Na imensa floresta amazônica, no Pará, uma área do tamanho da cidade de São Paulo guarda vestígios importantes que indicam a existência de povos indígenas isolados, ou seja, grupos que vivem sem contato com a sociedade. Esses vestígios, como um casco de tartaruga caçada à mão e uma vasilha de cerâmica, foram encontrados há cerca de três anos na terra indígena Ituna/Itatá uma região protegida por lei, mas que sofre ameaças constantes de desmatamento e garimpo ilegal.
Apesar de protegida por uma portaria federal desde 2011, que restringe o acesso à área para evitar a destruição da floresta e proteger os indígenas, Ituna/Itatá ainda precisa de uma demarcação definitiva. Organizações indígenas pedem ao governo mais expedições para encontrar novos vestígios e comprovar a presença desses povos, fortalecendo a proteção da região.
Na terra vizinha, Koatinemo, cerca de 300 indígenas Asurini vivem em casas feitas de madeira e palha. Eles já relataram encontros com esses grupos isolados, que caminham pela floresta ao redor de Ituna/Itatá. Um idoso Asurini contou ter visto um rapazinho, do tamanho de um pé de banana, observando-o atentamente um sinal claro de que esses povos vivem perto, porém sem contato direto.

O isolamento desses grupos não é por acaso: segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), esse distanciamento voluntário é uma resposta histórica à violência, doenças e exploração sofridas no passado. O Brasil reconhece 114 registros de indígenas isolados na Amazônia, mas apenas uma parte tem comprovação oficial. Muitas vezes, o próprio Estado não faz um acompanhamento sistemático dessas populações, apesar das evidências, como as encontradas em Ituna/Itatá.
Para os indígenas da região, porém, a existência desses grupos é clara e sentida no cotidiano nos sons da floresta, nas presenças percebidas, até nos cheiros. Eles defendem que essa conexão é tão importante quanto qualquer registro oficial.
O desmatamento e o garimpo ilegal são ameaças reais e presentes. Em Ituna/Itatá, a devastação chegou a níveis preocupantes, especialmente entre 2019 e 2022, quando a portaria de proteção foi suspensa. Mesmo com a proteção retomada, ainda é possível ver áreas destruídas durante sobrevoos na região.
Lideranças indígenas e ativistas pedem que o governo avance rapidamente na demarcação definitiva da terra indígena. Para eles, proteger a floresta é também proteger os povos que a mantêm viva um alerta essencial às vésperas da COP30, conferência do clima da ONU que será realizada em Belém, no Pará.
“Não basta olhar para a floresta. É preciso olhar para as pessoas que vivem nela, os povos indígenas, pois é por meio deles que a floresta ainda está de pé”, reforça Toya Manchineri, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Imagem: Reprodução/ FABAL/AFP