

OFICINAS E TROCAS DE SABERES

Durante o III Encontro, os abridores participam de uma oficina conduzida pela professora Marcela Castro, mestra em Análise do Discurso pela UFPA e especialista em metodologias pedagógicas. Atuando como mediadora entre a prática dos mestres e estratégias de ensino, Marcela ajudará a sistematizar formas de transmitir esse saber.

“Nosso objetivo é ajudar a estruturar metodologias, de modo que esses saberes possam alcançar mais pessoas e gerar novas oportunidades de renda e reconhecimento. Cada abridor tem um modo próprio de ensinar, e isso é riqueza. A ideia é construir juntos caminhos para que esse conhecimento seja multiplicado, garantindo que eles sejam os protagonistas dessa transmissão”, explica Marcela.

Essa preparação pedagógica permitirá que os mestres estejam aptos a atuar como educadores em diferentes contextos, ampliando sua autonomia e fortalecendo a renda por meio da realização de oficinas em escolas, centros culturais e universidades. Mais que perpetuar o ofício, o processo reafirma o lugar dos abridores como referências culturais ativas, aptas a dialogar com públicos diversos sem perder o enraizamento em seus territórios ribeirinhos.

OFÍCIO CENTENÁRIO

A prática de abrir letras remonta a 1925, quando um decreto da Capitania dos Portos tornou obrigatória a identificação pintada em barcos da Amazônia. A tradição, que começou com inscrições em preto e branco, foi se transformando a partir das trocas entre embarcações de diferentes regiões. Cada abridor desenvolveu seu próprio estilo — ou “sotaque”, como definem os mestres —, criando uma estética única no mundo. Cada embarcação que cruza rios e igarapés carrega, pintada no casco, uma narrativa coletiva de memória, identidade e pertencimento.

Cem anos mais tarde, o ofício vislumbra seu fortalecimento enquanto identidade cultural no país. Para Fernanda Martins, presidenta do Instituto Letras que Flutuam (ILQF), o III Encontro é um marco decisivo nessa trajetória, ao projetar o futuro dos abridores de letras, ampliando seu protagonismo e garantindo que as próximas gerações, dentro e fora da Amazônia, aprendam a reconhecer nas cores e curvas pintadas nos barcos um espelho da identidade brasileira.

“O Instituto Letras que Flutuam recebe com muita alegria essa parceria com a Caixa, que viabiliza a ida dos mestres para oito unidades da Caixa Cultural em diferentes capitais. É uma oportunidade única de mostrar a Amazônia e permitir que o Brasil conheça de perto esses artistas populares. Só se ama o que se conhece, só se preserva o que se conhece. Esse encontro é fundamental para prepará-los para essa itinerância, fortalecendo os laços entre eles e consolidando um coletivo que carrega um patrimônio imaterial centenário.”

Serviço:

III Encontro de Abridores de Letras do Pará~ç6 de setembro de 2025 9h às 17h

Casa da Redação, Tv. Francisco Caldeira Castelo Branco 1720, Belém (PA)

Foto: Divulgação

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