segunda-feira, março 10, 2025
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Dependência digital chega à terceira idade

Estudos demonstram crescimento do vício por telas entre pessoas idosas, o que endossa a necessidade de educação midiática para todas as idades

Atualmente, muito se discute sobre a necessidade de balizadores para os tempos de telas de crianças e adolescentes. Não faltam estudos que indicam os problemas gerados pelo excesso de exposição dos mais jovens aos apelos do mundo digital, sobretudo os conteúdos breves e incessantes das redes sociais. No entanto, pouco se fala sobre como os celulares têm afetado o cotidiano de pessoas idosas.

A pandemia acelerou a aproximação dos maiores de 60 anos ao mundo digital. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada em agosto de 2024, o número de idosos que acessam a internet no Brasil mais que dobrou entre 2016 e 2023, percentual que subiu de 24,7% para 66%. Embora o percentual não seja tão alto em comparação com outras faixas etárias, 86,5% desses usuários afirmam fazê-lo diariamente.

Talvez o contexto de distanciamento social tenha aumentado o interesse de pessoas desse segmento etário por ferramentas e mídias digitais, que permitiram a manutenção do contato com seus familiares e amigos, além de ter facilitado atividades cotidianas, como transações bancárias e serviços de entrega domiciliar.

Se por um lado o interesse pelas plataformas digitais aproximam idosos do seu direito à informação e de participar do complexo território que é a internet, por outro, pode reforçar situações de isolamento social e quadros depressivos. Essa é uma das considerações do Programa de Transtorno do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq), de São Paulo, a partir de estudos recentes acerca da dependência digital de idosos.

É certo que essa população é bastante diversa em hábitos culturais, relacionando-se com as novas tecnologias de forma plural. No entanto, há poucas iniciativas que apoiam o desenvolvimento de habilidades digitais e midiáticas desse público que, por isso, acaba se apropriando dos dispositivos e aplicativos de forma meramente intuitiva e insegura.

Essa situação pode se tornar ainda mais problemática quando a pessoa idosa vive só, com pouca assistência da família e pouco convívio com outras pessoas. Nesses casos, o tempo gasto diante do celular pode representar uma fonte de distração e preenchimento de lacunas socioafetivas que prejudicam a cognição e a manutenção de laços, tal como ocorre com crianças e adolescentes.

Os jovens, no entanto, têm acesso a espaços formais de educação, em que a reflexão sobre sua relação com as tecnologias é oportuna, uma vez que é prevista no currículo das redes de ensino. Além disso, muitas famílias também têm manifestado mais preocupação com os hábitos digitais dos mais novos e recorrido a estratégias para educar, em âmbito doméstico, para uma relação saudável com os celulares.

Para os idosos, por outro lado, há poucos espaços dedicados à qualificação de sua experiência digital. Iniciativas importantes como o programa USP 60+ e a organização

Olabi, do Rio de Janeiro, buscam envolvê-las em atividades educativas que desmistificam e problematizam os usos e apropriações das tecnologias, discutindo suas consequências positivas e negativas para a sociedade.

Mas certamente ainda são poucas as pessoas com mais de 60 anos que têm a oportunidade de refletir sobre como se relacionam com o mundo digital e, principalmente, o que os hábitos digitais, sobretudo os mais compulsivos, podem encobrir. Assim como as famílias se preocupam com o tempo que os mais jovens dedicam aos dispositivos móveis, igualmente precisam dar atenção aos mais velhos nessa questão, caso percebam situações de dependência digital. Para isso, porém, também precisam de apoio, para além de sensibilidade e boa vontade.

É preciso, portanto, reconhecer não apenas os mais jovens como sujeitos de direito à tecnologia. Participar do mundo conectado vai além de se fazer presente nas ambiências digitais. Por isso, a qualificação da inclusão digital está diretamente relacionada à expansão das ofertas de educação midiática e digital para todas as idades.

Foto Reprodução: .freepik.com

Reprodução: Folha de São Paulo

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