Em um mundo cada vez mais apressado, a história de Odileta Pansani de Haro e Paschoal de Haro é um sopro de esperança, delicadeza e amor verdadeiro. Unidos por 74 anos de casamento e 77 de convivência, o casal de Votuporanga (SP) faleceu no mesmo dia, com apenas dez horas de diferença. Ela aos 92, ele aos 94. Um laço que começou ainda na juventude e que nem mesmo a morte conseguiu separar.
Tudo começou com um encontro despretensioso na Praça da Matriz, no coração da cidade. Paschoal, então com 18 anos, distraía-se rodando uma correntinha quando ela, por acidente ou destino caiu no braço de Odileta, de 15 anos. Um olhar, um sorriso e, desde então, uma história de amor que atravessaria décadas.
O namoro floresceu entre palavras: foram dezenas de cartas trocadas. Em 1947, Paschoal escreveu:
“Desejaria viver ao teu lado, adivinhar os teus desejos, fazer-te feliz porque só assim eu seria feliz também.”
Odileta, com a leveza de uma jovem apaixonada, respondeu em 1950 chamando-o de “meu brotinho dourado” e confessando:
“Já estou pensando como devo fazer para aguentar ficar um mês longe de você.”

O casamento foi celebrado em 15 de abril de 1951, na fazenda dos pais dela, no mesmo dia em que Paschoal completava 20 anos. Juntos, tiveram seis filhos a mais velha, Sílvia, faleceu em 1997, aos 33 anos. Durante décadas, mantiveram o hábito de reunir filhos, netos e bisnetos aos domingos, especialmente no dia 15 de abril, data simbólica que também marcou o nascimento da primeira neta e da primeira bisneta do casal. Um ciclo de amor que se renova.
Mesmo com o passar dos anos, as palavras doces nunca deixaram de existir. Em 2009, Paschoal escreveu mais uma carta para a amada, celebrando os 58 anos de união com gratidão e carinho:
“Querida companheira, meu anjo protetor, te agradeço de coração pelos 58 anos juntos. Que Jesus nos abençoe.”
Aos 92 anos, Odileta enfrentava Alzheimer havia alguns anos. Já Paschoal, aos 94, foi diagnosticado com câncer no intestino em 2023. O tratamento era paliativo, e sua maior preocupação era o impacto que sua partida causaria em sua companheira. Como em um roteiro de cinema, o desejo que tantas vezes manifestou em oração foi atendido: morreram no mesmo dia, no mesmo quarto da casa onde viveram. Ela faleceu às 7h da manhã de 17 de abril; ele, às 17h.
Agora, a família planeja eternizar as cartas em um livro. Uma homenagem que perpetua não só a memória deles, mas também a mensagem de que o amor verdadeiro aquele que resiste ao tempo ainda existe.
A história comoveu familiares e viralizou nas redes sociais ao lembrar o enredo do filme Diário de uma Paixão. Segundo o genro, Luciano Leal, as cartas deixadas pelo casal são mais do que lembranças: são uma “escritura sagrada” do amor puro que viveram.

“Elas simbolizam que o amor, quando é belo e cristalino, sobrevive ao tempo, à dor e até à morte. Hoje, essas cartas não são um consolo, mas uma prova viva de que o amor sempre vence.”
Odileta e Paschoal deixaram cinco filhos, seis netos e quatro bisnetos. Foram sepultados juntos, como viveram: de mãos dadas com o amor
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
Imagem: Divulgação