O paraense Mestre Damasceno, um dos maiores nomes da cultura marajoara, vive um momento histórico e emocionante em sua trajetória. Aos 61 anos, o cantor, compositor e guardião do carimbó foi homenageado com a Ordem do Mérito Cultural (OMC), a mais alta condecoração pública concedida pelo Ministério da Cultura. A cerimônia aconteceu no dia 20 de maio, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Lula e da ministra Margareth Menezes.
Cego desde os 19 anos, Damasceno superou desafios com coragem e talento. Em mais de cinco décadas de carreira, ele compôs mais de 400 músicas, lançou seis álbuns e se tornou um verdadeiro embaixador da cultura amazônica. É dele a criação do tradicional Búfalo-Bumbá de Salvaterra, uma manifestação que mistura teatro popular, encantaria, cultura quilombola e toda a força simbólica da Ilha do Marajó.
“Essa honraria é um reconhecimento à luta pela cultura marajoara. Carrego comigo a força dos meus ancestrais quilombolas”, declarou o artista, que também será homenageado na 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, em agosto.

A medalha de Comendador da Ordem do Mérito Cultural foi entregue pessoalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em reconhecimento à trajetória de Damasceno na valorização das tradições populares do Pará. A comenda celebra sua contribuição ao carimbó, à poesia oral, às toadas de boi e à criação do Búfalo-Bumbá manifestação junina que funde o auto do boi com elementos do imaginário amazônico e da identidade quilombola marajoara.
Em suas redes sociais, o artista destacou: “Sabemos o quanto a cultura é um instrumento de inclusão e igualdade, de fortalecimento de identidades e de preservação do nosso território. Viva os Mestres e Mestras do Estado do Pará! Viva o carimbó, o Boi-Bumbá, os Abridores de Letras, os Artesãos, Ceramistas, Guitarreiros, mestres/as de Cordões de Pássaros e toda a nossa gente que, apesar das dificuldades, segue fazendo seu ofício.”
Em 2023, ao completar 50 anos de atuação cultural, Damasceno foi homenageado por diversas instituições. Ganhou o título de Cidadão de Belém, a Medalha Mestre Verequete, a Comenda Eneida de Moraes e teve sua obra reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Pará. No mesmo ano, foi homenageado no Carnaval pela Paraíso do Tuiuti, com o carro alegórico “Bufódromo”. Já em fevereiro de 2024, tornou-se membro fundador da Academia Marajoara de Letras, ocupando a cadeira dedicada à poesia oral.
Mas os ventos da cultura continuam soprando forte na vida do mestre. Na mesma semana em que foi condecorado, Damasceno desembarcou no Rio de Janeiro para outro feito inédito: ele é um dos compositores do samba-enredo da Acadêmicos do Grande Rio para o Carnaval 2025. A obra vencedora, feita em parceria com Ailson Picanço, Davidson Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes, foi escolhida para embalar o enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”.
O samba mergulha no universo místico da encantaria amazônica uma herança espiritual passada de geração em geração nos terreiros da floresta. A história gira em torno de três princesas turcas encantadas em alto-mar que cruzam o espelho do encante, transformando-se em entidades da natureza ao adentrar o coração da Amazônia. Para dar vida a essa narrativa na Sapucaí, artistas paraenses foram escolhidas para representar as figuras místicas: Fafá de Belém será a princesa Mariana (a arara cantadeira), Dira Paes viverá Herondina (a onça), e Naieme encarnará Jarina (a jiboia e a borboleta azul).

“Só de saber que o nosso samba foi classificado, foi campeão e vai pra avenida, é muita emoção. A gente quer mostrar, tanto para o povo do Rio quanto para o nosso povo, que a nossa cultura tem força, tem beleza, tem história”, disse Damasceno, emocionado.
A conquista foi celebrada pela Secretaria de Cultura do Pará como um marco na valorização das artes do Norte do Brasil. Além do samba e das homenagens, Damasceno ainda lidera o Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara, promove o Festival de Boi-Bumbá de Salvaterra e terá sua vida transformada em documentário com estreia prevista para julho de 2025.
Entre honrarias, sambas e encantarias, Mestre Damasceno segue firmando seu nome como símbolo da resistência, da ancestralidade e da potência cultural amazônica. Ele não apenas canta o Pará ele faz o Brasil inteiro ouvir.
Por: Thays Garcia/ A província do Pará
Imagem: Divulgação