domingo, janeiro 12, 2025
Desde 1876

Literatura – Caixa-Preta

Tivemos um finalzinho de ano bastante conturbado na aviação comercial. Dois jatos de passageiros caíram na aterrissagem, no continente asiático. Um, uma aeronave da Embraer, que teria sido derrubado por mísseis da Rússia; o outro, um Boeing 737-800, que teria colidido com pássaros, pousou de barriga e explodiu. Nos dois acidentes, mais de duas centenas de pessoas perderam as vidas de forma trágica. Ainda teve os episódios com duas aeronaves grandes sem vítimas, felizmente, além de um pouso forçado envolvendo uma aeronave da Latam, em Brasília.

A propósito, acabo de ler “Caixa-Preta”, obra prima de Ivan Sant’Anna, que trata de três casos graves envolvendo a aviação aérea brasileira. No livro, o autor narra os fatos de forma que o leitor chega a pensar que ele estava a bordo em cada situação, tamanha a riqueza, a clareza de detalhes. Um livro muito bom, que bateu recorde de vendas em todo o Brasil e esgotou a edição.

A obra relembra o fatídico voo RG-820 do Rio de Janeiro a Paris, da extinta e saudosa Varig, que nunca chegou ao seu destino e caiu numa plantação em meio a um pouso forçado em chamas. Somente a tripulação de cabine e um único passageiro sobreviveram. A aeronave, um Boeing 707 era pilotado pelo comandante Gilberto Araújo da Silva, que foi condecorado como herói e depois se acidentou num voo com um cargueiro 707 da mesma Varig que desapareceu e até hoje não foi jamais encontrado. As investigações comprovaram que o incêndio no voo Rio-Paris foi causado por um fumante que jogou bagana de cigarro no cesto de lixo do banheiro de bordo. Inclusive, a foto dos destroços do gigante avião faz a capa da obra.

O segundo caso narrado com riqueza de detalhes por Ivan Sant’Anna, é do sequestro de um Boeing 737 da Vasp. Era o voo da ponte aérea VP 375, sob o comando do comandante Fernando Murilo de Lima e Silva

O sequestrador, o tratorista desempregado Raimundo Nonato Alves da Conceição, armado com um revólver calibre 32, culpava o então presidente José Sarney por sua situação de desemprego e desespero. Por isso, resolveu se vingar. Ele queria jogar o jato de passageiros, com todos a bordo, sobre o Palácio do Planalto, para matar o presidente da República.

Ivan Sant’Anna, com maestria, conta passo a passo dessa história digna de um filme policial de Hollyood, onde o comandante Fernando Murilo teve um papel preponderante ao ponto de fazer manobras dos tempos em que pertenceu à Força Aérea Brasileira com um gigante 737-317, fato que ainda chegou a nocautear o sequestrador, mas não a ponto de detê-lo por completo. Foram momentos de pânico. Só lendo para ver como essa história se acabou.

Por fim, a obra mostra a situação do voo Varig RG-254, em um Boeing 737-200, comandado pelo piloto Cezar Augusto Pádula Garcez, 32 anos, e que tem muito a ver com a população paraense. A aeronave sofreu um erro navegação ao decolar do Aeroporto de Marabá para o Aeroporto Internacional de Val-de-Cans, em Belém, se perdeu na noite e caiu na selva no Estado do Mato Grosso. Foram muitos dias de buscas até o aparelho ser encontrado. Ao menos 14 passageiros perderam as vidas e o comandante foi responsabilizado pelo ocorrido. Os momentos finais do voo são mostrados de forma bastante chocante pelo autor que, assim, conclui o que seriam dados das caixas pretas dos aviões envolvidos nos lamentáveis episódios. Se ainda houver algum exemplar em livraria ou sebo, vale à pena conferir.

Texto crítico: Roberto Barbosa/Imagem: Nazaré Sarmento/Ronabar

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