quinta-feira, julho 10, 2025
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Doar Sangue: um gesto vital para crianças em tratamento de câncer

O Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), aqui em Belém, está destacando a importância da doação de sangue contínua. É um ato de pura solidariedade e amor ao próximo que faz uma diferença enorme

Nos corredores do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém, a doação de sangue é mais que um ato de solidariedade; é um recurso terapêutico vital para crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer. Especialmente para aqueles diagnosticados com leucemia, as transfusões são frequentemente a única forma de permitir a continuidade da quimioterapia e combater os efeitos colaterais que ameaçam suas vidas.

A Urgência das Transfusões no Hoiol
A Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hoiol realiza cerca de 300 transfusões por mês. A maioria dessas transfusões é destinada a pacientes que sofrem de um dos efeitos mais devastadores da doença e do tratamento: a redução das células sanguíneas. Nesses casos, o corpo para de produzir glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas — células essenciais para o transporte de oxigênio, defesa contra infecções e coagulação.

“Nas leucemias, uma proliferação anormal de células malignas, os chamados blastos, ocupam o espaço da medula e inibem a produção das células boas”, explica a médica hematologista e responsável técnica pela Agência Transfusional do Hoiol, Iê Fernandez. Ela complementa: “A quimioterapia, embora fundamental para destruir as células doentes, também atinge células saudáveis, causando uma redução ainda maior das células do sangue. Por isso, as transfusões são indispensáveis para que o tratamento possa continuar.”

Cada doação de sangue pode gerar até quatro hemocomponentes distintos: concentrado de hemácias, plaquetas, plasma e crioprecipitado, todos potencialmente necessários em diferentes fases do tratamento. As transfusões mais comuns são de hemácias para combater a anemia e de plaquetas, cruciais em procedimentos cirúrgicos e no controle de hemorragias.

O Desafio da Doação e o Impacto Humano
Manter os estoques de sangue é um desafio constante. Apesar de o sangue não ter substituto e não poder ser fabricado, a cultura da doação voluntária ainda não está enraizada na sociedade brasileira. “É mais fácil doar dinheiro do que sangue”, desabafa a hematologista Iê Fernandez. “Sangue não se compra, não está na prateleira. Ele depende exclusivamente da vontade da pessoa de fazer a doação.”

Essa ausência de doadores regulares cria um desafio logístico e emocional. Há casos comoventes de crianças que, conscientes da urgência, usam as redes sociais para pedir ajuda. “É comovente ver uma criança pedindo doações para sobreviver. Quando ela fala, é impossível não ouvir. É a vida dela em jogo”, afirma Iê Fernandez.

A necessidade de sensibilização é contínua. Estima-se que se apenas 3% a 5% da população doasse regularmente, não haveria escassez. No entanto, o índice brasileiro gira em torno de 1,8%. Além da doação, o uso racional do sangue é crucial. Conforme destaca a coordenadora da Agência Transfusional do Hoiol, os hemocomponentes só são utilizados em situações de real necessidade, após avaliação criteriosa. “Não basta ter sangue disponível, é preciso usá-lo com responsabilidade. É um recurso precioso demais para ser desperdiçado”, reforça a especialista.

A coleta de sangue no estado é centralizada na Fundação Hemopa, que adota protocolos rigorosos de triagem, controle de qualidade e segurança. A equação é simples, mas impactante: uma doação pode salvar até quatro vidas. Para uma criança com câncer, isso pode significar a chance de brincar de novo, voltar à escola ou, simplesmente, continuar. “Enquanto para muitos doar sangue é uma escolha; para elas, é sinônimo de esperança”, reitera o hospital.

Histórias que Inspiram: A Luta pela Vida
O biomédico da Agência Transfusional, Matheus Bernardes, recorda uma das histórias mais emocionantes vivenciadas no hospital. Um menino diagnosticado com leucemia aguda precisava de transfusões urgentes e constantes, mas possuía um tipo sanguíneo O negativo, extremamente raro. “Vivemos dias de aflição, buscando doadores, acionando bancos de sangue em outras regiões, enfrentando distâncias, burocracias e o medo de não conseguir a tempo. Mas conseguimos. Um por um, os hemocomponentes foram chegando. Cada bolsa era recebida com alívio, como se fosse uma carta de vida”, relata Matheus. “E aquele menino, tão frágil e ao mesmo tempo tão forte, foi resistindo. A cada transfusão, os olhos voltavam a brilhar. A cada gesto da equipe, ele nos mostrava que queria viver.”

Matheus finaliza: “E ele viveu, venceu a pior fase. Ver sua recuperação foi como presenciar um milagre construído a muitas mãos. Pela ciência, pela solidariedade e pela coragem silenciosa que só uma criança enfrentando a leucemia aguda consegue ter. Histórias como essa nos lembram que o sangue transfundido carrega mais do que células: carrega esperança. E nos mostra, todos os dias, que doar sangue é doar a chance da vida continuar para alguém.”

A Experiência de uma Mãe: O Caso de Maria Beatriz
A funcionária pública Wanna Celli, de 35 anos, mãe de Maria Beatriz, de apenas 1 ano e 1 mês, sabe bem a importância de cada bolsa de sangue. Maria foi diagnosticada com Leucemia Mieloide Aguda (LMA) em maio passado, após exames de rotina que detectaram plaquetas baixas, anemia e hemoglobina em níveis preocupantes, além de manchas roxas e inchaço nos pés.

Após o diagnóstico em um hospital privado, a família foi encaminhada ao Hoiol. Desde então, a família, que é de Bragança, está em Belém. Maria já concluiu o primeiro ciclo de quimioterapia e está em recuperação. Desde a internação, a bebê recebeu quatro transfusões de plaquetas e cerca de sete a oito bolsas de sangue.

A necessidade constante de hemocomponentes levou a família a iniciar uma campanha de doação. “Começamos as campanhas imediatamente e recebemos apoio massivo da população bragantina. Pessoas que nem conhecíamos fizeram questão de doar e enviar os comprovantes. Amigos, familiares e até desconhecidos se uniram por ela”, conta Wanna.

Wanna faz questão de reforçar a importância do gesto: “Aqui no hospital, lutamos pela nossa filha, mas também por outras crianças. Conheci muitas outras Marias e outras Anas aqui. Sempre peço que doem não só pela Maria, mas por todas. É um gesto de amor, de solidariedade. É simples e salva vidas.”

Serviço:

Quem quiser doar sangue para os pacientes do Hoiol, basta  comparecer a qualquer unidade de coleta do Hemopa e informar o código: 1766. A doação de sangue é um processo rápido e seguro. Para doar, é necessário ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 50 kg, estar em boas condições de saúde e bem alimentado. É obrigatório apresentar um documento oficial com foto e, no caso de menores de 18 anos, é preciso estar acompanhado por um responsável legal. Mais informações podem ser obtidas nas unidades de atendimento do Hemopa ou nos canais oficiais da Fundação.

Credenciado como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), o Hoiol é referência na região amazônica no diagnóstico e tratamento especializado do câncer infantojuvenil, na faixa etária entre 0 e 19 anos. Atualmente a unidade atende mais de 900 pacientes oriundos dos 144 municípios paraenses e estados vizinhos. 

Foto: Jaíne Oliveira|AscomHoiol

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