Levar educação de qualidade para os territórios indígenas é fundamental para o fortalecimento cultural, além de contribuir com a redução da evasão escolar. Esse avanço se concretiza na Escola Municipal Indígena Francisca de Oliveira Lemos Juruna, localizada na aldeia Boa Vista, no município de Vitória do Xingu, no sudoeste do Pará. A instituição acaba de se tornar a primeira do Estado a oferecer Ensino Médio regular, com turmas formadas por alunos indígenas e professores da própria comunidade.
A escola atende 128 alunos residentes na área Indígena Juruna do Km 17 e nas comunidades do entorno, matriculados desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Neste ano, 24 estudantes ingressaram nas turmas do 1º e 2º ano do novo ciclo regular.
Anteriormente, o Ensino Médio era ofertado por meio do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME), da Secretária de Estado de Educação (Seduc). Essa é a forma de organização de ensino dividida em módulos, que podem ser escolhidos e cursados individualmente pelo aluno, dentro de uma determinada carga horária. Com a chegada do ensino regular, os estudantes seguirão a sequência tradicional (1º, 2º e 3º anos), conforme o padrão do Ministério da Educação (MEC).
A iniciativa é fruto de uma articulação entre lideranças indígenas, Seduc, Secretaria Municipal de Educação de Vitória do Xingu, apoiada pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte. “Essa conquista é uma garantia de respeito e, principalmente, de fortalecimento do nosso povo Juruna. Agora temos, dentro do nosso território, um Ensino Médio regular indígena, educação tecnológica, e tudo isso, ministrado por professores da própria comunidade”, afirma Fernando Juruna, liderança da aldeia e diretor da escola.
A ampliação da oferta educacional assegura o direito à educação de qualidade e contribui para a redução da evasão escolar entre os jovens da aldeia. “Essa parceria tem sido fundamental desde os primeiros projetos, com apoio institucional e técnico da Norte Energia, o que permitiu que hoje tenhamos essa realidade”, completa a liderança.
Para Eduarda Caroline, aluna do 1º ano do Ensino Médio, esse é um momento importante para o fortalecimento da cultura do povo Juruna. “Meus primos estudaram aqui até o Ensino Fundamental. Depois, precisaram se deslocar para outras localidades onde havia Ensino Médio, porque aqui não tinha. Era algo muito necessário para a nossa comunidade. Agora, além de facilitar o acesso, isso também vai enriquecer a nossa cultura, porque, querendo ou não, quando a gente sai daqui para estudar na cidade, acaba perdendo um pouco da convivência com o nosso povo”, afirmou.

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
A inovação também faz parte da rotina dos alunos da Escola Francisca de Oliveira Lemos Juruna, que desde o ano passado contam com aulas de robótica, ministradas em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI). A iniciativa promove o aprendizado de forma interativa, estimulando o raciocínio lógico e a criatividade, aliando a tecnologia aos saberes tradicionais dos povos indígenas.
Com duas equipes, a Yudjá Tech e Juruna Bots, a escola está se preparando para o torneio regional de robótica do SESI 2025 na modalidade First Lego League. No ano passado, os grupos viajaram para participar do evento em Ananindeua e em Brasília, sendo reconhecidas como as primeiras equipes indígenas na competição.
Carine Nandaiya, de 11 anos, estudante do 6º ano e integrante da equipe Juruna Bots, vive com empolgação a experiência com a robótica na escola. “Desde que chegou aqui, eu queria muito participar. Achei que era só montar o robô, mas tem que programar, ajustar, posicionar tudo certinho. Eu sempre quis montar um desses, tipo Lego com robôs, e agora estou realizando esse sonho”, conta, animada.
Programa de Educação Escolar Indígena
Inaugurada em 2016, a Escola Francisca de Oliveira Lemos Juruna foi construída pela Norte Energia como parte dos compromissos do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI) da Usina Belo Monte. Por meio do Programa de Educação Escolar Indígena (PEEI), que integra o PBA-CI, a empresa apoia as ações desta instituição de ensino, desde 2014, com a elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos, formação de professores indígenas e dos servidores, intercâmbios, elaboração de materiais didáticos, participação em seminários, entre outras.
Como resultado de ações como os intercâmbios e a elaboração de materiais didáticos como a gramática, livros de alfabetização, dicionários, cartilhas e jogos didáticos, a língua Juruna voltou a ser falada e escrita pelos indígenas da área Indígena Juruna do Km 17, evidenciando as contribuições do programa para a valorização da identidade cultural desse povo.
O objetivo do PEEI é apoiar os órgãos educacionais na implantação de um sistema que atenda às especificidades das comunidades indígenas, promovendo a readequação dos serviços de educação para a construção de um modelo de ensino voltado aos interesses das nove etnias da área de abrangência da Usina – Arara, Parakanã, Xikrin, Araweté, Assurini, Juruna, Kuruaya, Kayapó e Xipaya.
”O PBA-CI vem apoiando a Educação Escolar Indígena no Médio Xingu desde o início de sua execução, contribuindo para reavivar as memórias históricas e fortalecer a identidade ética dos povos do Médio Xingu, por meio da valorização de suas línguas e ciências. A chegada do Ensino Médio regular na aldeia Boa Vista é resultado não apenas da infraestrutura que foi implantada pela Norte Energia, mas, principalmente, do trabalho, da articulação e do compromisso do povo Juruna com a educação e a cultura indígenas”, explica Sabrina Miranda, gerente Socioambiental do Componente Indígena da empresa.
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