O Preamar da Consciência Negra, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult), começou nesta quarta-feira, 13, no Arquivo Público do Pará (Apep). A abertura da exposição “Festas, devoções e celebrações negras nos documentos do Arquivo Público” marcou o início da programação.
A mostra no APEP reúne uma série de documentos raros que testemunham a relevância das matrizes africanas em torno da formação étnica e cultural da cidade de Belém. “A ideia da exposição é revisitar documentos que mostrem essa contribuição negra para formação da cultura paraense, e mostrar também o quanto nós avançamos enquanto sociedade. Eram manifestações proibidas pelo próprio estado, inclusive com pena de multas, prisões, por exemplo, carimbó, capoeira, batuque e hoje são considerados patrimônios imateriais do estado e brasileiro. Ainda precisamos de mais mudanças, temos muito para avançar ainda, mais valorização da cultura negra, justamente para combater o racismo e reafirmar essas manifestações como uma parte fundamental da formação da sociedade brasileira”. Afirma o diretor do Apep, Leonardo Torii.
“Eu achei de suma importância trazer esse debate a público, democratizar um pouco mais desse conhecimento e também trazer essa participação do povo negro na formação de Belém. Normalmente na educação formal, do ensino fundamental e médio, nós não temos esse conhecimento. Então, trazer essa documentação para população em geral também permite uma nova perspectiva sobre a nossa cidade”, diz a acadêmica em história da Universidade do Estado do Pará, Lizandra Costa.
Os registros expostos apresentam organizações como as Associações Abolicionistas, com destaque para o estatuto da Associação Philantrópica de Emancipação de Escravos de 1869 e correspondências da Sociedade de Beneficência Vinte Oito de Julho de 1870 com o Presidente da Província. Além disso, mostram documentos de Irmandades Religiosas como a Carta de Compromisso da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia da cidade de Belém, onde há menção do ingresso de negros escravizados e libertos. Diversos outros grupos e manifestações culturais estão em exibição.
“Aqui no Arquivo também tem documentação quilombola, da região do Quilombo do Jambuaçu, por exemplo. Eu já vi aqui documentação dos próprios escravizados, quando conseguiram mais ou menos alguma independência, comprando alguns lotes pequenos de terra. Portanto, é uma documentação muito importante para saber que essas pessoas também tiveram uma movimentação, independente do que eles estavam sofrendo”, diz a historiadora frequentadora do Apep, Ana Luz.
A exposição permanece aberta até 13 de dezembro, de maneira gratuita. Na próxima semana o Arquivo Público promove uma série de palestras com técnicos do próprio Apep e professores convidados. O Preamar da Consciência Negra também conta com uma extensa programação de oficinas, apresentações culturais, lançamento de livro, entre outras atividades. Confira a programação completa no site e nas redes sociais da Secult.
Texto: Juliana Amaral, Ascom Secult
Fonte: Agência Pará/Foto: Divulgação