Muitas pessoas não conhecem os riscos, limitações e truques publicitários por trás dos suplementos que prometem quase tudo. Aqui estão cinco dicas de uma nutricionista sobre o consumo de suplementos alimentares.
Por BBC
Por Rachel Woods/The Conversation*
De colágeno em pó até gomas para imunidade, os suplementos alimentares estão em toda parte: nos feeds do Instagram, nas prateleiras dos supermercados e nos nossos armários de banheiro.
Eles prometem melhorar o sono, deixar a pele brilhante, aumentar a concentração ou até prolongar a nossa vida. São comercializados como soluções rápidas para as angústias da saúde moderna.
Sou nutricionista e as pessoas me perguntam frequentemente se vale a pena tomar suplementos. Minha resposta é: depende.
Pelas afirmações que circulam na internet, poderíamos pensar que eles podem curar quase tudo.
Alguns suplementos realmente desempenham papel importante em certas circunstâncias. Mas eles, muitas vezes, são mal compreendidos e exageradamente comercializados.
Muitas pessoas não conhecem os riscos, as limitações e os truques publicitários por trás dos rótulos.
Aqui estão cinco pontos que eu gostaria que mais pessoas conhecessem antes de comprar suplementos alimentares.
1. Comece com os alimentos, não com os suplementos
Se você não consegue um nutriente na alimentação, o suplemento é quase sempre a melhor opção.
A Agência de Padrões Alimentícios do Reino Unido define suplemento alimentar como produto “destinado a corrigir deficiências nutricionais, manter a ingestão adequada de certos nutrientes ou sustentar funções fisiológicas específicas”.
Em outras palavras, os suplementos existem para ajudar na sua dieta, não para substituir alimentos reais.
Os alimentos integrais oferecem muito mais do que nutrientes isolados. Peixes oleosos como o salmão, por exemplo, não fornecem apenas as gorduras ômega-3, mas também proteínas, vitamina D, selênio e outros compostos benéficos.
Eles interagem de formas que não compreendemos totalmente e é difícil, quando não impossível, replicar seus efeitos combinados na forma de suplemento alimentar.
Os cientistas tentaram isolar os “ingredientes ativos” nas frutas, legumes e verduras para recriar seus benefícios em cápsulas, sem sucesso. Aparentemente, as vantagens vêm dos alimentos completos, não dos compostos separados.

Mas é preciso ressaltar que existem circunstâncias em que os suplementos são necessários. O ácido fólico, por exemplo, é recomendado antes e durante a gravidez para reduzir o risco de defeitos do tubo neural no feto.
A vitamina D é aconselhada durante os meses de inverno, quando a luz do sol é limitada. E as pessoas que seguem alimentação vegana podem precisar de vitamina B12, que é encontrada principalmente em produtos animais.
2. Você pode não perceber que está tomando demais
É muito mais fácil tomar uma quantidade excessiva de uma substância com suplementos do que consumindo alimentos.
A curto prazo, isso pode gerar efeitos colaterais como náuseas ou diarreias. Mas o excesso de uso a longo prazo pode trazer sérias consequências.
Muitas pessoas passam anos tomando suplementos sem saber se eles são necessários ou qual quantidade é excessiva.
Vitaminas solúveis em gorduras, como A, D, E e K, são armazenadas no corpo e não excretadas. O excesso de vitamina D, por exemplo, pode gerar acúmulo de cálcio, o que pode prejudicar os rins e o coração, além de enfraquecer os ossos.
Por outro lado, altas doses de vitamina A podem causar lesões do fígado, defeitos de nascimento em caso de gravidez e redução da densidade óssea.
Mesmo as vitaminas solúveis em água podem causar problemas. O uso excessivo a longo prazo de vitamina B6, por exemplo, foi relacionado a lesões nervosas.
Como a maioria das pessoas não verifica regularmente seus níveis de nutrientes no sangue, elas muitas vezes só percebem que algo está errado quando surgem os sintomas.
3. Não confie nos conselhos das redes sociais
Basta passar alguns minutos na internet e provavelmente veremos suplementos alimentares sendo promovidos como “fortalecedores da imunidade”, “naturais” ou “desintoxicantes”.
Estas palavras podem parecer convincentes, mas não têm definição científica. Elas são termos de marketing.
A Agência de Padrões Alimentícios britânica deixa claro que os suplementos alimentares “não são produtos medicinais” e “não podem exercer ação farmacológica, imunológica ou metabólica”. Ainda assim, muitas afirmações encontradas online sugerem o contrário.
Em inglês, este tipo de publicidade costuma ser chamado de healthwashing. Ele dá a impressão de que os suplementos têm poderes que eles não têm.
Os suplementos alimentares não estão sujeitos à mesma regulamentação e exigência de testes dos medicamentos. Ou seja, eles podem ser mal formulados, sua dosagem pode estar errada ou podem ser mal rotulados.
A Agência de Padrões de Publicidade do Reino Unido (ASA, na sigla em inglês) definiu regras sobre a publicidade de produtos de saúde, incluindo nas redes sociais. Mas sua execução é difícil, especialmente com o marketing de influenciadores e esquemas de afiliados.
Os esquemas de marketing multinível (MMN), ou marketing de rede, aumentam ainda mais a complexidade da questão. Vendedores, muitas vezes sem formação médica, promovem produtos usando experiências pessoais, em vez de evidências científicas.
A ASA fornece orientações específicas sobre como os vendedores de MMN podem anunciar suplementos alimentares. Mas estas regras são frequentemente ignoradas, raramente fiscalizadas e, muitas vezes, são beneficiadas por falhas nas regulamentações.
Tudo isso faz com que surjam afirmações realmente espantosas.
4. A indústria de suplementos se preocupa mais com as vendas que com a ciência
O mercado global de suplementos alimentares soma mais de 100 bilhões de libras (cerca de R$ 731 bilhões).
Como qualquer outra indústria importante, seu objetivo é crescer e dar lucro. E isso influencia como os produtos são desenvolvidos e comercializados.
Se um suplemento realmente funcionasse, ele seria recomendado pelos médicos, não pelos influenciadores.
Alguns suplementos são sustentados por evidências, mas eles costumam ser os menos chamativos, como ferro e vitamina D.
Muitos outros são anunciados com afirmações que vão muito além do que mostram as pesquisas e, muitas vezes, por pessoas sem formação em nutrição ou assistência médica.
5. Alguns suplementos não são seguros para todos
O fato de estar à venda não significa que um suplemento alimentar é seguro. Até produtos rotulados como “naturais” podem interagir com remédios ou causar danos.
A erva-de-são-joão, que às vezes é usada para tratamento de depressão, pode ter perigosos efeitos colaterais se for tomada junto com certos medicamentos antidepressivos, contraceptivos e de controle da pressão alta.
A vitamina K também pode interferir com medicamentos anticoagulantes, como a varfarina. E o ferro em altas dosagens pode causar problemas digestivos e afetar a forma de absorção de alguns antibióticos.
Muitos suplementos alimentares não foram testados para determinar sua segurança durante a gravidez. Sabe-se que outros, como a vitamina A em alta dosagem, são prejudiciais na gravidez e podem ser passadas para o leite materno.
Se você estiver grávida, amamentando, tomando medicações ou cuidando de uma condição de saúde, converse com um farmacêutico, médico ou nutricionista antes de começar a tomar um novo suplemento.
Os suplementos podem melhorar a saúde quando há uma necessidade específica, mas eles não são uma panaceia.
Antes de gastar dinheiro em um produto com grandes promessas, pergunte-se: eu realmente preciso disso ou seria melhor gastar o dinheiro com alimentos nutritivos?
* Rachel Woods é professora de Fisiologia da Universidade de Lincoln, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
Foto: Getty Images