Decisão ameaça décadas de avanços na saúde global e coloca milhões de vidas em risco, especialmente de crianças
Uma decisão drástica tomada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode custar a vida de mais de 14 milhões de pessoas até 2030, incluindo 4,5 milhões de crianças com menos de cinco anos. A estimativa vem de um estudo publicado pela prestigiada revista científica The Lancet e foi apresentada durante a maior conferência da ONU sobre ajuda internacional em uma década, realizada em Sevilha, na Espanha.
O alerta é grave: os cortes representam um impacto comparável ao de uma pandemia global ou de um grande conflito armado. Os pesquisadores analisaram dados de 133 países e concluíram que o desmonte da ajuda humanitária promovido durante o governo Trump pode reverter décadas de avanços em saúde pública e combate à fome em países de baixa e média renda.
Desde março, mais de 80% dos programas da USAID a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional foram suspensos. O governo alegou “uso indevido de recursos” e motivação “ideológica” como justificativas para os cortes. No entanto, especialistas apontam que os prejuízos vão muito além da política: o impacto é humanitário, direto e devastador.
Segundo o estudo, entre 2001 e 2021, a atuação da USAID ajudou a evitar cerca de 91 milhões de mortes no mundo. Com o corte de 83% nos recursos e a paralisação em massa dos programas, o cenário agora é de colapso iminente. Em países como o Quênia, por exemplo, os refugiados já enfrentam a redução drástica nas rações de alimentos, mergulhando milhares de famílias na fome e na desnutrição grave.
Embora cerca de mil projetos ainda estejam ativos, agora sob o controle direto do Departamento de Estado norte-americano, agências da ONU e organizações humanitárias em campo alertam: a resposta emergencial é insuficiente, e a situação é crítica.
“Estamos diante de uma possível catástrofe silenciosa, que mata sem manchetes, mas com consequências profundas e duradouras”, declarou um dos autores do estudo.
O impacto desses cortes não é imediato apenas: ele ameaça toda uma geração. Especialistas estimam que, se mantida essa política de retração, muitos países poderão regredir a níveis de saúde pública semelhantes aos dos anos 1990 perdendo duas décadas de progresso em saneamento, vacinação, nutrição infantil e prevenção de epidemias.
Por: Thays Garcia/ A Província do Pará
Imagem: Divulgação REUTERS