Educadora compara cenário atual com sua própria experiência como aluna nas décadas passadas
André Nicolau, da CNN Brasil
Desde que ingressou na rede estadual de ensino de São Paulo em 2010, a professora Luanda Julião tem sido testemunha e agente de profundas transformações no ambiente escolar, especialmente no combate ao racismo e à valorização das culturas afro-brasileira e africana.
Em uma análise otimista, ela compara o cenário atual com sua própria experiência como aluna nas décadas passadas, destacando a importância de um currículo mais inclusivo e da formação continuada de educadores.
Combate ao racismo nas escolas
A educadora ressalta a evolução curricular como um dos pilares dessa mudança. “Ingressei na rede estadual de São Paulo em fevereiro de 2010 e de lá pra cá muitas coisas boas em relação ao combate ao racismo nas escolas,” afirma.
Segundo ela, a rede possui agora “um currículo escolar que não é mais eurocêntrico, que traz a história e a cultura dos povos africanos, dos povos originários e valoriza a cultura afro-brasileira.”
Desafios do passado a um presente mais positivo
Ao refletir sobre a própria trajetória, a professora conta que sua experiência profissional a motivou a aprofundar o tema, escrevendo artigos sobre a temática e sua aplicação nas escolas. Para ela, o contraste é nítido: “Apesar dos desafios, o cenário atual é muito mais positivo do que o que vivenciou na escola pública dos anos 80 e 90, quando o racismo não era discutido no ambiente escolar.”
No entanto, ela aponta que a jornada ainda enfrenta resistências. Um dos desafios é a persistente visão de que o debate sobre raça e cultura deve ser restrito: “Entre os desafios também está a visão, ainda presente em algumas unidades, de que o tema deve ser tratado apenas em novembro,” lamenta, referindo-se ao Mês da Consciência Negra.
Inspiração e autoestima
Mais do que apenas educar, a professora vê seu papel como um farol para as novas gerações, especialmente para as meninas negras. “Acho que de alguma forma acabo inspirando outras meninas negras a estudarem, a sonharem, a acreditarem nos seus sonhos e a acreditar que vivemos num país em que temos o direito de sonhar e realizar sonhos,” expressa com orgulho.
As mudanças observadas por ela vão além das aulas de história ou sociologia. “Professores de outras áreas, como matemática e física, valorizando o conhecimento (durante muito tempo apagado) dos povos africanos e originários da América. Cientistas negras estão sendo apresentadas aos alunos“, detalha, mostrando a transversalidade do tema.
Formação de professores e projetos marcantes
A formação continuada dos educadores é um ponto essencial na aplicação das práticas antirracistas em sala de aula. Ela destaca pontos como a “trilha antirracista”, quando amplamente trabalhada, torna-se um recurso que “atinge diretamente muitos professores da rede.”
Ao falar sobre o impacto direto na vida dos alunos, a educadora se emociona com os resultados em sala de aula. “E como professora na sala de aula a experiência mais marcante é você presenciar, ver o quanto os alunos trabalham a autoestima deles quando a cultura negra, afro brasileira é valorizada.”
Um projeto de destaque foi a eletiva sobre a História da África que aplicou em 2019, em uma escola da Mooca, zona leste da capital paulista. A experiência, segundo ela, valeu tanto para os estudantes como para si mesma: “Acho que aprendi mais com os alunos que com os livros. Eles levaram um moçambicano pra falar de Moçambique, desconstruindo todos os estereótipos que ainda insistem em rodear nossos pensamentos.”
• Tânia Rêgo/Agência Brasil








